domingo, outubro 31, 2004

Considerações sobre um jogo terrível

- Fizemos um bom jogo, pelo menos até à expulsão do José Pedro. No entanto, não é admissível falhar tantos golos, ocasiões soberanas em que os avançados aparecem isolados e têm uma dificuldade tremenda em concretizar. Antchouet perdeu pelo menos umas 3 oportunidades isolado, em que optou sempre pela solução mais complicada. Até no golo, demorou uma eternidade a decidir-se, que podia ter sido fatal. Há muito a melhorar nesse aspecto

- Temos tido muito azar esta época e hoje, uma vez mais, o azar apareceu. Há 2 lances que poderiam dar auto-golo que não entraram, sendo que o primeiro é incrível, o defesa dentro da pequena área fuzila a baliza e com uma sorte desmedida acerta em cheio no guarda-redes.

- A expulsão de José Pedro é ridícula. Ridícula, mas justa. Um jogador amarelado não pode ter uma entrada daquelas, por trás, com o adversário em contra-ataque. Enfim. Aliás, o José Pedro parece-me pouco motivado, é um jogador diferente daquele que vi na pré-época.

- Relativamente à arbitragem, nada a apontar, mas tudo a apontar. Quando as arbitragens não são tendenciosas e premeditadas, são pura e simplesmente más. Hoje foi má, em prejuízo das duas equipas.

- Marco Aurélio é um gigante, mas há um pormenor importante a rever. Não pode "mostrar" tanto a vontade de queimar tempo, pois passa a imagem à equipa que há que defender o resultado a todo o custo e moraliza o adversário, que facilmente se apercebe que o nosso único objectivo é defender a baliza e "cai" em cima de nós.

- Cristiano é mau de mais para ser verdade. Se o ano passado nos queixávamos do Carlos Fernandes, que dizer do Cristiano? Não acerta no tempo de entrada à bola, está sempre colado aos centrais em vez de cobrir a lateral, tem perdas de bola infantis e uma dificuldade tremenda em fazer um alívio. A tudo isto, junta uma velocidade arrepiante (por ser lento, entenda-se) e hoje mostrou novos predicados a isolar o adversário. Não há mesmo uma solução melhor??? Brasília, Eliseu...

- Uma nota final para o público: umas 8 mil pessoas, uma casa composta, e há que atender ao fim de semana prolongado e mau tempo. Por aí, tudo compreensível. Agora, o que se passou no minuto de silêncio em memória do JJ foi vergonhoso e o mote foi dado por adeptos azuis. Depois disso, também uma menção para a claque do Boavista, que entrou claramente para provocar. A alusão à camisola queimada é feia e se são proibidas tantas faixas, porque é que aquela se manteve até ao fim? Enfim, a prova que o ano passado foram colocados no local certo, no meio das obras. Pena que este ano tenham voltado. Estes não fazem falta.

- Agora, meus amigos, resta-nos ir ganhar ao Beira-Mar que não ganha à 4 jogos e levou 5 do Estoril, uma das piores equipas que já passou pela 1ª Divisão. Atenção à nossa lateral-esquerda, McPhee em cima do Cristiano vai ser o caos. Temos de tomar a iniciativa do jogo e aproveitar a defesa Aveirense, um sector fracote. E Srnicek já não é o dos velhos tempos em que encantou no Newcastle.

sábado, outubro 30, 2004

Concentração no Núcleo Ajuda/Belém

Para o importante jogo de amanhã ante o Boavista, em que são esperadas mais de 20.000 pessoas nas bancadas do Restelo, prepara-se uma concentração da comunidade azul on-line no Núcleo Ajuda/Belém.

A concentração está marcada para as 17:00, sendo que a saída em direcção ao Estádio se processará pelas 17:10. É uma boa forma de reunir os membros da comunidade on-line azul e formar um grupo, espera-se que numeroso, que percorrerá os 200 metros que separam o Núcleo do Estádio imprimindo um cunho revivalista de um Belenenses que juntava as pessoas e as fazia acreditar numa mesma ideia: a Nossa vitória.

Assim sendo, o Blog do Belenenses tem o prazer de convidar todos os leitores, bem como familiares e amigos, a juntarem-se a esta "romaria". Informamos ainda que temos muitos convites disponíveis para os primeiros a chegar ao Núcleo (aliás, os convites estão já disponíveis, basta para tal que se dirijam ao Núcleo Ajuda/Belém e os solicitem no Bar.

Para além da presença indispensavel, desafiamos todos a apresentarem-se com elementos alusivos ao Belenenses e, como é óbvio, com uma indumentária onde predomine o azul.

Contamos com todos amanhã, pelas 17:00, no Núcleo Ajuda/Belém. Por um Belenenses diferente, mas que não vira as costas às suas raízes populares.

A Liga das multas

Foi veiculado aqui nos Blogs e na imprensa que o Marco Aurélio, um exemplo de correcção dentro de campo e um Senhor fora dele, está sob alçada de um processo disciplinar da Liga devido ao lance com o Liedson. Fico triste, muito triste.

A punição a que está sujeito não é minimamente relevante, mas o que me revolta as entranhas é a estranha situação de, pela primeira vez que me lembre, alguém se sujeitar a uma multa por, pretensamente, simular uma falta. No estádio fiquei com a clara sensação que o Liedson lhe toca e depois o Marco força a queda, mas isso é irrelevante. O Liedson então, com os seus penaltys simulados, deve andar com sérios problemas financeiros, ou não?

E os árbitros que erram não são autuados pela autoridade, ou seja, a magnífica Liga? O canto do primeiro golo do Sporting era pontapé de baliza... o 2º golo é precedido de falta sobre um jogador azul... atenção que em ambos os casos foram situações em que o árbitro errou, mas não são situações de clara intenção como outras bem mais recentes. Mas a questão é: onde está a multa e o processo disciplinar???

Por fim, outra questão que me tem assolado: com tantas multas, que somam um bolo bem interessante, onde é que esse dinheiro vai parar? São milhares e milhares de contos, jornada após jornada. Em que são aplicados esses fundos? Serão, à primeira vista, considerados uma receita extraordinária... ou será que são uma receita operacional, e que o equilíbrio das contas da Liga implica períodos de fiscalização mais apertada, surgindo este tipo de situações ridículas? Aliás, por situações ridículas, entenda-se que se o Delegado da Liga ouvir insultos gritados das bancadas, os clubes são multados! Enfim...

Portanto, e uma vez que as multas são uma realidade incontornável (mais uma vez não devíamos ficar calados!), proponho que multemos amanhã o Boavista, com uns 3 ou 4 golos. Aí sim, até vale a pena o Belém pagar as multas pelos "olés" vindos das bancadas (se calhar gritar "olé" também é passível de autuação!!!). Vamos a eles Belém, contra tudo e todos.

Basket: Ovarense x Belenenses



Acompanhem hoje em directo o encontro entre o OVARENSE e o BELENENSES em belenensesbasket.com

sexta-feira, outubro 29, 2004

BELENENSES – BOAVISTA: Alguns votos

(Artigo da autoria de Eduardo Torres)

Para mim, o jogo com o Boavista não é de maneira nenhuma o jogo mais excitante da época. Só vem depois, por esta ordem, do Benfica, do Sporting, e do F.C.Porto. Mas, evidentemente, encaro-o com uma especial expectativa. E faço alguns votos:

* Desejo que o Belenenses ganhe. Atenção: que o Belenenses ganhe e, não, excepto por inerência, que o Boavista perca. Rivalidade não significa ódio, desporto não é uma guerra.

* Gostava, por isso, que não desperdicemos, em insultos que nada nos dignificam, a força, o entusiasmo e o talento que devemos usar a apoiar a nossa equipa. Pela nossa equipa e não contra a outra. Custará mais gritar “BELÉM! BELÉM! BELÉM” do que “Boavista, vão pró….?”. Por mim, o único sítio onde desejo que os boavisteiros vão, é ao fundo da baliza buscar as bolas dos golos com que ganhemos o jogo. Porque quero que ganhemos e não porque quero que eles percam…Adoro as nossas claques mas gostava que esta fosse a sua atitude…

* Ficaria satisfeito se alguém tivesse a bondade de explicar ao speaker de serviço que o nosso grito natural e espontâneo não é “Beeléeeeeem…” mas, sim, “BELÉM! BELÉM! BELÉM!”. É o estádio do Restelo, não a Luz ou o Dragão…

* Gostaria de ver as bancadas cheias e cheias antes do jogo começar. Gostava de reviver um momento lindo de dezenas de milhares de pessoas a aplaudir vibrantemente a nossa equipa quando esta entrar em campo. Mas isso temos que já lá estar. Há pequenas coisas que fazem a diferença. Só aparentemente são pequenas coisas. Não será muito mais motivador para os jogadores entrarem com uma bancada cheia em vez de meia, porque a outra metade só chega mesmo em cima da hora ou até depois? Não será boa ideia entrarmos, todos, uns minutos antes? É que, volto a dizer, o BELENENSES SOMOS TODOS NÓS!

* Faço votos por que nos engalanemos de azul, que é a expressão evidente da nossa alma clubística. Cachecóis? Sim! Mas também roupa azul, e bandeiras, muitas, muitas bandeiras! Como tenho saudades, como quero voltar a ver um mar de bandeiras azuis…Vamos a isso???

* Espero ver os jogadores, num cacho, a festejar golos, mas junto ao público, ao POVO AZUL, que compareça em grande número! E que fique com vontade de voltar! Que a equipa e o público sejam um só! Que ninguém, ao menos por vergonha, fique de braços cruzados, sem aplaudir a equipa! Vamos empurrá-la para a vitória! Porque…

O BELENENSES SOMOS TODOS NÓS!

quarta-feira, outubro 27, 2004

A DÉCADA DE 70 (cont.) - PARTE VI – Caminhando para o Abismo…

A lista de jogadores que saíram dos quadros de futebol do Clube, dispensados ou vendidos aos nossos rivais, entre 1974 e 1981, é verdadeiramente impressionante:

Murça, Luís Carlos, Calado, Quinito, Freitas, Pietra, Quaresma, Godinho, Gonzalez, Melo, Delgado, Sambinha, Esmoriz, Nogueira, Pincho, Lincoln, João Cardoso… é um nunca acabar!

O espantoso, todavia, é que quanto mais se ia vendendo, mais aumentava a dívida: em 1974, ela rondava os 15.000 contos; sete anos depois, atingira os 95.000!!! Entretanto, desbaratara-se não uma equipa mas duas ou três; contratavam-se jogadores a “torto e a direito”, anunciados como vedetas e que duravam uma época quando muito (na época de 81/82, que nos conduziu ao “impensável”, a 1ª descida de divisão, começámos com 35, sim, trinta e cinco!!!! - jogadores); as classificações caiam nitidamente; o Belenenses ia perdendo a sua aura.

E em todo este tempo, que me lembre, a única obra verdadeiramente importante foi a construção do Pavilhão (a que mais tarde se pôs o nome de Acácio Rosa, e bem, por tudo o que ele deu ao clube e, em especial, nas modalidades “amadoras”), o qual mais uma vez surgiu e resistiu (“abana mas não cai”, como disse na altura Sequeira Nunes) às ameaças da Câmara, como já referi em outro contexto.

Falou-se em poupar, deu-se por uns tostões jogadores aos nossos verdadeiros rivais (que agradeceram, claro), fizeram-se promessas de grandes contratações (que não “deram em nada”)… e ficámos sem jogadores, sem dinheiro e, sobretudo, sem identidade. Um clube à deriva…

Algumas vozes alertavam para o que se estava a passar – entre elas, como sempre, Acácio Rosa. Mas logo eram acusados de velhos-saudosistas-derrotistas-agarrados-ao-passado. E a massa associativa, na sua maioria, não queria saber. Só importava o pontapé na bola, a última contratação, o nome do treinador a vir ou a despachar, o imediatismo. A memória era curta, e uma ou outra vitória, a contratação de um ou dois jogadores, a melhoria pontual da classificação ou da prestação da equipa, mesmo deixando-a muito aquém do que era normal até em anos recentes, deixava a maioria dos adeptos a pensar que estava tudo bem. Ganhámos hoje? Está tudo uma maravilha, a equipa é fantástica, o treinador, genial, os dirigentes, os melhores que já houve. Perdemos hoje? Está tudo mal, vamos despachar os jogadores todos e contratar uma dúzia deles (mesmo que entrem pelo clube adentro sem sequer entenderem o peso da camisola que estão a vestir), e sobretudo, carreguemos o treinador de insultos, porque só uma besta como ele é que punha o António a jogar no lugar do Manel!

