terça-feira, outubro 26, 2004

Jogadores que me marcaram - Mauro Airez

É muito difícil eleger um jogador azul para aqui salientar, de entre tantos e tantos bons jogadores e bons homens, que pelo clube passaram. Os obstáculos a esta tarefa são inúmeros... Se determinada característica os coloca num patamar superior, logo outra nos faz recordar que existiu outro jogador, mais dotado ou mais útil para a equipa. Se por um lado é fácil recordar golos e jogadas inesquecíveis, por outro são frequentes casos, saídas “a mal” e outras peripécias que envolvem este ou aquele craque em situações pouco dignificantes para a sua dignidade profissional e pessoal.

Tenho apenas 26 anos e por isso o meu universo de craques possíveis é bem mais reduzido que o de outros amigos belenenses... Se tivesse de escolher um ou dois jogadores azuis, incluindo aqueles que fazem actualmente parte do nosso plantel, não hesitaria em distinguir Marco Aurélio e Tuck. Mas a regra aqui parece ser escolher um jogador do passado, longíncuo ou recente. E por isso escolhi Mauro Airez.



Não existindo propriamente uma tradição de jogadores argentinos no Belenenses, é verdade que são muito boas as recordações que os jogadores provenientes daquele país nos deixaram. Scopelli e Miguel Di Pace – o qual tive o prazer de conhecer, no Verão passado – por exemplo. Mais recentemente, em meados dos anos 90, surgiu no Restelo um herdeiro do talento sul-americano do País das Pampas.

Mauro Airez chegou a Portugal já com um curriculo invejável. Internacional argentino – esteve presente na selecção olímpica em Seul (1988) e em jogos internacionais nos anos seguintes –, Mauro alinhou no Independiente e no Bari (Itália), e por isso era portador de grandes esperanças. Na minha opinião não defraudou, enquanto jogou no Belenenses.

Na verdade, pode-se mesmo dizer que a sua carreira conheceu um novo impulso durante a sua passagem pelo Restelo. Titular quase indiscutível, temível na frente de ataque pela sua mobilidade e capacidade de remate quase imediata, Mauro Airez valeu ao Belenenses importantes golos. Recordo com alguma nostalgia jogadores que com ele alinharam, e que formaram a dada altura uma bela equipa. Emerson foi talvez o que mais saudade deixou.

De Mauro Airez recordo jogadas fantásticas. A mais fantástica de todos aconteceu um dia contra o Boavista, num jogo disputado no Restelo certo domingo à tarde. Miúdo de 14 ou 15 anos fui ver o jogo sozinho para um topo norte muito bem composto. O ambiente era fantástico nessa tarde, que recordo como se fosse hoje.

A dada altura Mauro pega na bola antes da linha de meio campo e avança alguns passos. Um jogador normal levantaria os olhos do chão apenas para procurar uma linha de passe, mas o argentino tinha um faro de baliza próprio dos avançados da terra do fogo... Olhou para a baliza e apercebendo-se de que o guardião axadrezado se encontrava razoavelmente avançado no terreno – creio que era Alfredo – o avançado belenenses, já em queda, arriscou um balão colocadissímo. Estava feito o 1-0, para a alegria de muitos sócios e adeptos presentes no Estádio. Nunca mais me esqueci daquele golo. Talvez porque ter acontecido no primeiro jogo a que assiti sozinho.

Alguns anos mais tarde, Mauro Airez saiu do Belenenses para tentar a sua sorte no Benfica. Recordo que nessa mesma altura o outro Mauro (Soares) foi para o Sporting, num processo complicado que me deixou ainda mais avesso ao clube de Alvalade.

A aventura benfiquista de Airez teve os seus altos e os seus baixos. Mais baixos que altos, para dizer a verdade. Assim, da sua passagem pela Luz (que aconteceu durante os anos em que mais custou aos benfiquistas iniciar o longo jejum de títulos que apenas terminou no ano passado, com a conquista da Taça de Portugal) fica apenas a memória dos tristes acontecimentos no momento da saída.

Já "trintão", o argentino ainda tentaria a sua sorte na segunda divisão... Triste sina a de um avançado que me encantou por diversas vezes.

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