quinta-feira, outubro 07, 2004

PALAVRAS QUE FORAM DITAS - 24 - AUGUSTO SILVA E ARTUR JOSÉ PEREIRA


Servindo-nos novamente da história do Belenenses contada por Acácio Rosa (contrariamente a outros, gostamos de citar as fontes, como é de boa ética, sempre que não são as nossas memórias pessoais e/ou opiniões a base do que escrevemos), lembramos hoje a justa homenagem de que o nosso grande capitão Augusto Silva (grande capitão do Belenenses e da selecção nacional, de que foi herói nos jogos olímpicos de Amsterdão e, durante 16 anos, o mais internacional dos jogadores portugueses) foi alvo em 1934.

Passamos a citar Acácio Rosa:

“Despedida de Augusto Silva
TAÇA “Augusto Silva”
HOMENAGEM DO DESPORTO NACIONAL A AUGUSTO SILVA
Belenenses, 4 – F. C. Porto, 2

No intervalo do primeiro para o segundo encontro das Salésias, antes dos «teams» do F. C. P. e do C. F. B. alinharem, desceram ao campo várias individualidades em evidência no meio para prestar homenagem a Augusto Silva.

À manifestação juntaram-se os jogadores do F. C. Porto e do Belenenses, vendo-se entre outros jogadores antigos Eduardo Azevedo e Armando Martins, do Vitória de Setúbal.

Um avião que nessa altura voava baixo sobre o terreno deixou cair um ramo de flores, que Valdemar apanhou e foi entregar ao homenageado.

O Sr. Raul Viera, presidente da Confederação Portuguesa de Desportos, falou em primeiro lugar, enaltecendo as qualidades de atleta de Augusto Silva.

Findas as suas palavras, entregou ao jogador belenenses uma placa magnífica, de prata, com um excelente estojo, com os seguintes dizeres:

‘A Augusto Silva, do C. F. «Os Belenenses», internacional em football de 1925 a 1934 – Oferta da Confederação Portuguesa de Desportos em homenagem aos valiosos serviços prestados ao Desporto Nacional. – 30 de Setembro de 1934.

[Augusto Silva foi o "Leão de Amsterdan" e um dos olímpicos de 1928, de maior renome internacional.

21 vezes internacional, 8 vezes capitão da Selecção Nacional:

Discípulo dilecto do mestre Artur José Pereira e um dos jogadores do famoso ‘Quarto de Hora’.

Augusto Silva só aceita ser o treinador, em 1938, desde que o Clube fixe a Artur José Pereira uma subvenção mensal.

A Assembleia Geral de 18 de Agosto de 1938, aprova por unanimidade os desejos de Augusto Silva. Artur José Pereira fora um HOMEM que devotara à formação e sobrevivência do Belenenses toda a sua garra de lutador”

E agora, algumas notas da nossa parte:

1. O epíteto de “Leão de Amsterdão” não tem nada a ver com o Sporting, clube em que nunca jogou mas, sim, com a raça indomável que Augusto Silva punha em campo.

2. Foi, de facto, o ‘discípulo dilecto’ e verdadeiro sucessor de Artur José Pereira (de que várias vezes, ao longo de meses, temos vindo a falar).

3. Repare-se na beleza do seu gesto, revelador de um homem de verdadeira elevação moral, quando condicionou a sua aceitação do cargo de treinador do Belenenses à fixação de um apoio monetário ao nosso grande fundador, Artur José Pereira, já então a sofrer as dores físicas e morais da doença que o vitimou.

4. Aliás, cumpre aqui lembrar que quando, por essa mesma doença, Artur José Pereira foi substituído nas funções de treinador até ao final de uma época, por Cândido Oliveira, este teve a nobreza e o desprendimento de fazer questão que os vencimentos continuassem a ir para Artur José. Cândido Oliveira (que passou anos no Tarrafal) e Artur José Pereira foram grandes amigos.

5. O Campeonato Nacional de Futebol que o Belenenses ganhou em 1946, foi o primeiro conquistado por uma equipa comandada por um treinador português – e assim continuou a ser por muitos anos. Esse treinador chamava-se…Augusto Silva.

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