A identidade do clube, que alma é que se transmite aos jogadores, que plano e que objectivo é que existe para o clube? Isso não interessa. Faz dor de cabeça. Ou é um lirismo. Como é que se está a gastar, onde e porque é que se está a (des)investir? Não interessa: “estou optimista”. O estádio desertifica-se de Belenenses, os jornais dão-nos menos espaços? “Quero que se lixe!”. Interessa é os que cá vêm, ontem vieram mais 200 que no Domingo passado (embora menos 2.000 que o ano passado…mas isso, não interessa), assim até se vê o jogo melhor, e os jornais…deixei de os comprar! Atenção, estou a falar do que se passava, nas “vozes dos sócios”, há vinte e tal anos atrás… É que pode parecer que me estou a referir ao presente. Na verdade, a diferença não é muito. E é aí justamente que eu quero chegar

Os jogos começam a ser ganhos ou perdidos antes dos acontecimentos lá em baixo, no relvado. Começa-se a perder ou a ganhar nas nossas cabeças! Nossas, de quem? Antes de tudo dos adeptos, sobretudo dos sócios, porque são estes que elegem ou não elegem, apoiam ou não apoiam estas ou aquelas boas ou más direcções; que definem a (não) ambição ou (não lucidez dos que dirigem, pela sua (não) exigência, pela sua (não) compreensão do que (não) é o Clube e do que nele (não) está em causa. Continua depois nos dirigentes. E é destes que se transmite aos treinadores e jogadores. Os adeptos permanecem mais que os dirigentes; estes mais que os treinadores e jogadores. Os exemplos (bons ou maus) vêm antes de tudo, e à proporção, dos que mais permanecem.

Em última instância, somos nós, TODOS OS BELENENSES, os responsáveis pelo que de mau ou bom acontece no clube. Não podemos escolher mal e, depois, “crucificar” aqueles mesmos que (se calhar imprudente ou conformadamente) elegemos. Não podemos ficar cegos a tudo o que não é o imediatismo de um ou dois jogos, contratações ou dispensas e, depois, quando as coisas correm mal, disparar em todas as direcções - vendo-se tantas vezes os tais que, ainda há pouco tempo, estavam eufóricos, a insultar tudo e todos. Quando não se esteve atento, nada se percebeu… e depois, nem se sabe em quem descarregar as culpas – levam todos por tabela!

Por favor, não digam que isto não tem a ver com o presente e o futuro. Uma das minhas grandes revoltas é com a mentalidade que resume tudo a um simplismo. Vejamos esta época: está tudo bem ou está tudo mal à 7ª jornada? O clube define-se pelo presente treinador e por vinte e tantos profissionais? Ou não será que o clube começa muito antes e prolonga-se muito para além desse epifenómeno? E temos ou não o dever de incentivar as nossas equipas – sempre, porque é o clube que está em causa, e não este treinador, aquele jogador, aqueloutro dirigente -, como temos o dever (mais que o direito) de estar atentos, de aplaudir o que está bem e criticar o que está mal, de propor soluções, de fazer sugestões, de termos uma sadia ambição, de preservarmos (antes de tudo em nós mesmos) a identidade do clube, de vê-lo com um todo?

Que mentalidade há no clube? Em que direcção caminhamos? Que projectos existem? Que imagem é que o clube projecta de si? Que respeito é que impomos (ao público em geral, aos “media”, aos jogadores)? Que opções estratégicas devem ser feitas? Em que é que vamos apostar? Como trazer público, gente, POVO, ALMA ao nosso estádio? Estas, sim, são questões realmente importantes, e não se o malandro do treinador devia ter posto X no lugar de Y, ou se os jogadores A ou B (que, se calhar, para o ano, já vestirão outra camisola), fizeram um grande jogo ontem ou se deram um “frango” e perderam um golo de baliza aberta.

Porque, em última instância, quando as coisas correm mal, o culpado… somos todos nós! Como a todos nós cabe mérito (em proporções diversas, claro), naquilo que corre bem. Porque…

O BELENENSES SOMOS TODOS NÓS!

terça-feira, outubro 26, 2004

Jogadores que me marcaram - Mauro Airez

É muito difícil eleger um jogador azul para aqui salientar, de entre tantos e tantos bons jogadores e bons homens, que pelo clube passaram. Os obstáculos a esta tarefa são inúmeros... Se determinada característica os coloca num patamar superior, logo outra nos faz recordar que existiu outro jogador, mais dotado ou mais útil para a equipa. Se por um lado é fácil recordar golos e jogadas inesquecíveis, por outro são frequentes casos, saídas “a mal” e outras peripécias que envolvem este ou aquele craque em situações pouco dignificantes para a sua dignidade profissional e pessoal.

Tenho apenas 26 anos e por isso o meu universo de craques possíveis é bem mais reduzido que o de outros amigos belenenses... Se tivesse de escolher um ou dois jogadores azuis, incluindo aqueles que fazem actualmente parte do nosso plantel, não hesitaria em distinguir Marco Aurélio e Tuck. Mas a regra aqui parece ser escolher um jogador do passado, longíncuo ou recente. E por isso escolhi Mauro Airez.



Não existindo propriamente uma tradição de jogadores argentinos no Belenenses, é verdade que são muito boas as recordações que os jogadores provenientes daquele país nos deixaram. Scopelli e Miguel Di Pace – o qual tive o prazer de conhecer, no Verão passado – por exemplo. Mais recentemente, em meados dos anos 90, surgiu no Restelo um herdeiro do talento sul-americano do País das Pampas.

Mauro Airez chegou a Portugal já com um curriculo invejável. Internacional argentino – esteve presente na selecção olímpica em Seul (1988) e em jogos internacionais nos anos seguintes –, Mauro alinhou no Independiente e no Bari (Itália), e por isso era portador de grandes esperanças. Na minha opinião não defraudou, enquanto jogou no Belenenses.

Na verdade, pode-se mesmo dizer que a sua carreira conheceu um novo impulso durante a sua passagem pelo Restelo. Titular quase indiscutível, temível na frente de ataque pela sua mobilidade e capacidade de remate quase imediata, Mauro Airez valeu ao Belenenses importantes golos. Recordo com alguma nostalgia jogadores que com ele alinharam, e que formaram a dada altura uma bela equipa. Emerson foi talvez o que mais saudade deixou.

De Mauro Airez recordo jogadas fantásticas. A mais fantástica de todos aconteceu um dia contra o Boavista, num jogo disputado no Restelo certo domingo à tarde. Miúdo de 14 ou 15 anos fui ver o jogo sozinho para um topo norte muito bem composto. O ambiente era fantástico nessa tarde, que recordo como se fosse hoje.

A dada altura Mauro pega na bola antes da linha de meio campo e avança alguns passos. Um jogador normal levantaria os olhos do chão apenas para procurar uma linha de passe, mas o argentino tinha um faro de baliza próprio dos avançados da terra do fogo... Olhou para a baliza e apercebendo-se de que o guardião axadrezado se encontrava razoavelmente avançado no terreno – creio que era Alfredo – o avançado belenenses, já em queda, arriscou um balão colocadissímo. Estava feito o 1-0, para a alegria de muitos sócios e adeptos presentes no Estádio. Nunca mais me esqueci daquele golo. Talvez porque ter acontecido no primeiro jogo a que assiti sozinho.

Alguns anos mais tarde, Mauro Airez saiu do Belenenses para tentar a sua sorte no Benfica. Recordo que nessa mesma altura o outro Mauro (Soares) foi para o Sporting, num processo complicado que me deixou ainda mais avesso ao clube de Alvalade.

A aventura benfiquista de Airez teve os seus altos e os seus baixos. Mais baixos que altos, para dizer a verdade. Assim, da sua passagem pela Luz (que aconteceu durante os anos em que mais custou aos benfiquistas iniciar o longo jejum de títulos que apenas terminou no ano passado, com a conquista da Taça de Portugal) fica apenas a memória dos tristes acontecimentos no momento da saída.

Já "trintão", o argentino ainda tentaria a sua sorte na segunda divisão... Triste sina a de um avançado que me encantou por diversas vezes.

Jogadores que me marcaram - Lula

Um dos jogadores que me impressionou mais pela sua classe no Belenenses foi o Brasileiro Lula, por nós contratado à União de Leiria em 1994/95. Após ter feito uma boa época em Leiria, na altura um clube ainda sem a projecção que conseguiu granjear nos últimos anos, veio para o Belenenses fazer dupla com Paulo Madeira.

Lula havia já sido campeão mundial de clubes pelo São Paulo no início da década de 90, altura em que andou envolvido num litígio entre Famalicão e Sporting pela sua contratação. Para além disso, foi jogador pré-convocado para o Mundial de 1990 e era um jogador com uma imagem muito boa no Brasil.

Assim sendo, a sua contratação foi importante para um Belenenses que na altura se dizia no caminho do sucesso e em busca, custasse o que custasse, desse mesmo sucesso. Claro que a curto prazo viemos a constatar qual o custo dessa busca pelo sucesso (porque sucesso, nem vê-lo): um clube quase a fechar portas e o surgimento de homens com coragem que tomaram o leme e o colocaram de novo no caminho da estabilidade, condição essencial para o sucesso.

Lula era um jogador fantástico, com elevado sentido posicional e uma capacidade de desarme junto à relva perfeitamente fantástica. A seu lado, Paulo Madeira era o patinho feio da defesa, capaz de fazer alguns disparates. Na época seguinte, com a saída de Lula para o Porto, Paulo Madeira fez uma grande época, foi ao Euro96 e mostrou que afinal não era ele que era mau. Lula é que era fantástico!

Nessa temporada em que acabámos num honroso 6º ou 7º lugar (não posso precisar), perdemos uma oportunidade fantástica de ficar num 2º ou 3º lugar no campeonato, pois com o plantel que tínhamos éramos “obrigados” a lutar pelas 4 primeiras posições. No entanto, um jogo em Guimarães a umas 6 ou 7 jornadas do final, foi o início de uma curva a pique. Nesse jogo, que merecíamos ganhar (Catanha em cima da linha de golo chutou com o pé direito contra a perna esquerda!), fomos infelizes e perdemos o 5º lugar para o Guimarães.

Lula sai no final dessa época do Belenenses, após prestações espectaculares, nomeadamente com os grandes, que lhe valeram o reconhecimento público e o levaram ao Estádio das Antas, juntamente com outros colegas do Belenenses: Bino, Tulipa, Fernando Mendes e Neves. No Porto, no entanto, sofre várias lesões que lhe retiram espaço na equipa, ainda por cima numa altura em que o Porto tinha uma dupla de centrais muito rotinada e de elevada qualidade, composta por Jorge Costa e Aloísio. Ainda assim, fez alguns jogos pelo Porto nas duas épocas seguintes e era um jogador respeitado pelo público das Antas.

Na época passada Lula, já com uns 35 anos, voltou a Portugal para jogar na 2ª Liga. Não sei com que resultados práticos. Mas sei que tenho saudades de o ver jogar pelo meu Belém. Mesmo que tenhamos neste momento a melhor dupla de centrais desde o início dos anos 90. O Lula é um jogador que jamais esquecerei.

segunda-feira, outubro 25, 2004

Opiniões

Em todo o lado, há sempre gente com opiniões diferentes. Também nos clubes, também na Blogosfera. O mais importante é que todos se respeitem e aprendam algo com as opiniões diferentes dos outros.

Somos várias pessoas a escrever no Blog, umas com mais assiduidade, outras com menos, mas todos nós com amor ao Belenenses. É isso que nos move e nos faz perder muitas horas do nosso tempo livre.

Criticamos quando achamos que devemos criticar, felicitamos quando assim é oportuno e é isso que queremos sempre, felicitar. Infelizmente, nem sempre é possível, e quando assim é não hesitamos e damos claramente a nossa opinião. Como é óbvio, recebemos de braços abertos as críticas à nossa opinião.

O que não podemos admitir é que "encapuçados", escondidos sob pseudónimos, venham insultar quem, pouco ou muito, algo faz por amor ao clube.

Vem esta questão a propósito, em especial, dos ataques constantes de que é alvo o Eduardo Torres, pessoa que muito prezo e que tanto nos tem ensinado sobre o nosso clube através dos seus artigos. Demagogos chamam-lhe demagogo. Ele apresenta factos que suportam a sua opinião. E nunca o viram ser ofensivo com alguém que educadamente tenha exposto diferente ponto de vista. Eu tenho em muitas situações pontos de vista claramente diferentes do Eduardo, mas acho isso extremamente salutar, pois permite discutir assuntos e permite que mais facilmente se chegue a uma resposta mais completa.

Todos os artigos têm duas componentes: uma factual e outra subjectiva. Todos! Aprendemos na escola que em Aljubarrota era 1 português para cada 10 castelhanos. Aprende-se em Espanha que em Aljubarrota os portugueses eram mais do dobro e apanharam os castelhanos de surpresa. Quem tem razão?

Ao lermos um artigo puramente factual, dificilmente faremos uma análise perfeita da situação. Ao lermos um artigo puramente subjectivo, pura e simplesmente ficamos com uma ideia deturpada da situação. Ao lermos um artigo que junte as duas, conseguimos agilizar o nosso próprio raciocínio e encontrar pontes para formar a nossa opinião, mesmo que contrária à da outra pessoa. E aí é nosso dever, ao ter uma opinião contrária, também nós factual e subjectivamente colocá-la à consideração dos outros.

O Blog está aberto a todos, com as mais variadas opiniões. Basta enviarem um e-mail e o artigo será publicado, sem qualquer tipo de censura. Espero sinceramente que, como tem acontecido até agora, quem o faça escreva um artigo com paixão e razão. Porque uma sem a outra só levam à mentira.

Não posso compreender que as pessoas sejam acusadas pelo seu amor ao clube. Quem o faz, certamente não tem amor ao clube, mas sim ao seu próprio ego. O Belenenses precisa de todos os belenenses que tenham ideias e opiniões para partilhar, porque só assim ajudaremos a construír um clube cada vez melhor.

domingo, outubro 24, 2004

De Alvalade, viemos com a desilusão

Foi um jogo esquisito aquele a que assistimos ontem em Alvalade. Já li vários comentários ao jogo, e a minha leitura difere um pouco daquela que os adeptos estão a ter.

