quinta-feira, julho 29, 2004

NO RESCALDO DO BELENENSES-ORIENTAL

Artigo da autoria de Eduardo Torres

Ontem fui ver o jogo-treino do Belenenses com o Oriental. Fiz aqui alguns comentários no blog, que não vou repetir. Não acho que interesse. Afinal, foi pouco mais que um treino, só com relativo interesse. Terminado o jogo, vi-me tranquilamente embora do campo, sem nenhum especial sentimento.

Mas, ao voltar para o carro, resolvi pôr algumas músicas que me evocam irresistivelmente o Belenenses! E senti-me feliz, por, mesmo num jogo daqueles, a feijões, num campo qualquer, e até sem camisolas azuis, ter ido ver o Belenenses. Já tinham passado uns meses…

Lembrei-me das palavras do Acácio Rosa, quando não pôde, durante algum tempo, ver jogos do Belenenses, para preservar a neutralidade que certas funções que assumira lhe obrigavam a respeitar. Terminadas essas obrigações, “sentiu-se, finalmente, livre. Haviam decorrido três longos anos sem que ele tivesse visto jogar o seu Belenenses. Estava cheiinho de saudades. Agora, já podia sentar-se no seu lugar na bancada, como qualquer sócio, como qualquer entusiasta, como qualquer belenense. O azul fizera-lhe tanta falta…Foi um encher de olhos da equipa cor do mar” (in “História do Clube de Futebol Os Belenenses”).

E, por ser ali ao pé, no complexo do Jamor, lembrei-me natural e irresistivelmente daquela grande vitória na Final da Taça, há já longos 15 anos! Quero mais uma, nem que seja só mais uma vez! Quero voltar a fazer a peregrinação dos grandes dias, passando pelas Salésias dos nossos grandes heróis que eu nunca vi jogar, antes de ir para o estádio onde se realiza o encontro! Quero ver outra vez aquele mar imenso de bandeiras azuis! Quero gritar outra vez, até ficar sem voz, até o grito ser já quase um choro de sofrimento, de comoção e de felicidade antecipada, como nos minutos finais daquele jogo! Quero voltar a ver a equipa a correr para nós, ao encontro do nosso delírio, dos nossos sorrisos e das nossas lágrimas, da nossa alegria incontida, para nos mostrar o troféu, no pano de fundo de tudo o que de azul tivermos à mão para agitar! Quero saltar outra vez para cima daquele muro, para me embriagar de azul e ter a certeza de que, enfim, depois de tudo, o Belenenses voltou às grandes vitórias! Quero que voltemos a encher estradas e ruas com a nossa festa, quero chegar a tempo à Praça Afonso de Albuquerque, onde nascemos, e quero uma celebração como deve ser, no nosso lindo, único, incomparável Restelo! Quero voltar a abraçar – não já o meu pai, infelizmente, embora ele esteja ali através de mim – mas todos os que somos “Belém” – todos, todos, todos!

Sim, e pensei como todos os que são do Belenenses são do Belenenses! Parece uma cacofonia, ou uma frase mal construída, ou um conjunto de gralhas mas não, é isso mesmo que quero dizer! Às vezes exaspero-me com opiniões ou atitudes ou omissões ou cegueiras ou imediatismos que acho que menorizam o clube e comprometem o seu futuro, às vezes apetece-me dizer “bolas, mas porquê tanta tansice?”, “não vêm que assim não vamos a lado nenhum?”; enervo-me e consumo-me com coisas que oiço e que considero patetices. Chego a ficar doente, febril, e apetece-me disparatar!

Mas, como todos, só quero o bem do Belenenses. E expresso-o da maneira apaixonada e arrebatada que me é própria! Não estou contra ninguém, só estou a favor do Belenenses!

Por isso, admito tudo menos a desonestidade ou o desrespeito pela memória sagrada do clube. E sou grato a todos. A todos os que serviram o Belenenses o melhor que puderam e lhe permitiram chegar até hoje, mesmo que cometendo erros, mesmo tomando opções com que não concordo. Sou grato a todos os que vibram por ele, a todos os que já clamaram, gritaram, ou até sofreram em silêncio por ele. Sou grato a todas as bandeiras que se agitaram com a cor e o símbolo do nosso clube. Sou grato a todos os que são belenenses, haja o que houver, contra tudo e contra todos, contra ventos e marés, com o mesmo amor inalterável em momentos de glória ou em tempos de desgraça!

Meu velho, querido, lindo, imenso e incomparável Belém! Que coração enorme tem este clube, maior que todas as desventuras! E que coração, que força e dignidade é preciso para ser do Belenenses! Ser do Belenenses é ser do tamanho do mundo!

E agora sei, com toda a clareza, porque é que, contrariamente aos adeptos de outros clubes, não temos dependência de vitórias a todo o custo. É que nós temos todos os dias uma grande, enorme, incomparável vitória, só alcance de uns tantos afortunados: a de sermos do Belenenses!

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