segunda-feira, junho 28, 2004

Que não nos esqueçamos

(Artigo da autoria de Eduardo Torres)

- Não nos esqueçamos nunca que existimos há 85 anos, o que representa já quatro e, em breve, 5 gerações de belenenses;

- Não nos esqueçamos nunca que, citando Acácio Rosa “nós formamos um clube modesto, nascido na praia, que 25 anos mais tarde era o clube mais progressivo de Portugal”;

- “Não nos esqueçamos nunca de amar o clube, citando mais uma vez Acácio Rosa “como eu o vi ser amado pelos rapazes da praia”, isto é, pelos pioneiros do clube, que o decidiram definitivamente fundar num banco de jardim da Praça Afonso de Albuquerque, e que nunca regatearam esforços para o tornar maior e mais forte;

- Não nos esqueçamos nunca que tivemos figuras lendárias do desporto português como Artur José Pereira, Augusto Silva, Amaro, Feliciano e as outras Torres de Belém, Matateu, Vicente, Georgete Duarte, José de Freitas, Acácio Rosa e muitos, muitos outros;

- Não nos esqueçamos nunca que nós fomos o clube que o Real Madrid, o clube mais forte e bem sucedido do século XX, convidou para inaugurar o seu estádio;

- Não nos esqueçamos nunca que nós fomos “aquele clube” que, caso único em Portugal, perdeu dramaticamente um campeonato nacional a 4 minutos do fim da última jornada;

- Não nos esqueçamos nunca que nós fomos o primeiro clube de futebol a investir seriamente em instalações com o estádio das Salésias, o primeiro relvado de Portugal, que durante anos poupou a selecção nacional à vergonha de jogar num pelado, com bancadas como deve ser (enquanto outros ainda tinham “serrações de madeira”), com um pavilhão para as modalidades amadoras;

- Não nos esqueçamos nunca que, ainda melhorávamos as Salésias e já estávamos recebendo ordens de que haveríamos de deixar aquele local, por causa “do plano de urbanização da capital do império”;

- Não nos esqueçamos nunca que foi numa zona esquecida, em cima de uma pedreira que tivemos que transformar com carradas de dinamite, que nós construímos, e temos continuado a acrescentar e a embelezar, o nosso incomparável Estádio do Restelo;

- Não nos esqueçamos nunca que, depois de valorizarmos aquela zona, que se veio a tornar de luxo, rendendo chorudos negócios à câmara, a dívida resultante do investimento na construção do Restelo, acumulada e galopante, fez decair brutalmente a nossa competitividade desportiva;

- Não nos esqueçamos nunca que, por essa razão, chegámos a ficar sem a propriedade do estádio, passado a Municipal, para resgatar a dívida contraída com esse mesmo estádio, face à intransigência draconiana da Câmara, tão contrastante com as liberalidades de que outros clubes têm beneficiado;

- Não nos esqueçamos nunca de que, em seguida, durante anos, tínhamos que pagar à Câmara para jogar no que tínhamos construído, com contadores a correr hora a hora, e chegando a ver os nossos troféus encaixotados à porta da rua;

- Não nos esqueçamos nunca que foi pelo esforço titânico de grandes dirigentes como Acácio Rosa e Gouveia da Veiga, e com a força e o peso de uma centena de milhar de assinaturas que a nossa bandeira voltou a hastear-se no mastro do Restelo;

- Não nos esqueçamos nunca que, no ano terrível de 1982 (primeira descida de divisão), a situação era tão grave que se chegou a discutir se não era o fim do Belenenses, entregando-se as chaves do clube à CML;

- Não nos esqueçamos nunca que essa despromoção foi então vista, em todo o país, como um facto quase inacreditável e que é assim que devemos sempre olhar qualquer perspectiva de descida;

- Não nos esqueçamos nunca que conseguimos superar essa crise, renascer, voltar ao pódio e reviver a conquista de uma Taça de Portugal;

- Não nos esqueçamos nunca que, dois anos depois da vitória nessa Taça, por escolhas infelizes e por se enveredar pelo facilitismo, pelas subserviências pacóvias e por irmos na conversa dos três “da vida airada”, estávamos estupidamente, pela 2ª vez, numa divisão secundária;

- Não nos esqueçamos nunca que, quando se experimentou se um árbitro resistia ou não à corrupção (mil contos, em 1990), o clube escolhido como prejudicado por esse corrupção seria o Belenenses (porque seria? Pensemos bem: porque seria?);

- Não nos esqueçamos nunca que em momentos de crise profunda do futebol, foram outras modalidades, como o Andebol, o Basquetebol, o Râguebi ou até o Atletismo e o Hóquei, que mantiveram mais viva a chama azul;

- Não nos esqueçamos nunca que, por incúria, leviandade ou que quer que tenha sido, nós íamos perdendo o Bingo e, pela primeira vez, ferindo o nosso orgulho, dependeu a nossa sobrevivência de um favor público;

- Não nos esqueçamos nunca que, apesar de todas as desventuras, temos hoje um parque desportivo de que nos podemos orgulhar;

- Não nos esqueçamos nunca que, apesar de tudo, em circunstâncias tão difíceis, nós não desaparecemos ou não caímos num abismo profundo, como outros clubes que chegaram a ser fortes (embora não tanto como nós) e que, não obstante longe da grandeza de outrora, ainda aqui estamos, na luta, numa demonstração da vontade de resistir e permanecer;

- Não nos esqueçamos nunca de nos fazer respeitar, exigindo o tratamento e a consideração que nos é devida, e fazendo por os manter num elevado patamar, com a grandeza da nossa visão, a dimensão dos nossos feitos e a nobreza das nossas atitudes;

- Não nos esqueçamos nunca que falar em outros como “os três grandes” representa a nossa abdicação definitiva do estatuto de um dos “grandes”, que detivemos durante mais de meio século;

- Não nos esqueçamos nunca da nossa velha e bela tradição do “quarto de hora à Belenenses”, representativo do cerrar de fileiras quando tudo parece perdido, para que não nos demos nunca por vencidos na nossa vontade de perpetuar e melhorar sempre o nosso clube;

- Não nos esqueçamos nunca de com que arreganho e querer imenso fomos campeões nacionais e obtivemos tantas outras conquistas;

- Não nos esqueçamos nunca de quantas vezes e em quantas situações, tivemos que vencer a adversidade e “começar de novo”.

- Não nos esqueçamos nunca, enfim, que o Belenenses não é o que se passou na última semana, na última época, nos últimos anos, ou sequer nas últimas décadas mas tudo o que se contém na sua história de 85 anos.

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