O Sporting é uma equipa a subir os níveis de confiança e de jogo, e esperava-se um ambiente intimadatório pela presença de muitos adeptos. Assim, em vez de partirmos para cima deles desde início, deixando espaço nas costas para o contra-ataque que é a sua melhor arma, entrámos em campo com uma estratégia simples:
segurar o 0-0 durante a 1ª parte
ganhar na 2ª parte, tirando partido da reacção do público

Durante a 1ª parte tivesmos um Belenenses ultra-defensivo, a fazer correr o Sporting, mas essencialmente a fazê-lo desesperar. Assim, a única oportunidade de golo do Sporting foi um lance em que Marco Aurélio falhou e em que, penso que Beto, não conseguiu empurrar a bola para a baliza. De resto, o Sporting mostrava ser um deserto de ideias e não mostrava argumentos para marcar golos.

Quando chegou o intervalo, ao ouvir a assobiadela dos adeptos do Sporting, disse ao Pedro Cruz, que estava ao meu lado: "Vamos ganhar, o Estádio já está muito nervoso. Agora vamos entrar para ganhar e o Estádio vai-nos ajudar." Era claro durante o intervalo o nervosismo dos Sportinguistas nas bancadas.

Começou o 2º tempo e o Belenenses surge sem alterações, para passados uns minutos saírem Neca e Zé Pedro e entrarem Brasília e Petrolina. Nesse momento o Belenenses domina o jogo durante uns 15 a 20 minutos, o jogo abre e o golo podia acontecer para qualquer um dos lados. É nesta altura que Antchouet falha a melhor ocasião do jogo, mas parece-me que há que ser dado mérito a Ricardo, pois a defesa pareceu-me boa. Dá-se então o que me parece, aí sim, ter sido um erro de Carvalhal, fácil de criticar agora: uma vez que o Sporting começou a "atinar" com as marcações a meio-campo e começou a tomar as rédeas do jogo, Carvalhal refrescou o meio-campo com a entrada de Tuck para o lugar de Rodolfo Lima. Ora esta troca traduziu-se em que deixasse de se pressionar os defesas e as subidas dos laterais ficaram descobertas. Apesar de Tuck ter jogado bem, foi uma substituição que desequilibrou a equipa. Na minha opinião, deveríamos ter trocado o Marco Paulo, completamente esgotado e francamente infeliz (acertou algum passe?). Mas agora é fácil falar.

Em suma, não partilho da opinião de que fomos pouco ambiciosos. Percebo porque o dizem, mas acho que há que dar valor ao facto de irmos para o jogo com um estratégia para o ganhar. E quem viu o jogo sabe que na 2ª parte tudo poderia acontecer. É preciso não esquecer que este Sporting, apesar de fraquinho, não é o Sporting de há um mês atrás. Mas compreendo que achem a estratégia muito defensiva, também o acho. Mas sei porque vi e ouvi na manhã de ontem no estágio da equipa, que havia uma vontade muito grande de ganhar. Seguindo a estratégia à risca.

Para a semana vem o Boavista, esse sim um jogo mil vezes mais importante, e em que eu acredito que vamos ganhar.

sábado, outubro 23, 2004

Derby Lisboeta

Tem lugar hoje, pelas 21:30, no Estádio Alvalade XXI, um dos derbys Lisboetas, entre o Belenenses e o Sporting. À partida, é um jogo que terá tudo para ser uma óptima partida de futebol, assim não seja estragado pelos intervenientes:
- de um lado, uma equipa com ambições altas que começou mal, andou pela linha de água e cuja vitória na última jornada é um tónico e um sinal de recuperação, porém um empate ou uma derrota amanhã seriam uma sombra a pairar sobre a equipa leonina, que tem um guarda-redes francamente mau e uma defesa permissiva nas laterais. O meio-campo tem bons executantes, mas está super-povoado no centro e não há ninguém nas alas. O ataque que vive de um só homem (honra lhe seja feita, um óptimo avançado), Liedson, e de Douala quando lhe apetece aparecer.
- do outro lado, o Belenenses está a fazer um bom campeonato (em que tem tido até alguns azares que custaram pontos), tem o melhor ataque da prova e encontra-se motivado, apesar do fantasma do jogo das Antas pairar novamente nesta visita a um dos beneficiados do costume (e a precisar de ajuda). O Belenenses tem aquele que é claramente, a par de Moreira, o melhor guarda-redes em Portugal (e agora em Portugal e DE Portugal) e uma dupla de centrais muito forte. A grande pecha defensiva é o lado esquerdo, extremamente permissivo. O meio-campo é interessante em termos tácticos e de troca de bola, mas falta alguém que dê mais consistência, um verdadeiro trinco. No ataque, estão disponíveis Antchouet, Rodolfo Lima e Eliseu, todos eles jogadores de capacidade superior.

Para o fim, deixo o apelo a todos os adeptos azuis: vamos a Alvalade apoiar a nossa equipa, que tão boa conta de si tem dado. Desta vez até os bilhetes são relativamente baratos.

sexta-feira, outubro 22, 2004

MAIS PALHAÇADAS, NÃO!

(Artigo da autoria de Eduardo Torres)

Depois da palhaçada no Estádio do Dragão, já aqui comentada por vários de nós, que exprimiram a sua revolta pelo que se passou, e a sua revolta pela não revolta de responsáveis do nosso clube – que esperávamos fosse tão firme como educada, na melhor tradição belenense -, assistimos a uma semana inteira de números de circo e jardim zoológico!

Um clube que queria bilhetes mas não os pediu, mas mesmo assim protestou, adeptos que queriam bilhetes, mas o outro clube não lhos vendia, um clube proclamado campeão à 5ª jornada e a pensar receber a coroa na 6ª (jornada), o relato pormenorizado do épico jogo-treino desse clube com o Pinhalnovense, um Presidente de clube a chamar o outro de “sujeito”, e o referido sujeito a chamá-lo de “fantoche com cara de anjinho”, ambos sem ousarem dizer o nome (nem que fosse Sr. Vieira ou Sr. Costa), como se tal fosse a pronúncia de uma fórmula diabólica, e os jornaleiros doidinhos or destas guerras a ampliarem estas e outras declarações incendiárias – foram essas as coisas que fizeram 70 ou 80% das notícias desportivas.

E veio o fim-de-semana. Relatores deliravam com a vitória de um clube de camisola verde e branca, nem reparando que, por acaso, estava a jogar com um outro clube, que por acaso até é português. Deliravam, gritavam e cantavam loas (“loas”, não “leoas) à “salvação da pátria” (deles).

E veio o jogo das feras no Domingo ao fim do dia. O tal jogo que repórteres e jornaleiros haviam esperado ávida e penosamente, tendo até – cúmulo dos fretes! – de assistir a jogos dos “outros” (“não se pode acabar com os outros clubes(”, terá sussurrado o subconsciente de alguns). E foi lindo: jovens a atirar bolas de golfe não se sabe bem para atingir a quem, 3.000 adeptos metidos no espaço destinado a menos de 2.000, uma bola que entrou mas não foi golo, um presidente que quis falar mas cortaram-lhe o som, a mulher do mesmo com um cartaz na bancada a dizer “Orelhas, eu estou aqui” (com um desenho aparentemente alusivo ao presidente do clube rival), a mulher do mesmo a ser classificada como não mulher mas apenas namorada do que queria falar mas a quem foi cortado o pio pela malta do dito “Orelhas” - o tal que tem família e nunca arruinou empresas, mas não cumprimentou o Vale e Azevedo e festejava os golos do Porto contra o Benfica mas que agora é presidente do Benfica e está contra o Porto e já ameaçou com uma revolta quando ele decidir (onde é que já ouvimos isto?), porque o sistema que um dia antes não existia, embora já tivesse existido, voltou a existir e terá dado a vitória ao adversário… é isto o futebol português?! Numa só palavra: palhaçada! Uma só pergunta: “e não se pode cortar-lhes o pio… a todos, ao menos, reduzir-lhes o tempo de antena a 1/10?” (aqui, sem ironia, acrescento: ainda bem que o Belenenses tem um Presidente educado, a milhas de distância destas arruaças!).

E no próximo fim-de-semana o Sporting tem de ganhar! Já sabemos que eles, os próprios e não só, acham que têm que ganhar. E, mais uma vez, é contra nós. E… já vimos esta cena muitas vezes. E… o sistema tem vários donos! E… nós não somos nenhum deles! E…, não quero fazer de vate, mas, como dizia o Octávio “Vocês sabem do que é que eu estou a falar!”…

Por favor, mais palhaçadas, não! Ao Belenenses, no jogo contra o Sporting, deixem.nos ganhar, se o merecermos. Ou que sejamos derrotados (porque no desporto há ganhar e perder) mas sem anormalidades.

Mais palhaçadas, não, obrigado!

quinta-feira, outubro 21, 2004

Se bem me lembro…

Já lá vão uns anos, penso que 6. O Belenenses recebia o Benfica no Restelo e chega aos 2-0 a meio da segunda parte. Era a euforia entre as hostes azuis pela vantagem sobre o rival Benfica, na altura a viver momentos complicados (um hábito na última década).

Mas eis que de repente a equipa de arbitragem decide tomar parte activa no encontro, tomando para si o protagonismo:
- Edgar arranca em posição claramente irregular e o árbitro auxiliar (cujo nome não tenho a certeza, pelo que não vou arriscar enganar-me) não sanciona, surgindo assim o 2-1
- surge depois o momento mais caricato do jogo, e provavelmente dos mais caricatos de sempre no estádio do Restelo, quando há um remate do mesmo Edgar que o guarda-redes Valente encaixa em queda, sem qualquer problema. Ora aqui é que, em bom português, “a porca torce o rabo”… o árbitro auxiliar levanta a bandeirola, toda a gente pensava para assinalar um qualquer fora-de-jogo, e chama o árbitro Vítor Pereira. Momento de apreensão no Estádio e o árbitro apita para o centro do terreno!!!

Quase todas as semanas há lances duvidosos em que uma bola bate na barra, vai à relva e ressalta para fora da baliza, ou em que o guarda-redes entra dentro da baliza para defender, ou até mesmo aquele lance típico do defesa que corta sobre a linha, mas tem os pés atrás dela. Neste caso não! Houve um remate, Valente encaixa a bola e cai na relva, claramente dentro das 4 linhas. Mas o árbitro auxiliar assinala golo…

Havia na altura, no Domingo Desportivo, um óptimo auxiliar chamado “imagens virtuais”, que semanalmente clarificava situações de fora-de-jogo. Nesse Domingo foi utilizado para se saber se a bola tinha ou não entrado. Imaginam o resultado?

Para os menos lembrados, passo a enumerar o que as imagens virtuais permitiram concluir:
- a câmara acompanha sempre a bola e mostra claramente que a bola nem sequer chega a ficar sobre a linha de golo!
- e se a evidência anterior já era grave, o que dizer da que se segue: a imagem virtual foi colocada ao nível da cabeça do fiscal de linha, que aparecia numa das imagens, e a verdade é que o fiscal de linha NÃO consegue ver a bola, na medida em que esta se encontra coberta pelo corpo do guarda-redes que, repito, estava claramente fora da baliza!!!

O que é isto? Um escândalo! O fiscal de linha assinalou um golo em que nem sequer vê a bola! Relacionando com acontecimentos recentes em que os beneficiados do costume, por serem prejudicados uma vez, falam no fim do mundo e do universo, devo dizer que me parece bem mais honesto não assinalar um golo em que há dúvidas que a bola tenha entrado do que em assinalar um golo em que a bola não entrou e, cúmulo dos cúmulos, nem sequer se vê o lance!

Com base nestas imagens virtuais estalou a polémica, em grande parte pelo facto de ser mostrado claramente que o fiscal de linha NÃO via a bola. O árbitro, a alguns meses do Mundial 98, veio logo no dia seguinte dizer que na sua opinião a bola não tinha entrado, mas o fiscal de linha garantiu-lhe que a viu lá dentro, portanto, assinalou o golo. Quando questionado novamente pelo entrevistador, o árbitro disse claramente que viu que a bola não entrou, mas seguiu a instrução do fiscal de linha… o árbitro escapou incólume e o fiscal de linha foi suspenso umas 2 ou 3 semanas! O árbitro que assinalou um lance em que tinha a certeza que não era golo escapou. Aliás, a imprensa fez uma mega-campanha de forma a abafar o caso, pois a proximidade do Mundial 98 e o facto de Vítor Pereira ser o único português a marcar presença tornavam importante que este não fosse suspenso. Uma espécie de desígnio nacional, enviar um incompetente para a maior competição internacional.

Por último, alguém se lembra do que aconteceu às imagens virtuais? Acabaram nesse mesmo dia… eram perigosas! Afinal, até já podiam mostrar o que a equipa de arbitragem não via e fingia que via… eu não me hei-de esquecer.

quarta-feira, outubro 20, 2004

A DÉCADA DE 70 - PARTE V – AZUL CINZENTO - A Época de 76/77



No final da época de 75/76, a nossa equipa de futebol, que tivera uma época brilhante, sofreu uma nova sangria, a que acresceram alguns percalços como (salvo erro) a prolongada lesão de Vasques. Mas esse facto tem sido objecto de mais uma das muitas mistificações que nos pretendem colar a determinado(s) clubes(s) para alinharmos nas suas guerra(s) contra outros.

