sexta-feira, setembro 03, 2004

Sobre o papel do psicólogo... Outra vez!

Há alguns dias escrevi num blog que criei – http://aquatico.blogspot.com/ - as seguintes considerações acerca da psicologia associada ao treino desportivo:

“Décadas de desenvolvimento científico da teoria e prática do treino desportivo colocaram a psicologia em lugar de destaque na preparação de atletas de competição em praticamente todas as modalidades. Nos últimos anos, as universidades portuguesas criaram programas curriculares de Psicologia do Desporto, e pós-graduações que envolvem obrigatoriamente aspectos ligados ao treino mental e ao apoio psicológico a desportistas em todas as fases da sua carreira.

De uma forma geral, o tempo dos ex-desportistas interessados pela modalidade mas sem outra formação técnico-científica de base, terminou. O exemplo mais flagrante desta realidade chega-nos do futebol de alta competição, durante décadas dominado por ex-futebolistas tornados treinadores... As exigências do quadro competitivo actual criaram novas necessidades e oportunidades para a inclusão de especialistas em outras áreas nas equipas técnicas: as equipas técnicas tornaram-se multidisciplinares.

Médicos, fisioterapeutas, preparadores físicos, nutricionistas e psicólogos foram sendo lentamente integrados num mundo que até há pouco anos lhes estava vedado, introduzindo lentas mudanças, bem como conceitos e práticas fora do comum. O treino psicológico, por exemplo, deixou de se basear no estrito bom (ou mau...) senso do treinador, para obedecer a regras devidamente estudadas e validadas. O resultado está hoje à vista de todos, expresso no sucesso dos países que mais cedo compreenderam que melhores resultados dependiam de alterações no planeamento e concretização de novas formas de treino.”

No mesmo blog, e em texto posterior, cheguei mesmo a citar as importantes palavras do Professor José Couto, em entrevista ao portal oficial do clube: “A equipa técnica é composta por 4 pessoas, nós trabalhamos sempre em grupo, e não há trabalhos individuais. O treino é feito com o fisioterapeuta, com o treinador adjunto e a psicóloga noutra área. Trabalhámos sempre em conjunto e portanto não destaco ninguém em especial. Destaco todos os meus colaboradores pelas excelentes prestações e pelo bom trabalho de equipa, procurando a inovação não apenas numa pessoa pois não me parece correcto, mas antes na forma de trabalhar de quatro pessoas que actuaram sempre, repito, em conjunto.”

Quando escrevi estas palavras não conhecia ainda a constituição das equipas técnicas principais do futebol e do basquetebol do Belenenses, nem o facto de quer numa quer na outra se ter verificado o desaparecimento dos psicólogos. Mais: pensei sinceramente que, uma vez começada a nova temporada iria escrever um post orgulhoso, em que salientaria uma vez mais a aposto do Belenenses na criação de condições de treino ideais para os seus atletas, ao nível daquelas que são conhecidas noutros países em que se verificam maiores sucessos ao nível desportivo. Enganei-me. E tenho pena.

Tenho pena porque acredito sinceramente que o treino mental é tão importante como o treino físico. O nosso técnico, Carlos Carvalhal, reconheceu-o de forma indirecta, quando referiu na sua recente entrevista ao Jornal O JOGO: “Não haverá quebras físicas, pois o plantel está a ser preparado para aguentar toda a época. O que poderá suceder são quebras anímicas, decorrentes de resultados menos agradáveis.”

Quem estará lá nesse altura, para levar a cabo um trabalho qualificado e estruturado de recuperação mental dos jogadores, individualmente considerados (uma vez que nem todos são influenciados da mesma forma), e do plantel, do ponto de vista colectivo?

Considero que a não inclusão de quadros qualificados, na área do treino mental, nas nossas mais importantes equipas de competição é um enorme passo atrás. E só espero que isso não seja evidente no comportamento em campo das equipas.

Pela minha parte vou continuar a defender um Belenenses cada vez mais virado para a inovação no treino desportivo. Cada vez mais bem estruturado e mais atractivo para os melhores atletas, em todas as modalidades que o clube entenda abraçar. Vou continuar a defender que o treino mental e a recuperação psicológica não é tarefa para o treinador principal, para os seus adjuntos ou para os médicos, para os dirigentes, seccionistas e técnicos de audiovisuais...

E pode ser que consiga convencer alguém.

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