terça-feira, maio 11, 2004

A revolução tem de começar JÁ!

Muitos erros foram cometidos pelo nosso clube na época agora finda. Quem sabe, no entanto, se o sofrimento a que fomos acometidos nos últimos meses não foi providencial para um futuro mais risonho para o Belenenses? Afinal, os erros do passado devem ser olhados como forma de preparar o futuro, e erros foi coisa que o nosso clube não se cansou de repetir na gestão do futebol.

Aconteceu-nos de tudo um pouco, desde jogadores desmotivados, em fim de carreira, sem categoria ou criminosos até treinadores sem palavra, passando por dirigentes “cegos” e autistas, persistindo no erro e desperdiçando oportunidades.

Começámos a época com um plantel composto por 16/17 jogadores mais 4 juniores, suficiente na óptica de um treinador que promoveu uma revolução profunda no plantel, dispensando 16 jogadores, alguns dos quais válidos e que sentiam a camisola. Chegaram apenas 5 reforços (curiosamente representados pelo filho do treinador), dos quais somente 2 revelaram qualidades: Sané é um típico jogador africano, mágico e inconsequente ; Pélé foi, sem qualquer dúvida, uma excelente aquisição e fez muita falta durante o tempo que esteve lesionado ; Hélder Rosário mostrou qualidades e merece ser “trabalhado” ; Valdiran passou de supersónico a criminoso em dias ; Byang Min foi um “Tamagochi” que nunca chegou a trabalhar. Esse mesmo treinador comprometeu-se num projecto para vários anos, o sonho da sua vida nas suas palavras. Mas o sonho parece que se esfumou aos primeiros sinais de derrota, sendo substituído por um sonho das mil e uma noites, num harém cheio de odaliscas e carregado de ouro.

Surge então em cena um perfeito desconhecido, Croata, Bogicevic de seu nome, que rapidamente começou a granjear simpatia junto dos adeptos, na mesma proporção em que gerou anticorpos dentro do clube e na imprensa, ao que parece pelo seu profissionalismo e exigência... dá Deus nozes a quem não tem dentes. Pegou na equipa no início de Dezembro e aguentou-se até meio de Janeiro, sendo que esse foi o período em que a equipa praticou um futebol minimamente aceitável, tendo recuperado Tuck para a equipa. Por outro lado, preocupado com a falta de soluções e qualidade no plantel, efectou um bom trabalho de prospecção, indicando um central Suíço que demonstrou qualidades mas depressa se viu “excomungado” e um ponta-de-lança Grego, já garantido segundo palavras da administração, mas que rapidamente assinou pelo Ajax de Amesterdão onde os golos se sucederam... Atiraram-no para fora do clube pela porta pequena, de forma totalmente imerecida, em especial por um homem que foi capaz de dizer o que disse e chorar ao saír de um clube cujos dirigentes não foram minimamente solidários com a sua posição e o escorrançaram como se fosse culpado, quando na realidade era vítima.

No início de Janeiro sucederam-se as experiências com jogadores, desde Liberianos rejeitados por toda a Europa, passando por Argentinos goleadores no Mar do Norte. Foi neste período que os jornais noticiavam a presença de variados “empresários” nas instalações do clube, deixando cassetes de possíveis craques. Como é óbvio, em Janeiro o que não faltam são craques disponíveis, em especial que se submetem a ir à experiência para um clube que luta para não descer no competitivíssimo campeonato Português.

“A fase da asneira acabou”, foi com estas palavras que o presidente apresentou Augusto Inácio e 9 (!!!) reforços em Janeiro, de forma a garantir a manutenção o mais depressa possível: Andersson é um jogador válido que passou 3 meses a jogar fora da sua posição ; Emerson parece ser um central de qualidade ; Leandro é reforço ; Hugo Henrique, tosco mas com faro de golo, foi providencial ; Ceará raramente jogou e quando o fez mostrou muito pouco ; Mangiarrati mostrou qualidade mas lesionou-se e rapidamente foi afastado pelo 3º treinador ; Neto veio para ir ; Paulo Sérgio não faz a diferença e é velho ; Brasília foi outro a mostrar qualidades no corredor esquerdo. Ou seja, analisando os reforços individualmente, a “coisa” até parece que correu bem... mas uma equipa não se faz em dois dias, nem duas semanas, nem dois meses. É preciso um trabalho continuado de entrosamento e identificação com a camisola que se veste.

Por outro lado, as lesões atacaram o plantel de forma absurda, da qual o exemplo do jogo ante o Benfica é o principal exemplo, com 3 centrais lesionados nos primeiros 45 minutos. Pélé fez muita falta, tal como Mangiarrati, Brasília, Neca ou Emerson.