Defendo um Belenenses equidistante dos 3 clubes cada vez mais privilegiados do futebol e desporto português, e que, pelo contrário, ajude a congregar a justa reacção dos restantes clubes. Sempre estive contra a situação de recorrer a empréstimos, que sempre nos subalterniza e torna dependentes, venham eles do Benfica, do Porto ou do Sporting (coisa diferente, é se vierem de clubes estrangeiros) e que sempre, mas sempre, deu maus resultados (são factos! E podem ser sempre verificados, até...). Sempre fui contra alianças com o Benfica contra o Porto, com o Porto contra o Benfica e o Sporting, com o Sporting contra não sei o quê. A esta luz, gostava de repor a verdade face às afirmações do género "foi o Porto que de repente nos levou os jogadores todos e nos deu cabo da equipa, portanto vamos aliar-nos aos outros clubes de Lisboa contra eles". Assim, mais uma vez com factos, relembremos como foi sendo desmembrado o notável grupo de jogadores que se haviam reunido:

Fim da época 73/74:

Eliseu e Luís Carlos voltam para o Brasil
Mourinho termina carreira
Murça sai para o F.C.Porto

Fim da época 74/75:

Quinito sai para o Santander

Fim da época 75/76:

Pietra sai para o Benfica
Freitas sai para o Porto

Mais tarde, já numa fase muito cinzenta, teríamos as saídas de Gonzalez para o Porto (no fim da época 76/77), de Delgado para o Benfica (salvo erro no fim de 78/79. Ou seria 79/80? Tenho que confirmar) e, depois, de Melo, Nogueira e Esmoriz para o Sporting, entre 79 e 81. Portanto, as saídas foram bastante distribuídas e acho lamentável que se distorçam os factos para nos envolver em guerras de que, qualquer que seja o(s) aliados(s) ou o(s) inimigo(s), saímos sempre a perder...

Com a equipa mais uma vez enfraquecida, a época de 76/77 foi um primeiro grande passo em direcção ao abismo, com a “prestimosa” ajuda de árbitros que nos prejudicaram escandalosamente durante essa época. A 2 jornadas do fim, ainda estávamos em risco de despromoção. Ficámos livres, ao vencer penosamente o Atlético por 2-1. O Atlético desceu da 1ª Divisão para não mais voltar e alguns (maus) belenenses tiveram a ideia de ir à Tapadinha, na última jornada, acenar-lhes com lenços brancos (o que eles retribuíram quando da nossa 1ª descida. Mas a primeira e má iniciativa foi nossa, sejamos justos, porque nenhum clube tem o monopólio das boas ou más pessoas), enquanto a nossa equipa, esfrangalhada e apática, era massacrada nas Antas por 8-0, com Gomes a marcar golos em série na última meia hora até ganhar a bota de prata, numa tarde de angústia e vergonha.

E boas recordações?

Para o campeonato, basicamente duas: uma vitória por 2-0 sobre o F.C.Porto (o que na altura não era um feito por aí além, pois não havia a décalage que se foi gerando posteriormente), com o treinador Carlos Silva (um belenenses de alma, como jogador, treinador e sócio) a chorar de comoção agarrado aos jogadores no último jogo da 1ª volta e, poucas jornadas depois (na melhor fase da equipa), um empate 1-1 na Luz, consentido a escassos minutos do fim (no jogo da 1ª volta, à 5ª ou 6ª jornada, no Restelo, cheiíssimo, com perto de 50.000 pessoas), o Benfica, que tinha começado pessimamente o campeonato – que acabou por ganhar -, aos 10 minutos já ganhava por 3-0! Recompôs-se o Belenenses, na 1ª parte ainda reduzimos para 1-3, na 2º parte fizemos 2-3, podíamos bem ter chegado ao empate, mas aqueles 10minutos loucos deram cabo de nós...).

No entanto, a memória mais agradável, apesar do azar que nos perseguiu, foi a eliminatória da Taça UEFA com o Barcelona (já é sina!).

A primeira mão foi no Restelo, em 15 de Setembro de 1976. Estava uma excelente assistência. “A Bola” falou em 35.000 pessoas. Assim na edição de 16 de Setembro de 1976, podemos ler na pág. 5, o seguinte:

“ NÚMEROS DO RESTELO”
1500 CONTOS
35 MIL PESSOAS

Apesar da falta de Cruijff, a grande "estrela dos catalães", o certo é que o nome do Barcelona levou muita gente ao Estádio do Restelo para ver em acção o "seu" Belenenses contra um dos "papões" do futebol europeu.

(...)

Segundo fomos informados no final da partida, o Belenenses deve ter arrecado cerca de 1500 contos provenientes de 35 mil pessoas”

Note-se a expressão “SEU BELENENSES”..... O nome da Barcelona atraiu muita gente mas, atenção, gente do Belenenses. CERCA DE 35.000 PESSOAS, com bilhetes caros e numa fase de generalizado aperto de cinto.

O Barcelona, de facto, estava recheado de estrelas, onde sobressaía o extraordinário Cruijf mas, também, o genial médio Neeskens e o treinador Rinus Michaels, figuras de proa da laranja mecânica (a grande selecção holandesa vice campeã mundial em 74 e 78) e do grande Ajax do início dos anos 70 (curiosamente, Rinus Michaels haveria de voltar a defrontar o Belenenses, 12 anos mais tarde, quando eliminámos o Bayer Leverkusen, por ele então treinado. Em ambas as vezes, elogiou muito o Belenenses. Um verdadeiro senhor!) e ainda, por exemplo, o argentino Herédia, e internacionais espanhóis de grande cartel (históricos do seu país), com destaque para Asensi.

Recordo-me com entranhado carinho dessa noite. O Barcelona parecia tão grande e a nossa equipa tão enfraquecida (pela referida sangria). E pior as coisas ficaram quando, cerca dos 15 minutos, o Barça fez 1-0....No entanto, a pouco e pouco, passou a nervoseira, o Belenenses empertigou-se, encheu o peito e, aos 29 minutos, Quaresma, a passe de Alfredo empatou! Uma grande explosão de alegria!

A 2ª parte trouxe um cenário bem diferente. Agora, o Belenenses sentia que podia ganhar o jogo e ir disputar a 2ª mão em vantagem. A equipa e o público acreditaram, empolgaram-se e, aos 55 minutos, chegámos aos 2-1, com golo de Luís Horta em livre directo: 2-1! Foi o delírio! O estádio fervilhava de entusiasmo! Continuámos ao ataque, a procurar aumentar a vantagem, para o que dispusemos de várias oportunidades, até que, numa jogada individual de Herédia, a pouco mais de 5 m do fim, o Barcelona empatou. Não merecia...mas empatou!

Passadas 2 semanas, fomos disputar a 2ª mão à Catalunha. Aparentemente, estaríamos condenados. E a ideia parecia ganhar consistência porque, logo a abrir, o Barcelona fez 1-0. No entanto, ainda antes do intervalo, igualámos o marcador. Na 2ª parte, o Barça faz 2-1 e o Belenenses empata o jogo e a eliminatória (empate total: 2-2 em ambos os jogos). Só que, a 3 ou 4 minutos do fim, o “golpe do costume”, com o 3-2 para o Barcelona. Dizia o grande Quaresma, um jogador 100% Belenenses: “Quando vi o árbitro a apontar para o centro do terreno, como que a sentenciar a nossa eliminação, apeteceu-me esmurrá-lo!”.

O resto da época futebolística, como disse, foi triste e, para mim (ou quanto a mim), parece marcar uma viragem para os tempos “modernos”, de um Belenenses encolhido e acinzentado.

Mas não quero acabar com tristeza. Lembremos que, nessa época, nos sagrámos novamente Campeões Nacionais de Andebol. E o Pavilhão continuava a ser construído...

segunda-feira, outubro 18, 2004

Grande Belém!

Ontem o Belenenses deu mais uma prova cabal da grande diferença que opõe a equipa deste ano à do ano passado: é uma equipa. É uma equipa capaz de jogar, de lutar contra as adversidades e de nunca desistir. É uma equipa, também, capaz de encantar.

Num jogo complicado, em que o Penafiel veio defender o 0-0 e explorar o contra-ataque, com um meio-campo super-povoado, o Belenenses teve dificuldade em explanar o seu futebol, apesar de ser claramente a melhor equipa. O Penafiel ia incomodando pelo nosso lado esquerdo (por onde haveria de ser?), mas o Belenenses já havia criado algumas oportunidades e o jogo parecia complicado, mas com solução à vista.

Surge o golo do Penafiel (temos de admitir que fomos beneficiados pelo árbitro, o Marco Aurélio deveria ter sido expulso. Pena que não haja justiça no futebol, sempre. Assim sendo, ontem o MA teria sido expulso. Temos de ser coerentes.) e um período de algumas dificuldades, até pela intensificação do jogo defensivo dos durienses. No final da primeira parte, surge um penalty a nosso favor que Lourenço, que tão bem os tem cobrado, hesitou e permitiu a defesa de Nuno Santos com um remate fraco. No entanto, o guarda-redes penafidelense defende a bola já à entrada da pequena área, pelo que o árbitro correctamente ordenou a reexecução do castigo. Na 2ª tentativa, o mesmo Lourenço chutou na relva e de raspão na bola, que saíu muito devagar e ao lado da baliza.

Surgia o intervalo com um sentimento de frustração nas bancadas, e temia-se pela 2ª parte. Seria que a equipa era capaz de aguentar aquele revés?

1ª jogada, passe em profundidade de Rodolfo Lima, mas impreciso, com o central do Penafiel a dar uma fífia de todo o tamanho e Antchouet oportuníssimo a aproveitar. Era o 1-1 e o Belenenses com uma alma nova. Alguns minutos volvidos, mais um golo de cabeça de Rolando, cada vez mais um grande valor ao invés de uma promessa. Seguiu-se a expulsão de Mariano e Antchouet (que provocou a expulsão) ainda marcou um e forçou Nuno Silva a fazer um auto-golo. E outros golos ficaram por marcar.

Nota de destaque para as exibições de Antchouet (pode ser trapalhão, mas já leva 4 golos e só ontem foram 2 golos, "sacou" um penalty e provocou uma expulsão), Rolando (forma com Pélé uma dupla fantástica e marca golos), Andersson (está sempre lá, não tem técnica mas não falha um passe nem perde uma bola, imprescindível) e Tuck (entrou a meio da segunda parte e deu uma lição de futebol. Já não é o Tuck que foi e que merecia uma carreira brilhante, porque sejamos sinceros, o talento de Tuck apareceu aos 28 anos na 2ª divisão, enquanto andou nos galos havia quem lhe chamasse "caçeteiro". A sua visão de jogo e simplicidade de processos é demolidora.

Concluíndo, mais uma vez o Belenenses mostra ter capacidade para inverter resultados e lutar contra as adversidades, e cada vez mais se torna claro que somos uma equipa. Assim vale a pena ir ao futebol, apesar de, volto a frisar, o Penafiel ter todo o direito a queixa-se da arbitragem.

PALAVRAS QUE FORAM DITAS - 26 - O Restelo nunca encheu? Claro que encheu! Acabemos com essa patranha!


Há anos que vemos repetido que o Estádio do Restelo nunca esgotou, que nunca na sua vida encheu, pior ainda que, mais coisa menos coisa, teve sempre pouco público!

Temos para nós que tal afirmação não demonstra só ignorância. Em alguns casos, assim será; mas, noutros, existe a intenção, por parte de adeptos de outros clubes, de menorizar o Belenenses. Noutros contextos, pior ainda, a afirmação é conveniente para alguns responsáveis do próprio Belenenses, que aí encontram justificação para o imobilismo que conduziu ao actual estado de coisas e o permite manter, não obstante os alertas que há muitos anos alguns vêm fazendo, e que mais recentemente se repetem (e ainda bem) nos blogs.

Há tempos atrás, num outro artigo, disse que já a meio dos anos 80 a diminuição das assistências no Restelo me preocupava (embora fossem muito superiores às actuais) mas que, ao falar nisso, esbarrava num muro de desinteresse. Apesar de tudo, não era o único a ter preocupações semelhantes, pois, no Jornal do Belenenses de 5/11/1987, na sua página 2, reproduzia-se uma carta do consócio Fernando Paiva, que escrevia o seguinte:

“É sabido e não contestado que o Estádio do Restelo é, em média, o quarto campo do País (depois das Antas, Luz e Alvalade) em número de assistentes por jogo [naquele tempo, de facto, ainda era assim. Actualmente…]. Não é, porém, essa a imagem com que ficamos ao vermos na televisão os resumos filmados dos jogos que aí se disputam. De facto, as filmagens televisivas teimam em mostrar-nos um estádio quase sempre vazio, sendo por isso deturpadoras em relação ao carinho que todos os Belenenses dispensam ao seu clube.

Face a esta situação, proponho aos nossos directores que envidem esforços no sentido de que as filmagens se passem a efectuar do lado oposto à bancada dos sócios, para que desta forma se acabe com a ideia de que o Estádio do Restelo é um deserto situado em Lisboa”.

