sexta-feira, junho 18, 2004

A próxima época futebolística

(Artigo da autoria de Eduardo Torres)

A pouco e pouco, começam-se a definir algumas das coordenadas do que poderá ser a equipa de futebol do Belenenses para a próxima época.

Vou tentar ser o mais objectivo possível, abstendo-me de juízos valorativos sobre o modo como a preparação (não a preparação da equipa em si, claro, mas a planificação em termos de contratações, renovações e dispensas) foi feita, concentrando-me antes no que é previsível esperarmos com aquilo que há.

Deixarei apenas três notas sobre o passado próximo, isto é, sobre o tempo decorrido desde o final da época de 2003/2004, de tão má memória: A contratação de Carvalhal aparenta ter sido uma boa escolha; não existe uma estrutura, em termos de prospecção e planeamento a médio prazo, que maximize as hipóteses de aproveitar os recursos que temos; mais uma vez, foi o Presidente Sequeira Nunes que, em hora de aperto, teve que andar (quase) sozinho para a frente.

Pessoalmente, quero sempre que o Belenenses se assuma como um clube orgulhoso e ambicioso; mas se a primeira característica não depende de nada a não ser do ânimo que tivermos, já quanto à ambição, precisamos de ter os pés assentes na terra, preparando um futuro melhor em vez de o comprometermos ainda mais com aventureirismos inconsequentes. (De qualquer forma, não posso deixar de referir que algo está forçosamente mal quando há anos e anos ouvimos que daqui a 2 ou 3 épocas é que vai ser em grande… e, depois, quando chega essa altura, ainda estamos pior).

Realisticamente, face àquilo que se perspectiva, este deverá ser uma época de transição. Gostaríamos, decerto, que fosse muito mais do que isso mas julgo que podemos resumir tudo nesta fórmula: se for uma época de transição, no sentido que já tentarei aclarar, teremos sido bem sucedidos; se for mais uma época inconsequente, só para “picar o ponto”, então, se coisa pior ainda não acontecer, continuaremos a adiar o futuro.

Explicando melhor: por razões bem conhecidas, o facto é que não há uma espinha dorsal na equipa. Dando como certo que uma equipa se começa a construir de trás, a realidade é que a defesa terá que ser toda ou quase toda reconstruída. E todos nos lembramos que, mesmo com um dos dois melhores guarda-redes da Superliga, fomos a 2ª equipa que mais golos sofreu, tendo-se aliás batido, pela negativa, um record na nossa história. O que teria sido sem o Marco Aurélio!... Depois, no meio campo, temos a saída do Verona, a veterania do Tuck, a irregularidade (desde logo por lesões) do Neca. Outro sector a reconstruir…

À falta de uma espinha dorsal e de um esquema de jogo (3 treinadores na última época…), soma-se a nossa (aparente) incapacidade financeira (e talvez, também, um pouco mais de argúcia e determinação…) para colmatar de uma vez todas as carências qualitativas do plantel. Esperemos que, a partir de agora se comece a construir uma equipa, melhorando-a, de facto, todas as épocas, com elementos que sejam mesmo reforços (e não para fazer número) e que venham para ficar. Se assim for, o que é a melhor das hipóteses e, portanto, aquela que desejamos, esta época é um recomeço, não se podendo pois, na normalidade das coisas, esperar grandes feitos no Campeonato.

E então? Se bem que, por um lado, melhor será um campeonato tranquilo, a meio da tabela, do que passar pelas aflições da época passada, não há nada mais cinzento e desmotivador do que não lutar para nada. E o que tem debilitado o Belenenses, em grande medida, tem sido, justamente, a falta de ambição. Portanto, tentemos encontrar alguns objectivos motivadores e que tragam alguma vitalidade ao clube. Quanto a mim, eles podem ser de duas ordens:

1º Se, pelas razões expostas, será muito difícil uma classificação notável neste Campeonato (embora podendo-se apontar para tal objectivo na época seguinte), numa prova diferente, em que releva menos a regularidade e, sim, a capacidade da equipa se transcender em momentos-chave, poderemos ter uma palavra a dizer. Falo, claro, da Taça de Portugal. Se não formos infelizes nos sorteios (e na época passada só de nós mesmos nos podemos queixar), e com as características que o Carvalhal me parece ter, uma equipa que o seja verdadeiramente pode dar-nos uma grande alegria nessa prova. Cada um dos seus jogos deve, pois, ser preparado com grande rigor e determinação em todos os aspectos.

2º Se o bom futebol que o Carvalhal anunciou como objectivo for uma realidade, e se continuarem a existir as iniciativas de oferta de bilhetes, poderemos fixar mais público no Restelo, o que considero objectivo fundamental, e sem o que é difícil construir uma equipa ambiciosa. Esperemos, portanto, assistir a bons espectáculos de futebol.

Finalmente, gostaria de repetir o seguinte: espero que esteja já a ser pensada e preparada também a época de 2005/2006. Se não, continuaremos indefinidamente a esperar. E, às vezes, a desesperar… Somos belenenses sempre; mas o nosso entusiasmo, esse, encontra poucas razões para poder expressar. Oxalá que os responsáveis entendam e valorizem a impaciência de tantos de nós!

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