quarta-feira, maio 26, 2004

Introdução




A propósito das bonitas imagens das bancadas bastante compostas de público no último jogo da época 2003/2004, contra o Braga, lembrei-me de trazer à superfície memórias de outras grandes assistências em épocas passadas. Muito gostaria que outros belenenses partilhassem as suas recordações de outros tempos e feitos, sobretudo daqueles a que não assisti. Pela minha parte, as memórias vêm desde 1970, e vou expô-las em sentido inverso, ou seja, começando pelo passado recente, indo depois para a década de 90, depois para a de 80 e, por fim, para a de 70.

Gostava de esclarecer que, se alguém tiver a paciência de ler estas linhas, seria óptimo que não o visse como simples saudosismo. Infelizmente, eu já não vi os tempos heróicos do Belenenses, quando a nossa camisola era temida e respeitada em todo o lado, não pelo que tinha feito no passado, mas pela força presente de então, de dirigentes de vistas largas, de jogadores de génio e com verdadeiro amor à camisola (que o dinheiro que ganhavam era pouco…) e de associados e simpatizantes tão apaixonados pelo seu clube que, durante anos e anos, se escrevia ainda: “Os velhos e indefectíveis sócios do Belenenses”, “Os belenenses, com o seu amor acrisolado ao clube…”. Não vi jogar o Matateu e o Vicente, nem o José Pereira nem o Di Pace, nem as Torres de Belém nem o Amaro, muito menos, claro, o Pepe ou o ilustre (principal) fundador do clube, Artur José Pereira… Gostava, dizia eu, que não se entendesse isto como simples saudosismo. A referência ao passado só é útil se nos ensinar alguma coisa para o futuro; caso contrário, não representa mais do que uma força de imobilismo. O passado nunca se repete exactamente da mesma maneira… mas o seu espírito pode reviver em novas formas. Desejava, tão só, que ainda salvássemos essa alma pujante, heróica e audaz dos tempos em que o Belenenses era grande, ambicioso e simultaneamente cheio de idealismo e de capacidade de fazer (já não vivi esses tempos mas ainda lhes senti os ecos, o que restou); e, ao mesmo tempo, que evitássemos a repetição de erros, de equívocos, de menoridades e deslealdades que, acumuladas uma após outra e outra, e outra… nos conduziram a um presente muito aquém do que podia ser, do que pode ser. Juntarei alguns comentários a propósito da década de 80, que considero importantes; e algumas conclusões e ideias finais.

Ao longo dos tempos, o Restelo, tristemente, tem vindo a ficar cada vez mais deserto. O recente jogo contra o Braga, foi sem dúvida a maior assistência dos últimos 10 anos. Pena é que fosse por causa de um pretexto tão pouco agradável, ou seja, evitar a descida de divisão; e, para agravar, com uma prestação tão má da equipa, que parecia mais ou menos indiferente ao seu destino, só os resultados de terceiros nos livrando do pesadelo da descida. Apenas as imagens e os sons de incitamento, e a demonstração de que ainda conseguimos juntar bastante gente, nos suscitam uma memória agradável desse jogo. Talvez mais uma coisa: a dignidade que mostrámos com os assobios e apupos no momento devido, em protesto contra a apatia da equipa e contra os erros acumulados. Felizmente, ainda não perdemos a noção de que um clube como o Belenenses não pode festejar a permanência, e menos ainda à custa de resultados de terceiros. Pela minha parte, gostava de dizer uma coisa: nunca assobiei ou apupei um jogador por ser tosco ou inabilidoso. Se não sabe ou não pode mais, a haver alguma culpa, é só de quem o contratou ou pôs a jogar. O que não perdoo nem admito é a falta de brio e de respeito à camisola, a falta de entrega ao jogo com toda a vontade.

Na presente década, só há registar uma outra assistência significativa: foi contra o Boavista há 2 anos atrás (o primeiro jogo com entradas livres). Não esteve muito longe da verificada contra o Braga, apesar de ser numa 2ª feira ao fim da tarde. Na época anterior, o Boavista entrara no clube restrito dos campeões nacionais, onde até então, e desde há décadas e décadas, o nosso Belenenses só se encontrava com mais outros três clubes.

(Artigo da autoria de Eduardo Torres, com continuação na próxima 4ª Feira)

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