Passaram-se 17 anos… e nada se fez. Prevaleceu a lógica de gestão medíocre de que só interessa a receita imediata. E como nada se fez, as coisas foram piorando ano após ano, até à actual situação catastrófica. PÚBLICO ATRAI MAIS PÚBLICO, PAIXÃO DESPERTA MAIS PAIXÃO, VITÓRIAS CRIAM UMA DINÂMICA DE VITÓRIA. AO CONTRÁRIO, DERROTAS ATRAEM MAIS INSUCESSOS, DESERTIFICAÇÃO TRAZ MAIS DESERTIFICAÇÃO, FRIEZA AFASTA CADA VEZ MAIS O PÚBLICO. E ENQUANTO NÂO SE DEVOLVER AO BELENENSES A ALMA E A PAIXÃO QUE O FIZERAM GRANDE, O PÚBLICO NÂO REGRESSARÁ EM FORÇA AO RESTELO. Podem dar-se voltas e mais voltas, apresentar sugestões diversas – úteis, sem dúvida, eu próprio as transmiti, e devem ser postas em prática –, que essa é a razão principal.


Voltemos, porém, à questão: o Restelo nunca encheu? O Restelo nunca esgotou? A resposta, em ambos os casos, é SIM!


* * *

… Na verdade, o Estádio do Restelo encheu logo no dia da sua inauguração. Aqui, poderão alguns perguntar, e de boa fé: mas não há fotografias desse dia em que se vêem clareiras?

A resposta é a seguinte: há, sim senhor, fotos em que, numa das centrais, a do lado onde actualmente ficam os sócios (no início, era ao contrário), se vêem lugares vagos. Mas isso não invalida a verdade de que o estádio encheu, porquanto:

1. Todas as outras bancadas estão cheias;
2. A bancada em causa (o anel superior da central) levava então, cerca de 5.000 pessoas, e só uma pequena proporção não está cheia;
3. As festividades da inauguração demoraram muitas horas, e, em alguns dos momentos em que as fotografias foram tiradas, ainda havia público a chegar (aliás, numa delas, vêem-se filas de gente cá fora);
4. Houve um desfile de 3.500 (três mil e quinhentos!) atletas representativos de 200 (duzentos!) clubes) em homenagem ao Belenenses, entre os quais 650 dos Belenenses (documentado na página 5 do nº 1535 de “A Bola”, de 24/9/56). E esses atletas foram, depois, ocupar esses lugares vagos, para assistir ao resto das festividades, nomeadamente o jogo de futebol em que batemos o Sporting por 2-1 (Não nos enganámos: foram mesmo 200 clubes e 3.500 atletas a homenagear o Belenenses. Com uma postura que obrigava a que nos respeitassem, nem por isso deixávamos de ter tantas e tão boas relações! A pensar… não será uma lição cujo valor nos pode iluminar o presente e o futuro?)

Aproveitamos para esclarecer que a lotação do Estádio era bastante superior à de hoje, quer por não dispor da comodidade (e beleza adicional, diga-se!) das cadeiras, quer por a bancada do lado do Tejo estar aberta (e tantas vezes a vimos cheiíssima!), quer por o anel superior do Topo Norte constituir então o Peão, i.e., zona de lugares em pé – e só esse anel superior do Topo Norte podia albergar 16.000 pessoas (contra as menos de 6.000 actuais, sentadas, e com cadeiras).

Para que não nos venham, pela 4ª ou 5ª vez, acusar de inventar, recorremos novamente a “palavras que foram ditas” (neste caso, escritas), mais propriamente na edição de “A Bola” de 22/9/56, em que o Capitão Francisco Soares da Cunha (o maior vulto da construção do Estádio e que, no ano seguinte, assumiria a Presidência), entrevistado por Vítor Santos (um grande jornalista!), declara: “Além da lotação do Estádio propriamente dito que tem, como se sabe, lotação para 44.000 espectadores (25.000 dos quais sentados e 10.700 cobertos)….”. E noutro artigo, no mesmo número e na mesma página, lê-se: “A bancada é coberta de um lado e do outro, ficando descoberto apenas o Topo Norte, onde o primeiro anel é ainda de bancada, ficando por cima o peão – tal como no Pavilhão dos Desportos, mas em maior, claro, pois tem lugares de pé para 16.000 pessoas”. (Curiosamente, na pág. 6 do mesmo jornal, alude-se a várias perspectivas possíveis para o futuro, entre as quais “a construção do anel [superior] do topo sul que, à custa da visibilidade do belo panorama do Tejo, permitiria um aumento de lotação de 18.000 lugares” – o que faria chegar aos 62.000!).

No dia seguinte à inauguração, em artigo que reproduziremos oportunamente, a edição de “A Bola” fala expressamente em 40 mil espectadores, e no encher, progressivo e impressionante, do Restelo, apesar do tempo chuvoso.

Vale a pena, já agora, acrescentar que 2 dias depois, em 25 de Setembro, se realizou no Restelo o 1º jogo nocturno, contra o Stade Reims, para estreia da iluminação. Estiveram presentes, no mínimo, 25.000 pessoas (documentado em “A Bola”, nº 1536, de 27/9/56, na pág. 5).

E vale a pena recordar que não só o tempo esteve chuvoso, como os bilhetes eram bastante caros. E assim é que, na edição de 29 de Setembro seguinte do mesmo jornal, o inesquecível Alves dos Santos, em antevisão da jornada (num artigo com o significativo título “Dos ‘4 GRANDES’ apenas o Belenenses parece em sossego”), escrevia sobre o jogo que o Belenenses disputaria no domingo com o Vitória de Setúbal: “A partida tem, desde logo, vários atractivos, primeiro porque constitui oportunidade de poder ver a ‘preços acessíveis (a quem ainda não viu) o maravilhoso Estádio do Restelo…”.

Em 2 fotografias que temos desse jogo do Restelo com o V.Setúbal (uma está publicada no site oficial), vê-se:

* O primeiro golo em jogos oficiais no Restelo, marcado por Matateu aos 12 minutos. O anel inferior da então bancada dos sócios, está cheio; o anel superior, mais de meio. Temos, assim, perto de 8.000 pessoas.

* Matateu a falhar a marcação de penalty, com o Topo Norte em fundo. O anel superior do Topo Norte (o tal que levava 16.000 pessoas) está cheio em toda a extensão visível. E no anel inferior, também se vê público… Podemos pensar em algo como 17.000 pessoas, o que somado às 8.000 que se vislumbram na outra foto, dá cerca de 25.000 espectadores.

Mesmo que nas restantes bancadas (as que hoje ocupam os sócios, mais o Topo Sul) só estivessem mais 5.000, teríamos 30.000 espectadores! Ou seja, em 3 jogos numa semana, com dois deles a preços muito caros e sob chuva, um às 10 da noite, num tempo de transportes bem mais difíceis do que actualmente, as assistências oscilaram entre 25.000 e mais de 40.000!

* * *

Bom, o Restelo estava cheio na inauguração, terá estado (quase) cheio em outras ocasiões mas… terá mesmo esgotado (i.e., ter-se-ão vendido todos os bilhetes) alguma vez?

Esgotou, sim senhor! E sabemos a data exacta da primeira vez em que tal ocorreu: foi no dia 1 de Fevereiro de 1959.

Mais uma vez, recorremos à prova documental. Assim no jornal semanal “Os Belenenses”. nº 266, de 6/2/59, podemos ler, em artigo publicado na pág. 6:

“O Belenenses – Benfica foi o grande caso desportivo da última semana.

O entusiasmo do público afecto aos DOIS GRANDESCLUBES, à medida que o domingo se aproximava, atingiu o auge. A procura de bilhetes pôs em delírio os amantes da bola.

O pequeno rectângulo de papel, tomou foros de lendário tesouro. Verdadeira luta de emoção de nervos e até de factos.

Tentava-se o apelo ao amigo, faziam-se valer conhecimentos antigos e modernos, tudo para que o tal papelinho deixasse de ser sonho para se tornar em feliz realidade. E, quando conseguido, era guardado, religiosamente, no fundo da carteira.

Todos queriam mais um bilhete; todos desejavam presenciar a luta dos dois grandes contendores.

E surgiu o inevitável. OS BILHETES ACABARAM.

Na secretaria do nosso clube a azáfama foi constante.

Manuel Vacondeus estava extenuado (…). Pensamos ser interessante ouvir as declarações deste antigo e competente funcionário de ‘Os Belenenses’ (…).

- Naturalmente que o senhor tem tido um trabalhão com este jogo, não é verdade?

- Como pode calcular! Creia, no entanto, que não é o trabalho excessivo que me tem preocupado, pois eu estou aqui para servir o clube e não para descansar. Aquilo que, na verdade, me preocupou e me fez bastantes dores de cabeça, foi A IMPOSSIBILIDADE DE PODER SERVIR TODOS OS SÓCIOS.

- MAS OS BILHETES NÃO CHEGAM PARA OS SÓCIOS?

- NÃO. OS BILHTES QUE NOS CABEM NÃO SÃO SUFICIENTES PARA SERVIR TODOS OS SÓCIOS. Além disso, há aqueles que desejam um número superior àquele que tínhamos estipulado, que era de dois a cada sócio (…)

- A afluência para o encontro de domingo foi na verdade fora do normal?

- Sim, e a justificar essa verdade está o facto de, pela primeira vez, O NOSSO ESTÁDIO SE ESGOTAR”.

Por mais que se queira enterrar o passado, ESTÁ ESCRITO. E FOI GUARDADO. E HÁ QUEM INSISTA EM PRESERVAR OS FACTOS – para que não se perca a memória, a identidade e a ALMA QUE FEZ ESTE CLUBE GRANDE, TÃO GRANDE QUE AINDA RESISTE! Agradecemos, pois, muito particularmente neste caso, ao amigo Álvaro Antunes, que nos facultou este documento.


A 1º vez que o Estádio do Restelo esgotou: um célebre jogo com o Benfica em Fevereiro de 1959


Haveremos, aliás, de voltar a citar largamente este mesmo nº do Jornal do Belenenses, visto que aquele jogo ficou célebre por outras razões.

Tantas vezes, nos anos 70 e nos anos 80 (por ex:, na época 86/87, nos jogos contra Benfica, Sporting e Porto), vimos o nosso estádio a abarrotar de público! Temos pena de já não ser assim, e de haver muitos belenenses que nunca assistiram a tal.



Belenenses, 2 – Sporting, 0, em 28 de Setembro de 1986, perante cerca de 45.000 espectadores (fotos e números da “Gazeta dos Desportos”)

Mas, muito provavelmente, a maior assistência num jogo jamais verificada no nosso Estádio ocorreu em 12 de Outubro de 1975, dia em que o Belenenses bateu o Benfica por 4-2 e assumiu a liderança do Campeonato. Terão estado cerca de 60.000 pessoas (SESSENTA MIL PESSOAS) NO RESTELO!

Também este facto está documentado. No nº 4494 do jornal “A Bola”, que saiu em 13/10/75, na pág. 4, lemos o seguinte sobre a assistência ao jogo Belenenses-Benfica disputado na véspera, e que vencemos por 4-2:

“CASA CHEIA, COM GENTE POSTADA EM TODOS OS SÍTIOS POSSÍVEIS, com muita borla e alguma inconsciência.

Alberto Mesquita, secretário-permanente do Belenenses chegou a manifestar-nos os seus temores pelo EXAGERADO NÚMERO DE PESSOAS PENDURADAS NO QUADRO ONDE SE ANOTAM OS RESULTADOS DO TOTOBOLA, chamando-nos, também, a atenção para um assistente que se encontrava no topo duma das torres de iluminação.

Mais tarde, viríamos a saber que a receita deverá rondar os 1.400 contos, para mais e não menos, pois os cálculos aproximados conduzem àquela conclusão.

Todavia a receita não está de acordo com o número de pessoas que assistiram ao encontro pois, a determinada altura, entrou muita gente sem pagar qualquer bilhete. Apesar disso, julga-se que TERIAM ESTADO NO ESTÁDIO DO RESTELO CERCA DE 60 MIL PESSOAS”.

Bom, e já agora que sempre se demonstrou a veracidade de factos por nós apresentados, quando eles – anónima e (ir?)responsavelmente - foram contestados e até ridicularizados (o que ao mesmo tempo, significou a tentativa de ridicularizar a grandeza do Belém, que se procurava menorizar, talvez para que o contraste com as últimas décadas não seja tão grande…), e que recuperámos ou temos em mão documentos com os quais em qualquer altura podemos fazer prova do que afirmamos, espero que mereça alguma credibilidade a nossa memória (neste caso, simples memória) de que em outro meio de C.S. se chegou mesmo a falar em qualquer coisa como 70.000 (SETENTA MIL) pessoas.

Refira-se a propósito que, no ano seguinte, também com o Benfica, houve outra grande enchente. Conservo uma fotografia em que se vê uma parte do Estádio, impressionantemente cheia. Talvez algum dia a reproduzamos, apesar de mostrar Vítor Baptista a festejar um golo do Benfica. Também então se falou em números de 50.000 pessoas… ou mais! De qualquer modo, a assistência foi menor que na época anterior.

* * *

Poder-se-áainda perguntar: mas nesses casos, não eram adeptos de outros clubes que enchiam o Estádio?

O facto é que, até àquele jogo de 75, em desafios no Restelo, o público azul estava sempre em maioria, mesmo contra o Benfica ou o Sporting.

