sexta-feira, abril 02, 2004

A minha visão da AG

Como devem ter depreendido da "descrição" que fiz da AG de 3ª feira, aquela foi seguida com extrema atenção por mim, até porque é a segunda AG do Belenenses em que participo.

Devo começar por dizer que fiquei surpreendido, agradavelmente surpreendido, com o elevado nível patenteado por todos os intervenientes. Esperava muito mais "picardias" e "ataques", e menos debate são e frutuoso. Para além disso, o próprio espírito altamente democrático patenteado por todos, permitindo uma salutar discussão e troca de ideias directas, e a amplitude de debate proporcionada pela Direcção, deixaram-me também agradavelmente surpreendido.

Sendo uma AG do Clube Futebol "Os Belenenses", e não da SAD, pensei claramente que a direcção se escusaria, e com toda a legitimidade, a debater assuntos do foro exclusivo da participada. Mas não foi isso que sucedeu, melhor ou pior quase todas as questões foram esclarecidas, e as que o não foram fiquei com a nítida sensação que foi por pura "distracção" e sem qualquer intenção por trás.

Apraz-me registar que as intervenções vieram essencialmente de adeptos jovens, manifestamente empenhados activamente na vida do clube e com vontade de elogiar a obra feita e apontar aqueles que no seu entender são os erros patenteados. Nesse aspecto, e outros intervenientes que me desculpem a omissão, registo as intervenções do Dr. Gouveia da Veiga e do Rodrigo Saraiva que se caracterizaram da seguinte forma: pertinentes, claras e elevadas.

Reparem bem que não concordo com todas as críticas feitas, e já passarei a enumerar aquilo com que não concordo. Mas a realidade é que mesmo naquilo com que não concordo, houve espírito de iniciativa e as opiniões eram sustentadas, o que torna a discussão interessante e proveitosa, porque uma ideia com "background" nunca é má, poderá eventualmente ser passível de correcções.

De facto, e apesar de entender ser necessária uma gestão profissionalizada, não quero com isto dizer que os gestores tenham necessáriamente de ser profissionais remunerados, apesar de concordar que já é tempo de as pessoas se dedicarem a tempo inteiro e com consequente compensação remuneratória à gestão da SAD do Belenenses. No entanto, não posso de forma nenhuma concordar com a profissionalização da Direcção do Clube, pois penso que isso seria o acabar totalmente com o espírito de clube e torná-lo numa mera empresa, como tantas há. Também não posso concordar quando, penso que o Dr. Gouveia da Veiga (e se não foi que me perdoe), afirma que a SAD tem de se tornar completamente autónoma e não pode viver com o apoio do clube: em primeiro lugar, porque todos sabemos que o futebol é um negócio falido à partida, em que os lucros se medem por Taças e em que, apesar de não concordar com o modelo, todo o acréscimo de receitas é acompanhado de um exponencial acréscimo de custos (vide as SADs dos grandes) ; em segundo, porque o futebol é a face mais visível do Belenenses e contribui indirectamente para a salubridade de toda a restante instituição.

Apesar de tudo, pontos houve em que a AG me deixou algo preocupado, nomeadamente em termos de Contas. Porque de Relatório muito se falou e discutiu, e o mesmo era extremamente claro. Mas as Contas não podem ficar para segundo plano, e as Contas que nos foram apresentadas são uma mera folha de rosto de toda a contabilidade da instituição, pelo que a sua análise é ao mesmo tempo fácil e impossível. Fácil porque pouco há a analisar. Difícil porque não se conseguem extraír conclusões. Aliás, o associado Manuel Benavente e, ainda que superficialmente, o Dr. Gouveia da Veiga, foram os únicos a focar o tema Contas.

Como já aqui havia referido quando tive acesso às Contas, a rubrica de IVA a Receber foi aquela que levantou mais questões e que foi explicada, mas para a qual me parece, à vista desarmada, haver alguns equívocos, e passo a explicar: segundo o Dr. Jaime Vieira de Freitas, o valor de IVA a Receber, de mais de 1 milhão de Euros, é relativo aos 19% de IVA pagos nas obras de remodelação do Estádio, que o clube considera não utilizar como consumidor final, mas sim como proprietário de uma infraestrutura para alugar. No entanto, há um diferendo de opinião com o Estado, e nenhuma garantia que a decisão final seja a nosso favor, ou seja, esse valor pode nunca chegar a ser nosso, pelo que, penso eu (e poderei estar enganado) deveria ter sido estabelecida uma provisão de pelo menos uma parte desse montante.

Outro exemplo ilustrativo da generalidade das Contas é a rúbrica FSE (Fornecimentos e Serviços Externos), que teve um acréscimo elevado e que por não se encontrar minimamente discriminada, nada se pode saber sobre o seu motivo. Por último, e numa chamada de atenção do consócio Manuel Benavente, e que por lapso não referi na "descrição" da AG, é no mínimo estranho no ano de 2002 não haver dívidas em EOEP (Estado e Outros Entes Públicos) uma vez que há sempre, pelo menos, as retenções de Dezembro a pagar no ano seguinte.

Finalizando, no cômputo geral foram 3 horas muito bem passadas a discutir um grande Clube que todos amamos e para o qual queremos o melhor. Porque o melhor para o Belenenses é o melhor para todos nós.

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