No entanto, nem lesões, nem falta de qualidade, podem explicar decisões perfeitamente bizarras tomadas pelo treinador, nalguns momentos suicidas, como contra a Académica ou Alverca. Com o caminhar para o final da temporada, no entanto, essas decisões começaram a ser mais acertadas, pelo que a sua continuação (mal vista pelos treinadores de bancada) poderá indicar maior identificação com o clube e ´”matéria-prima”.


Também das arbitragens nos podemos queixar, apesar de querer deixar bem claro que não foi por aí que o desastre sucedeu. Vários foram os jogos em que fomos claramente prejudicados, e poucos aqueles em que podemos sentir-nos beneficiados.

A espinha dorsal da equipa nos últimos anos, Marco Aurélio, Filgueira, Wilson e Tuck acabou. Só Marco Aurélio mantém intactas as suas fantásticas qualidades, sendo que Filgueira passou a época lesionado (como na última temporada) e ainda ajudou sem conseguir, acabando a carreira de forma inglória. Wilson transformou-se de central seguro e líder em jogador enervado e indisciplinado, prejudicando frequentemente o colectivo. Tuck, apesar de toda a abnegação e qualidade, já não tem a capacidade de segurar sozinho um meio-campo como o fez nos últimos anos, em que foi sem qualquer dúvida o melhor médio defensivo em Portugal. Também ele não mereceu esta época, e é incrível como uma equipa com aspirações na SuperLiga pode suspirar por um Tuck que já só pode oferecer o seu espírito voluntarioso, guerreiro e motivador. Há anos que esta espinha dorsal envelhecia, sem que nunca tivesse sido feito algo para ir construíndo novo núcleo duro, como é óbvio sem “encostar” os líderes que ainda tinham capacidades, antes preparando o futuro.

No final de Abril surge um gravíssimo escândalo, que envolve em crimes um suposto profissional do Belenenses, mas que de profissional pouco tinha, só se fosse da má vida. Incrível como foi contratado sendo o seu passado “negro” já conhecido desde os tempos do Brasil, inclusivé ao serviço de diferentes clubes.

Na véspera do último (e importantíssimo) jogo, instado a comentar a situação futura do treinador Augusto Inácio, o presidente do clube afirma que a sua continuidade é “problema dele”... motivador, no mínimo. A próxima temporada prepara-se para ser planificada em “cima do joelho” novamente, por amadores com muito amor ao clube, mas sem conhecimento de causa nem capacidades para se integrarem num desporto que já não o é, sendo antes um negócio onde o sentido de oportunidade e rigor são aspectos fundamentais, que não se coadunam com contratações por amor ao clube, por somas milionárias, de jogadores que marcam 3 golos num jogo e têm uma carreira medíocre, marcada por dispensas e equívocos.

O último jogo, uma final pelos piores motivos, foi encarado pelos adeptos como um apelo ao coração, tendo havido uma mobilização por todo o país, de onde chegaram milhares de adeptos, do Norte ao Sul. No entanto, essa mobilização, que se traduziu em 20.000 pessoas no Estádio, conseguiu ser calada por uma equipa sem vontade nem ambição, para a qual era perfeitamente irrelevante a manutenção ou a despromoção, exclusivamente preocupada em “deixar correr o marfim” e esperar pelos resultados dos concorrentes directos. Nas bancadas do Restelo comemorou-se a manutenção por breves segundos e daí até final o público limitou-se a vaiar pretensos profissionais que mais não são que mercenários do desporto, movidos pela avidez do dinheiro e fama, sem um mínimo de dignidade, orgulho ou respeito pela camisola que envergam. Obviamente que houve (poucas) honrosas excepções, as quais nem é necessário referir, pois são sempre os mesmos, e foram aqueles que no final do jogo foram agradecer a presença da fantástica moldura humana que foi silenciada pelo resto da equipa. Quanto ao resto, aqueles para quem aquele jogo era só mais um jogo, em princípio o último antes de um novo contrato chorudo, foram a correr para os balneários, pois tinham estado dois dias em estágio e há toda uma vida para além do futebol.

Chegou ao fim uma época para esquecer. Ou então não, aliás, de preferência não! Esta época tem de ser lembrada para que não se façam NUNCA mais os mesmo erros infantis e para que o futuro se coadune com toda a história e pujança de um clube que é um gigante adormecido, que merece mais que vistas curtas e vaidades pessoais. Aliás, e que tal porem os olhos nas “amadoras”, que são um claro exemplo de sucesso alicerçado em trabalho e rigor?

Foi uma temporada repleta de erros e, por isso mesmo, a revolução tem de começar JÁ! Dirigentes, técnicos e jogadores têm de ser criteriosamente analisados e ponderada a sua contribuição para o colectivo.

O Belenenses precisa de uma lufada de ar fresco no futebol. O Blog do Belenenses decidiu dar o mote, e daí o novo “look” que adoptámos, com um ar menos amador, mas que deu muito trabalho. Afinal, tudo o que se pede ao futebol azul: menos amadorismo e mais trabalho. Se nós o conseguimos...

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