E decerto que eram quase só adeptos do Belenenses, os que encheram o Estádio do Restelo no dia da inauguração, os 25.000 presentes num jogo nocturno contra o Stade de Reims, os 30.000 que, logo a seguir, assistiram ao 1º jogo oficial, com o Setúbal, os que emprestaram aquela espectacular moldura humana num jogo contra o Salgueiros em 1958 (pode ver-se no site oficial, num dos artigos dedicados a Matateu), os que quase lotaram o estádio em 1970, nos jogos contra Guimarães e Tirsense, os que festejaram o 2º lugar da época de 72/73, no último jogo, contra o Barreirense, para já não falar dos que invadiram as Salésias no célebre jogo final de 1955… apesar de até na Luz haver muitos (sim, muitos! Também está documentado…) adeptos azuis, à espera de um deslize do Benfica.

Ficam no ar algumas perguntas: O que aconteceu ao público do Belenenses? Porque o Restelo, nos últimos anos, se encontra quase deserto? O que arrastava as pessoas para o nosso estádio e, tendo desaparecido, agora as deixa em casa? Não gostávamos, todos, de ver o nosso Estádio com aquelas molduras humanas? O que se pode fazer para que retornem e SE VOLTEM A CRIAR AQUELES GRANDES AMBIENTES?

domingo, outubro 17, 2004

De regresso ás vitórias


O Belenenses venceu hoje o Penafiel por 4 a 1.
Os golos do Belém foram marcados por Antchouet e Rolando.
De destacar Antchouet que fez o primeiro hattrick da Superliga 2004/05.

www.belenensesbasket.com

Mensagem da equipa do site belenensesbasket.com

«Caros Amigos:

É com prazer que os convidamos para assistir, hoje, 18 h, Pavilhão Acácio Rosa, Belenenses X Oliveirense

Se não tiver oportunidade de se deslocar ao nosso recinto desportivo, acompanhe a nossa equipa em www.belenensesbasket.com, em LIVE, a partir das 18h. Actualizações a cada 2 minutos!!! Seja o primeiro a saber o resultado!!!»

www.belenensesbasket.com

Mensagem da equipa do novo site www.belenensesbasket.com:

«Caros Amigos:

É com prazer que os convidamos para a apresentação do site exclusivamente dedicado ao Basquetebol Profissional do Belenenses, a acontecer no dia 17 de Outubro, pelas 18h, em www.belenensesbasket.com


Neste site pretendemos disponibilizar todo o tipo de informação sobre a nossa equipa de basquetebol, nomeadamente através da apresentação de notícias, crónicas e estatísticas de jogo, de entrevistas e fotoreportagens, e até mesmo de passatempos e promoções.

Sendo um site de basquetebol, apresentamos também toda a evolução que a modalidade sofreu desde a sua invenção até aos dias de hoje, e damos a oportunidade às pessoas que não têm qualquer tipo de conhecimento desta modalidade, de se familiarizarem com as regras e os fundamentos que regem o basquetebol.

Com actualização permanente, garantimos que os nossos visitantes estão sempre informados dos últimos acontecimentos, inclusivamente esperamos ter a oportunidade de disponibilizar a vertente mais dinâmica deste site, o LIVE, que apresentará o resultado de todos os jogos onde a nossa equipa participará, actualizados a cada 2 minutos!

Sendo este um site de todos nós, Belenenses, lançamos desde já o desafio, de nos visitarem e nos ajudarem sempre a evoluir. Esperamos as vossas opiniões e sugestões, e esperamos ainda que gostem e nos apoiem a fazer sempre melhor!!!

A equipa do site

Ângela Rebelo
António Portela
Catarina Moutinho
Luís Vieira»

quinta-feira, outubro 14, 2004

Porquê?

Às vezes dou por mim a pensar: de onde vem toda esta paixão pelo Belenenses?

A resposta imediata que me ocorre é a influência familiar... mas pensando bem, não é só por aí. O meu pai gosta de tanta coisa que eu não posso sequer ver à frente! Não é por aí, também é, mas não só. Então se calhar é por ter vivido os primeiros 10 anos da minha vida na Ajuda, e desde então entre Algés e Linda-a-Velha, zonas de forte implantação azul. Mas não, dos meus amigos da Ajuda havia um do Belenenses, os outros eram do Benfica ou Sporting. De Algés e Linda-a-Velha, também só meia-dúzia eram pastéis, alguns mais por obrigação que por gosto...

Da escola, será isso? Talvez, sempre andei em escolas perto do Belenenses... mas também aí conhecia meia dúzia de amigos azuis. Claro! Foi no Belenenses que pratiquei desporto!!! Não, é mentira. Pratiquei no Belenenses ginástica, que era uma coisa que abominava mas que os meus pais me obrigavam a fazer. O futebol, a minha paixão, foi jogado no grande Atlético, pois o Belenenses rejeitou todo o meu talento...

Há-de haver um motivo. Será por ter estado presente, embora sem ter vivido, a final da Taça de 89, ou o jogo com o Mónaco, ou ainda a vitória no campeonato nacional de Andebol nos anos 90? Também não.

Começo agora a descortinar de onde nasceu o meu amor pelo Belém... diria que na época 1997/98, a da última descida. Aquela em que até ao fim, sabendo aquilo a que estavamos condenados, não falhei um jogo. Porque se é verdade que descemos de divisão, também é justo realçar que os jogadores em campo deram sempre tudo, mas infelizmente os dias conturbados que o nosso clube vivia não davam para mais. Tinhamos um avançado chamado Dias que "ganhou" um jogo ao Porto, tinhamos um médio Sueco chamado Leif Olsson que parecia um caixote e tinha um pontapé de meia-noite, na estreia enviou uma bola à barra que se ouviu o som do outro lado do estádio. Tinhamos um avançado Dinamarquês com 1,50m, o Johansson, rápido como uma flecha, tosco como os trovões. Ou então um extremo que poderia ter tido uma carreira brilhante, mas nunca conseguiu dar o tal "clique", o João Paulo Brito. E que dizer de Jójó e Néné, esses laterais imponentes? Não, nem vou falar de Vitor Valente, o homem que defendia as bolas para a frente (e era dos poucos que se "safava"). Ou Fonseca, um central algo lento e duro de rins... Mas tinhamos jogadores que me faziam crer no futuro, e acho que foi aí que o meu amor pelo clube brotou. Botelho, que era fantástico a saír-se aos cruzamentos e anda desaparecido ; Malá, um ponta-de-lança promissor que virou médio e está no Beira-Mar ; Neca, um médio que parecia muito consistente e é hoje uma referência do clube ; Paulo Dias, um trinco de raça e a quem augurava um futuro brilhante, e que se perdeu pelos anos fora. Provavelmente esqueço-me de algum. Mas não me esqueço do suor que todos deixaram em campo em tão ingrata época.

E foi assim que no ano seguinte, na 2ª Liga, passei a viver colado ao rádio ou no Estádio ao Domingo, ansiando pelas vitórias (o que na 2ª Liga significa ganhar em casa e empatar fora). E deliciava-me com um jogador fabuloso, chamado João Gonçalves, o fantástico Tuck. E com o Marcão, o Marco Aurélio ou o Filgueira. Quando no dia da subida saí da bancada e entrei no relvado, soube que a emoção que senti naquele dia de regresso à 1ª Liga era uma brincadeira, comparada com a que o meu pai sentiu ao vencer a Taça em 89. E é esse sonho que persigo desde esse dia, ver o meu Belenenses conseguir grandes conquistas.

Acabo como uma frase que já se tornou célebre: Eu ainda hei-de ver o Belenenses campeão, nem que para isso tenha de não morrer!

O PAPEL DOS BLOGS

(Artigo da autoria de Eduardo Torres)

Como há alguns dias disse, e bem, o Nuno Gomes, não podemos resistir, como qualquer outro treinador de bancada, a dar as nossas opiniões sobre a táctica e os jogadores a utilizar, quando um jogo se aproxima; a exigir, a aplaudir ou a verberar uma ou outra modificação, durante o decurso do jogo; enfim, no seu rescaldo, a elogiar ou a censurar esta ou aquela opção e prestação global, tanto do treinador como dos jogadores.

É natural e compreensível que o façamos e que digamos nos blogs o que, então, nos vai na alma. No entanto, concordo igualmente com o Nuno que não é esse o modo como podemos ser úteis ao clube – porque todos os sócios e adeptos lhe podem ser úteis. Tanto mais assim é, quanto é certo que um treinador (a não ser que se encontre numa situação anormal), seguramente sabe mais dessas questões tecnico-tácticas, mesmo que aqui e acolá se engane, pois ninguém é infalível.

Certamente que os blogs são um espaço onde encontramos pessoas que têm um interesse e um amor afins, com quem partilhamos preocupações e anseios, e com quem, em alguns casos, podemos até desenvolver amizades mais ou menos sólidas.

No entanto, considero que a mais nobre e útil das funções de um blog é a de propiciar o surgimento de críticas ou sugestões construtivas, e de aumentar o élan à volta do clube, dando-lhe força e apoio.

Haverá críticas que, ponderando todos os elementos em equação, não tenham razão de ser. Haverá sugestões que, por este ou aquele motivo (ou, talvez, apenas, num determinado momento) não sejam exequíveis. Não obstante, atrevo-me a dizer que os dirigentes, caso dêem uma vista de olhos nos blogs, podem encontrar ideias que devem acolher sadiamente, por serem susceptíveis de melhorar o clube. Criticar, obviamente de uma forma equilibrada, pode ser uma forma de colaborar; mais evidentemente o é, quando se sugerem medidas ou formas de actuar.

Se essas críticas e sugestões não ofendem ninguém, cabe aos dirigentes acolhê-las ou não, exclusivamente de acordo com o seu mérito e justiça intrínsecos, pois o que está em causa é o clube e não as pessoas. Mesmo quando achem mal tudo quanto se diga, tal mostra o “sentir” e o “pensar” de faixas representativas da massa associativa. E, por vezes, justificar-se-á então um esclarecimento geral, através, por exemplo, de um comunicado oficial, dos rumos que se estão a seguir e dos objectivos que se pretendem atingir. A importância disso é manter informada e interessada a massa associativa e não, obviamente, a pessoa A ou B que, pontualmente, fez os reparos ou as propostas.

É meu entendimento que muitas sugestões úteis já apareceram nos blogs; e penso até que algumas terão já sido postas em prática – a não ser que se tratem de notáveis coincidências. Outras, entretanto, existem, que estão ainda em pleno desenvolvimento e que talvez nos pudessem mobilizar em conjunto.

Relembro algumas delas:

- Fez-se, em tempos, um pequeno ensaio de protesto junto de órgãos da Comunicação Social pela discriminação de que todos os clubes, menos 3 privilegiados, são reiteradamente vítimas. É preciso retomar a luta, agora com outros meios e com maior amplitude, alargando a iniciativa a adeptos de outros clubes. Para tal, é necessário estabelecer contactos com blogs e espaços de adeptos desses outros clubes, e também com claques civilizadas, e concertar uma estratégia (embora esta última parte, infelizmente, precise de ser feita de modo não público).
- Para além das propostas que têm sido apresentadas, por vários de nós, publicamente nos blogues e/ou por outros meios, para aumentar a presença de público nos jogos que têm lugar no Restelo, pode haver todo um trabalho de mobilização de público, particularmente em jogos mais significativos. Lembremos o extraordinário trabalho aqui feito, aquando do último jogo da época anterior… Tenho a ideia que alguém (não recordo quem foi) sugeriu que se podia preparar um pequeno texto mobilizador para cada jogo, fotocopiar de modo a que um A4 possa depois ser dividido (guilhotinado) em 4 ou em 8, e distribuir nas caixas de correio das zonas onde o Belenenses tem grande implantação. Pela minha parte, desde já me ofereço para comparticipar nas despesas e se 20 outros o fizerem de 15 em 15 dias, com pequenas contribuições, suponho que se obterá um interessante número desses anúncios.
- Ajudar a restaurar a alma, a mística belenenses, e a recriar um entusiasmo contagiante, devolvendo o público azul ao Restelo, fazendo sentir que é vergonhoso sentar-se mudo e quedo, sem ao menos umas palmas de incentivo ao clube, revivendo a raça, a garra e o querer inquebrantável que outrora empurravam as nossas equipas para a vitória.
- Exercer uma função pedagógica, dando a conhecer o que foi e o que é o Belenenses, a quem dele tem uma ideia muito parcial ou até deturpada.
- Criar reservas de conhecimentos (e conhecedores) que possam servir o clube, tanto globalmente, como em sectores específicos.
- Gerar uma exigência responsável mas inconformada, sensata mas ambiciosa, que constitua um estímulo positivo para os nossos dirigentes.

São apenas algumas sugestões. Muitas outra, decerto, poderão haver!

quarta-feira, outubro 13, 2004

A DÉCADA DE 70 - PARTE IV – Vivendo dos Juros...



Contrariamente ao que outros clubes vieram a fazer (especialmente o F.C.Porto e o Boavista), o Belenenses de certa forma encolheu-se a seguir a 1974. E, desde então, encolhido tem continuado a viver, repetindo-se sucessivamente o discurso “vamos conter despesas para que então venham os sucessos no futuro” – futuro que persiste sempre em não vir. Mesmos os aventureirismos loucos em anos mais recentes (como em 1990 com Ferreira Matos /Joaquim Cabrita e em 94/95/96 com Matias, A QUE CURIOSAMENTE SURGEM ASSOCIADAS, ATÉ NAS ELEIÇÕES EM QUE, ENFIM, J.A. MATIAS FOI AFASTADO, PESSOAS SUPOSTAMENTE MUITO “RESPONSÁVEIS” E ATENTAS -, caracterizam-se por uma ambição medíocre, bacoca e pateta (e, já agora, patética), marcada pela subserviência (empréstimos, etc.) a F.C. Porto ou Benfica ou Sporting (essa mesma que, depois, nos inibe de tomar as posições devidas nos momentos adequados). Estranhamente, continua a chamar-se a isso “gestão moderna”, “trabalhar de uma maneira diferente” “evitar a demagogia”, quando não epítetos ainda mais altissonantes… - e o clube cada vez com menos projecção!... (Não será altura de nos perguntarmos seriamente: porquê?).


No entanto, há 30 anos, a alma Belenenses, embora já um pouco debilitada (face aos primeiros 40 ou 50 heróicos anos de existência), ainda estava viva. Não se tinham perdido as referências. Não se tinha perdido o sentido do peso histórico do clube. E, tal como, em circunstâncias diferentes, tem sido feito por alguns dos integrantes das direcções de Sequeira Nunes, no seu melhor (e não tenho dúvidas nenhumas que Sequeira Nunes deixará um saldo bem positivo no clube), continuou a ousadia de tentar encontrar maneiras de “dar a volta ao texto” e lobrigar onde podíamos mais facilmente obter êxitos.

É assim que, nos anos de 74 a 76, o clube ganha logo o 1º Campeonato Nacional de Iniciados (quantas vezes assistimos a isto? Arrancamos em força e/mas, depois….). É assim que, prosseguindo as correctas apostas de anos anteriores (e, aliás, colhendo juros da formação), conquistámos mais um Campeonato Nacional de Rugby em 74/75. É assim que vencemos mais um Campeonato de Andebol, em 75/76. É assim que ganhámos o campeonato de Lisboa e a Taça de Portugal no Andebol Feminino, respectivamente, em 1975 e 1976, neste ano se tornando o Belenenses a primeira equipa feminina a disputar competições europeias. É assim, facto que nunca será demais destacar, que se construiu o Pavilhão (que, bem mais tarde, veio a receber, com toda a justiça, o nome de Acácio Rosa), inaugurado em 5 de Outubro de 1977, e objecto de complicadas batalhas com a Câmara Municipal de Lisboa (outra vez, e durante anos!) É assim, ainda, como já referimos e voltaremos a ver, que o clube se inscreve na Taça Intertoto de Futebol em 1975 e 1976, conquistando sucessivamente um 1º e um 2º lugar.

* * *

Centremo-nos agora no Futebol. No final de 1974, houve uma sangria na equipa, como consequência natural de um processo de desinvestimento. Murça saiu para o F.C.Porto. Luís Carlos e Eliseu regressaram ao Brasil. Mourinho terminou a sua carreira. Calado saiu, não sei já em que circunstâncias. O mesmo aconteceu com o treinador Scopelli (substituído por Peres Bandeira). Em contrapartida, os reforços são tímidos (basicamente, lembro-me do Guarda Redes Melo, do lateral Sambinha, do médio Isidro e do avançado Alfredo). E, naturalmente, a equipa tem um começo de época (74/75) bastante titubeante.

Punham-se na altura, três problemas fundamentais. O possante mas desengonçado Alfredo substituiria Luís Carlos à altura na linha avançada? Quem e como ocuparia o lugar na baliza, durante tantos anos guardada por Mourinho? Que abanão teria na estrutura defensiva a saída de dois jogadores de qualidade como Calado e, sobretudo, Alfredo Murça (não confundir com o seu irmãos, mais jovem, Joaquim Murça)?

Inicialmente, o problema defensivo foi claramente o de contornos mais graves. Alguns exemplos das primeiras jornadas são bastante significativos: em jogos no Restelo, vencemos o Olhanense por…6-4 e empatámos… 3-3 com o Vitória de Setúbal (em desafio que podíamos ter ganho folgadamente, não fora os golos infantilmente sofridos). Na Luz, sofremos 4 golos (sem resposta); novamente no Restelo (em cima do famoso “28 de Setembro”), registámos um empate a 2-2 com o F.C.Porto, segundo o relato, devido às falhas infantis do nosso Guarda-Redes, que aliás era demolido pela verve de Neves de Sousa… Mas claro que, no fundo, era toda a equipa que perdera qualidade e, sobretudo, estabilidade.

As coisas lá se foram equilibrando (o guardião Melo não só ganhou a corrida à titularidade face a Ruas como até acabou por se vir a destacar no futebol português) mas, de facto, a equipa era capaz do pior e do melhor. Não podemos dar exemplo mais gritante do que este: numa das primeiras jornadas da 1ª volta, o Belenenses foi jogar às Antas, diante de um F.C.Porto a lutar pelo título, e venceu espectacularmente por 4-0! Na jornada seguinte, recebeu no Restelo a Académica, que salvo erro estava em último (se não era em último era em penúltimo) e perdeu por 3-1. Pensamos que isto diz tudo…

Seja como for, a tendência dos resultados e das exibições foi ascendente e terminou-se a época numa posição que, não sendo boa ou entusiasmante (falamos do Belenenses de há 30 anos…), acabava por ser razoável face às circunstâncias. Ficámos em 6º lugar mas, atenção, um 6º lugar que ficou claramente distanciado das equipas que vinham imediatamente atrás (6 pontos de vantagem sobre V.Setúbal, Cuf e Leixões) e a 3 pontos dos 4º e 5º, Boavista e V.Guimarães. O Belenenses registou 14 vitória, 7 empates e 9 derrotas.

Já agora registe-se que o Benfica foi 1º com 49 pontos, o F.C.Porto, 2º, com 44 e o Sporting, 3º, com 43. E, aqui, vem a propósito lembrar o último jogo desse campeonato, no qual o Belenenses venceu o Sporting por 2-0, com os adeptos leoninos, situados no Topo Norte, a arremessarem objectos e insultos contra Damas, que ia deixar o Sporting para ingressar no Racing de Santander. E foi também para o Santander que, no defeso entre 74/75 e 75/76, se transferiu Quinito. Julgo que foi por esse motivo que, em meados de Agosto de 1975, ali disputámos e ganhámos um torneio, em compita com a equipa local e os prestigiados húngaros do Honved.

* * *

Antes disso, porém, participou o Belenenses, pela 1ª vez, na Taça Intertoto, e inscrevendo logo o seu nome nos vencedores, ganhando a Série em que o sorteio o colocou, juntamente com o Spartak de Praga, da então Checoslováquia (2-2 Fora e 2-1 no Restelo), com o Copenhague, da Dinamarca (1-0 fora e 1-1 em casa) e com o Amsterdam, da Holanda (vitórias por 1-0 tanto no Restelo como no país das tulipas). Desse modo, como já algures sustentámos, e tendo a alegria de o ver reconhecido em imprensa desportiva, também o Belenenses conta no historial com uma vitória numa Taça Europeia – facto que não pudemos desprezar, como se fosse coisa de somenos importância, e certamente mais importante do que qualquer detalhe referente a um jogador que chega ao clube e que, quem sabe, partirá um ou dois anos depois.

Aproveitamos para corrigir dois lapsos: 1) os resultados que aqui indicámos relativamente a essa participação na Taça Intertoto apresentam ligeiras discrepâncias face aos que, há semanas atrás, indicámos em texto que saiu no site oficial. Os que agora deixámos consignados são os correctos, pois procedemos à sua confirmação. Pelo lapso então cometido, ainda que ligeiro e não essencial, pedimos desculpa aos leitores e ao Miguel Barreiros e restantes colaboradores, cujo magnífico trabalho cumpre uma vez mais enaltecermos. 2) A assistência ao jogo Belenenses-Wolverhampton da Taça UEFA de 73/74, segundo a edição de “A Bola” seguinte ao jogo (pág. 6 do nº 4180, de 27-9-73) foi de 15.000 espectadores

* * *

O campeonato de 75/76 iniciou-se com uma equipa moralizada, que recuperara uma coerência e um fio de jogo (mérito de Peres Bandeira), que compensara muito bem a saída de Quinito com a entrada de Vasques e que recebeu um Artur Jorge ainda em condições de marcar bastantes golos, de voltar à Selecção A e de ir ganhar uns bons cobres nos Estados Unidos da América, por deferência do nosso clube (para com o qual teve mais tarde comportamentos que prefiro não comentar e muito menos qualificar, pois receio ser injusto ou…excessivo).

Praticamente estivemos sempre nos três primeiros lugares, e grande parte do tempo no 2º lugar. E, aliás, à 6ª jornada, no dia 12 de Outubro de 1975, chegámos mesmo ao 1º lugar, com o Belenenses a viver um dia inesquecível. Recebemos o Benfica no Estádio do Restelo, emoldurado com uma multidão verdadeiramente impressionante. Já há tempos disse que rádios e jornais falaram na presença de 60.000 ESPECTADORES! EXACTO, SESSENTA MIL! Posso-o confirmar documentalmente, através de excerto da “Bola” (nº 4494, de 13 de Outubro de 1975, página 5), que será reproduzido oportunamente. Não sei exactamente se teriam estado 60.000 pessoas, 55.000, 50.000 ou até 70.000 como num meio de comunicação social chegou a ser aventado; mas certo, seguríssimo, é que se tratou de UMA MULTIDÃO COMPACTA, DE UMA ASSISTÊNCIA GIGANTESCA. E, tendo em conta que as bancadas transbordaram a ponto de algumas ténues vedações cederem aqui e acolá, que o Topo Norte estava cheio até aos pilares onde, desde há cerca de um ano, assenta a cobertura, com a zona de acessos, o marcador do totobola e até os terrenos acima cheios de gente (inclusive as torres de iluminação!), tendo em conta que a lotação do Estádio era então superior a 40.000 pessoas (a capacidade oficial do Restelo era de 44.000 pessoas – cfr. “A Bola”, Ano XII, nº 1534, 22 de Setembro de 1956, página 4, coluna 3, linha 32….), não custa acreditar que, no mínimo, tenham estado presentes umas 50.000 pessoas. IMPRESSIONANTE!

Foi uma tarde de glória, com o Belenenses a triunfar por 4-2, depois de um jogo espectacular. Vale a pena recordar a marcha do marcador:

* Aos 15 minutos, Belenenses, 1 – Benfica – 0. Livre do lado esquerdo do nosso ataque, marcado por Gonzalez, e Pietra a marcar de cabeça.
* Aos 32 minutos, 1-1, por Jordão.
* Aos 45 minutos, 2-1 para o Belenenses: Gonzalez marca canto do lado direito, Artur Jorge amortece de cabeça, e Vasques surge a marcar com um espectacular pontapé de bicicleta.
* Aos 49 minutos, 2-2, por Néné.
* Aos 59 minutos, Belenenses, 3 – Benfica – 2, com golo de Vasques, na sequência de canto apontado por Gonzalez e de um primeiro remate de Artur Jorge. A bola sobrou para Vasques que, no bico da grande-área, no lado direito, embora usando o seu pior pé (o esquerdo), arrancou tiro portentoso, que entrou no canto esquerdo da baliza de Bento,
* Aos 90 minutos, 4-2 para o Belenenses. Grande jogada de Pietra, a driblar vários jogadores e a entregar a Artur Jorge que rodopiou, evitou um defesa encarnado, e atirou colocado ao canto esquerdo.

E o jogo – um grande jogo, um espectacular jogo! – terminou em euforia azul, com invasão de campo, Vasques e Artur Jorge carregados em ombros. Que tarde maravilhosa! E que diferente era o Belenenses de então (e até então, sempre!), que, no seu estádio fosse contra quem fosse, e ganhasse ou não, era quem detinha a iniciativa do ataque, quem ia à procura da vitória. Repito, fosse contra quem fosse, e sempre!

COMO TENHO SAUDADES, COMO DESEJO VOLTAR A CELEBRAR UM TRIUNFO DESSES, QUE NOS COLOQUE LÁ NO TOPO, COM O ESTÁDIO, NESSES MINUTOS FINAIS, A SER TODO “NOSSO”, DEPOIS DE UMA VITÓRIA A JOGAR AO ATAQUE, DEPOIS DE PORMOS EM RESPEITO OS OUTROS GRANDES, COM A EQUIPA E TODOS OS BELÉNS A SEREM UM SÓ, CHEIOS DE ORGULHO, DE ÉLAN E DE ALMA!

Falámos há pouco na “Bola”. Vale a pena referir que, num dos títulos da crónica desse jogo (na qual era repetida a referência a SESSENTA MIL ESPECTADORES), se perguntava:

“Olha lá, BELENENSES
E se lutasses pelo Título”

E, entre muitas outras afirmações enfáticas sobre a valia do Belenenses, escrevia Santos Neves: “(…) Belenenses que acaba de ‘apanhar’ o Benfica e com ele (e com o Braga e o Boavista) passa a repartir o 1º lugar. E agora, Belenenses? Olha lá, Belenenses… e se lutasses pelo título? …Exagero?... Vamos lá a ver que exagero? Porquê exagero?”. E seguia-se uma descrição pormenorizada da força e do mérito da equipa do Belenenses.

* * *

Não chegámos ao título, como se sabe (já se passaram 58 anos desde 1946…); mas, apesar da oscilação de forma que houve durante a 1ª metade da 2ª volta, assegurámos um 3º lugar no final. Repare-se que, no Restelo, vencemos o Benfica por 4-2, e o Sporting e o F.C. Porto por 1-0. De resto, em casa, não registámos nenhuma derrota e somente cedemos 3 empates. Em 15 jogos, marcámos 27 golos e apenas sofremos 6. Nos jogos fora, a carreira não foi tão boa mas, por exemplo, empatámos 1-1 no Estádio da Luz. Fomos, aliás, a única equipa que não perdeu com o campeão Benfica – e mais do que isso, a ter um saldo positivo, com uma vitória e um empate, e 5-3 em golos.

Com o Boavista, pela primeira vez na sua história, a chegar ao pódio (com Pedroto no seu comando), a classificação final ficou assim ordenada

1. Benfica – 50
2. Boavista – 48
3. Belenenses – 40 (16 vitórias, 8 empates e 6 derrotas)
4. F.C.Porto – 39
5. Sporting – 38
6. V.Guimarães – 36
7. Braga – 28
8. Estoril – 28
9. V.Setúbal – 26

Sem desprimor para Peres Bandeira (cujo trabalho já elogiámos), não resistimos a perguntar até onde poderia ter ido o Belenenses se, no seu comando técnico, ainda se encontrasse o grande Scopelli ou estivesse José Maria Pedroto (que, relembre-se, foi jogador do Belenenses mas que tivemos que vender ao F.C.Porto para angariar receitas para a construção do Restelo). Seja como for, conservo uma grata memória desta época de 75/76, que foi quase um canto do cisne do velho grande Belenenses, embora na altura (com 14/15 anos), eu não o pudesse imaginar. Mais tarde, passei a sorver todos os (a partir dessa altura relativamente escassos) momentos de glória, como se fosse o último, porque nunca sei se é mesmo o último. No entanto, AINDA ESPERO ANSIOSAMENTE QUE O BELENENSES SEJA CAPAZ DE VOLTAR A DAR O SALTO!

Já agora, para finalizar esta época, recorde-se que voltámos a participar na Taça Intertoto (então chamada Taça Internacional), desta vez ficando em 2º lugar na Série em que o sorteio nos colocou.

terça-feira, outubro 12, 2004

Ponto morto...

Este interregno do campeonato, com a Selecção pelo meio, está a deixar o país futebolístico em ponto morto... ou então não, porque a verdade é que a Selecção "gripou".

O Belenenses foi roubado indecentemente só há uma semana atrás. Mas a nossa postura branda, de palmadinhas nas costas, como gostam de afirmar "diferente" traduz-se em que esse jogo seja já parte da história, enquanto a única coisa que vai agitando o futebol em Portugal é a guerrinha Porto-Benfica sobre meia-dúzia de bilhetes que não foram cedidos e a incompetência de serviços administrativos que os não reclamaram.

Por outro lado, após duas derrotas consecutivas, e com uma série de 3 jogos importantes pela frente, esta paragem poderá até ser benéfica, na medida em que permitirá ao plantel e à equipa técnica recuperarem psicologicamente de 2 derrotas perfeitamente atípicas e que sem o trabalho psicológico adequado poderiam ser fatais para a performance da equipa. No entanto, poderá também ser um tempo demasiado longo, capaz de gerar uma grande ansiedade na equipa que lhe poderá tirar o discernimento e mecanismos no próximo jogo, na tentativa de mostrar ao seu público que o que se passou foi, como já referi, perfeitamente atípico. No entanto, confio na equipa técnica, e creio que em termos psicológicos este ano estamos bem entregues.

Por fim, uma nota para o sorteio da Taça, onde nos calhou em sorte ficarmos isentos. Menos uma eliminatória na busca do objectivo final, levantar a Taça. Eu acredito!

segunda-feira, outubro 11, 2004

Novo projecto on-line

Foi com agrado que o Blog do Belenenses recebeu a notícia do surgimento de um novo espaço on-line dedicado ao nosso clube, em particular a alguns jogadores do plantel de futebol. Independentemente dos critérios de selecção dos jogadores visados, que assentam sobretudo numa base estética, é sempre salutar a criação de novos espaços.

Assim sendo, temos o prazer de convidar todos os bloguistas a visitar o site "Pérolas do Belenenses", que para já centra as suas atenções sobre os jogadores Eliseu, Rolando, Ruben Amorim e Gonçalo Brandão.

domingo, outubro 10, 2004

PALAVRAS QUE FORAM DITAS - 25 - O Belenenses e a Imprensa


Desde há anos que muitos de nós sentimos, lamentamos e reprovamos o menosprezo a que a imprensa, subserviente de determinados clubes, sucessivamente nos vai votando.

Pela nossa parte, aquilo que nos dói e que entendemos ser merecedor de reacção, não é que se critique este ou aquele jogador, técnico ou dirigente, desde, é claro, que tal se contenha dentro de limites de urbanidade. Revoltamo-nos, sim, e achamos que é necessário que se tome uma posição digna, quando se procura atirar o clube para uma posição e uma imagem medíocre, quando o pouco espaço que nos concedem é ocupado a falar de outros clubes – os “tais” – quando transparece a noção de que se quer impedir o Belenenses de disputar as posições cimeiras.

Apesar de terem existido muitos jornalistas respeitáveis e respeitadores do Belenenses – mesmo quando adeptos de outros clubes -, cujo nome está inscrito a letras de ouro na história da comunicação social portuguesa, muitas vezes fomos vítimas da imprensa. Se hoje tal acontece pela enorme ignorância que jornalistas mais jovens têm do peso do Belenenses no desporto português, em tempos passados foi muitas vezes clara a intenção de que o Belenenses não incomodasse, não crescesse, não fizesse sombra a outros clubes e sobre eles triunfasse. E foi assim desde o início…

Damos novamente a palavra a Acácio Rosa, entremeando aqui e acolá alguns comentários ou notas clarificadoras, entre parêntesis curvos:

“Uma revista ilustrada da época ‘Football’, num artigo que intitulou de ‘Baixos Processos’, move uma campanha ilimitada de ataques aos rapazes da praia [como eram conhecidos os fundadores e pioneiros do Belenenses]. Estávamos em Novembro de 1920. O clube reage e envia à imprensa o comunicado que se transcreve:

‘Sob a epígrafe de ‘Baixos Processos’, publica a revista de V. Exª. um artigo em que se fazem afirmações ofensivas à dignidade dos jogadores que compõem o 1º grupo do Clube que dirigimos, afirmações que não podemos deixar em julgado, para que se não possa inferir do nosso silêncio uma concordância tácita [não será que actualmente, em pleno século XXI, o nosso silêncio não significa, muitas vezes, uma aceitação implícita do estatuto de menoridade que os media nos colam?).

Este artigo encara, duma maneira geral, um incidente de todos bem conhecido, num dos campos de futebol, sobre o tríplice aspecto:‘Técnico, doutrinário e moral’

Se bem que sob o ponto de vista técnico as suas opiniões sejam contestáveis, não o fazemos por esse aspecto pertencer em geral ao público e em especial aos críticos.

Esta época do nosso primeiro jogo oficial, ilustres cientistas e pioneiros da Educação Física, com o seu nome ligado aos progressos do Futebol Nacional, diziam com entusiasmo que há muitos anos se não via, em Lisboa, dar por um grupo português, uma manifestação tão completa de ‘association’, como a feita pelo nosso agrupamento nesse dia.

Nenhum Clube apresenta na época de 1920/1921, um exemplo tão levantado de trabalho insano e metódico, como os Belenenses.

Inscrevemos nos vários campeonatos 26 novos jogadores com conhecimentos adquiridos em treinos sucessivos, jogadores desconhecidos dos campos de futebol, feitos com o seu e nosso esforço, demonstrando assim, bem, o carinho e amor que temos pelo desenvolvimento do futebol.

Um Clube que assim se apresenta, não merece ser anavalhado nas colunas de uma revista, que até hoje dera só exemplos de sã e leal crítica, por qualquer energúmeno, pondo ao serviço da sua tara de psicópata de degenerado.

Porque prodígio da lógica concluiu o articulista, sr. Redactor, que os nossos jogadores eram criminosos natos?

Lendo com atenção o rosário longo de insultos que constitui tão infeliz artigo, parece-nos que Sua Exª baseia a sua observação na falta de educação.

Sendo assim, perguntaremos se Sua Exª reputa de criminosos natos aqueles cuja educação é rudimentar?

Imagine então, Sr. Redactor, quantos criminosos natos a Casa Pia não terá convertido em cidadãos prestáveis?

Felizmente que à frente desse útil e simpático estabelecimento de beneficência se não encontra Sua Exª, que com a sua maneira de ser, aquela que nos revela, teria convertido ‘os criminosos natos’ em ‘criminosos de facto’.
Felizmente, que à frente de tão prestante e benemérita instituição se encontram homens bons, cuja amizade nos prezamos de cultivar, que com a sua sábia direcção e paternal conselho, têm convertido as crianças que entram, em cidadãos ilustres, profissionais briosos e artistas notáveis”.

Noutro passo, continua Acácio Rosa:

“A imprensa ainda ardia de desejos de dizer mal do Belenenses”. E sob o título “APÓS 2 ANOS DE VIDA A LUTA MANTINHA-SE”, lembra uma insidiosa afirmação contida na edição do Jornal “Os Sports”, de 21 de Março de 1921:

‘Diz-se que o C. F. «Os Belenenses» e o S. L. Benfica se vão fundir, depois de terminada a presente época de futebol’.

[Na verdade, 83 anos passados, parece que tal intenção ainda persiste. Nas últimas 2 décadas, às vezes, parece que até dentro do próprio Belenenses…conscientemente ou não, é o que, aqui e acolá, nos parece…Mas o Belenenses haverá de seguir o seu caminho livre e independente, sem prestar vassalagem a ninguém!].

E relata Acácio Rosa:

“Estas outras perseguições movidas injustamente por certos sectores da Imprensa, levaram à natural reacção a direcção do Belenenses.

Repudiando insinuações mal intencionadas a propósito da brilhante vitória da Taça Mutilados de Guerra [imponente troféu, que, na altura, representou extraordinária conquista do nosso clube] e rebatendo boatos e mentiras sobre a vida do Clube, o engº. Reis Gonçalves, como presidente do Belenenses, enviou ao sr. Campos Júnior, redactor principal do Jornal ‘Os Sports’, esta esclarecida carta:

‘Exmº. Senhor Campos Júnior e prezado amigo

Belém, 23 de Maio de 1921

No suplemento de segunda-feira passada do jornal ‘Os Sports’, vem inserida a notícia: ‘Que as imposições que «os Belenenses» fizeram sobre a taça Mutilados da Guerra não eram por mal… É uma questão de princípios.

Não lhes oculto, Exm.º Sr., a impressão desagradável que tal notícia produziu no C. F. Os Belenenses.

É manifesta, transparente, a ironia daquelas duas linhas e muito para estranhar, pois que tendo o jornal ‘Os Sports’ solicitado o nosso concurso para o torneio da taça ‘Mutilados da Guerra’ que organizou, manifesta dum modo tão singular a sua gratidão para com Os Belenenses que, com um desinteresse absoluto, concorrera a esse torneio.

‘Os Sports’ tem há um tempo a esta parte, mostrado uma persistência em nos ser desagradável, cujo interesse eu não consigo explicar-me.

Todavia as provas de consideração e deferência, muito para agradecer, que V. Exª. sempre me dispensou, levam-me a exigir da sua lealdade, a publicação na íntegra desta minha carta, como explicação para o público, de uma atitude antipática que o seu jornal nos atribui, mas que, por ser menos verdadeira, nos apressamos a repelir.

Os Belenenses» não fizeram imposição de nenhuma espécie a respeito da Taça Mutilados da Guerra. Simplesmente protestaram pelo facto de lhes ter sido marcado um jogo que lhes não pertencia jogar, conforme a resolução prévia tomada pela comissão organizadora do torneio. Ora esse critério foi alterado pela mesma comissão sem consulta de um dos clubes interessados - Os Belenenses.

Este clube protestou no uso legítimo de um direito. A comissão insistiu na sua determinação em presença, então, de um delegado de Os Belenenses, que se submeteu a essa decisão.

Não me parece, salvo melhor opinião, que esta atitude mereça os reparos que lhe fez o seu jornal; nem atinjo qual o fim que o seu jornal tem em vista, imputando-nos uma atitude de que nós não assumimos.

O propósito que o seu jornal tem de tornar-nos a vida amarga tem-se mostrado ainda com outra notícia a respeito de uma pretensa fusão Benfica-Belenenses e que nas suas colunas tem sido martelado com uma insistência bastante incómoda.

Para tranquilidade do noticiarista, a que o facto parece desagradar, posso assegurar-lhe que não entrou nas direcções dos dois clubes qualquer negociação a tal respeito, como aliás já o disse ‘O Primeiro de Janeiro» em princípios de Maio deste ano’.

Para terminar posso afirmar-lhe que Os Belenenses tem o mesmo empenho em conservar a sua modéstia, trabalhando pelo desporto quanto podem, dispensando louvores que não merecem e repelindo boatos de propaganda dissolvente.

Creia-me V. Exª. seu amigo e obrigado

Reis Gonçalves
Presidente de Os Belenenses’.

[Tirando a linguagem diferente da que hoje em dia usamos, não podemos deixar de notar a similitude dos ataques, desejos e insinuações que se abatem sobre o Belenenses.