quinta-feira, dezembro 09, 2004

Campeonatos que quase se ganharam

(Texto da autoria de Eduardo Torres)

Espero que todos os Belenenses saibam (será que todos sabem?) que ganhámos 1 Campeonatos Nacional (em 45/46) mas serão muito menos os que saberão as outras ocasiões em que também estivemos à beira de obter o título. Parece-nos importante deixar isso claramente expresso, fazendo um resumo dessas situações:

ÉPOCA DE 34/35 – Foi o primeiro Campeonato da chamada I Liga. Há que mo conte no número dos Campeonatos Nacionais (o que parece lógico, apesar da diferente designação), há quem não conte.

Esteve quase a ser um excelente começo para o Belenenses. No final do Campeonato, os 4 primeiros ficaram assim escalonados:

1. F.C.Porto – 22
2. Sporting – 20
3. Benfica – 19
4. Belenenses – 19

No entanto, a três jornada do fim, o Belenenses liderava, com 18 pontos, seguido do Sporting com 17, e do F.C.Porto e do Benfica com 16. Uma derrota contra o Benfica tornou as coisas mais difíceis mas, à entrada da última jornada, o Belenenses ainda podias ser campeão, encontrando-se a 1 ponto do Porto e do Sporting. No entanto, a vitória do F.C.Porto e a nossa derrota nessa última jornada deitaram tudo a perder e acabámos no 4º lugar, contra toda a expectativa gerada.

ÉPOCA DE 1936/37 – no 3º Campeonato (da Liga), a duas jornadas do fim, o Benfica comandava com 22 pontos, seguido do Belenenses com 19. Na penúltima jornada, o Belenenses venceu o Benfica por 1-0, nas recém arrelvadas Salésias (1º Estádio de Portugal com essa qualidade), através de um golo de Varela Marques. Ficou assim tudo em aberto para a última jornada, com o Belenenses só a um ponto dos encarnados, esperando que estes não ganhassem o seu encontro com o F.C.Porto, nas Amoreiras – o que não seria nenhum milagre, a acontecer...

Mas não sucedeu o que, ao contrário, veio a ocorrer 18 anos depois. O Benfica goleou o F.C.Porto, e a classificação final ficou assim ordenada:

1. Benfica – 24
2. Belenenses – 23

ÉPOCA DE 1942/43 – Depois de um período de grande expansão patrimonial (1934, expansão das bancadas e construção de pista de Atletismo, a melhor do país, nas Salésias; cobertura da bancada central, em 1936; arrelvamento do campo, em 1937; expansão das bancadas em mais 5.000 lugares de peão, aumentado a lotação para 25.000, em 1939; início de publicação de excelente boletim mensal e beneficiação de Pista de Atletismo, em 1940; iluminação do campo de Basquetebol, em 1941), o Belenenses iniciou em grande a década de 40. Em 39-40, 40-41 e 41-42, foi 3º, nos dois primeiros casos com a melhor defesa do campeonato. Em 42/43, a classificação final ficou assim ordenada:

1. Benfica – 30
2. Sporting – 29
3. Belenenses –28
4. União de Lisboa – 20
5. Olhanense – 18
6. Académica – 16
7. F.C.Porto– 14
8. V.Guimarães – 14
9. União do Barreiro – 10
10. Leixões - 2

Mas, a dizer a verdade, o Belenenses teria sido um justo vencedor. Fez uma carreira extraordinária. Teve o melhor ataque, a melhor defesa, e o melhor goal-average: 78-20. Em casa, contou por vitórias os jogos disputados. Goleou o Sporting por 5-0, o F.C.Porto por 4-0 e o Benfica por 5-2. E venceu ainda o Unidos de Lisboa por 2-0; o Olhanense, por 8-0; a Académica, por 2-0; ao V.Guimarães, por 12-0; o Unidos do Barreiro, por 5-2 e o Leixões por 2-0. Deve-se destacar o nosso goleador Rafael (Campeão em 1946), que assinou 20 golos em 18 jogos.

Somando os golos nos jogos do Belenenses disputados em casa e fora de casa, o Belenenses superou todos os outros clubes participantes:

Belenenses – Benfica – 7-6
Belenenses – Sporting – 6-2
Belenenses – União de Lisboa – 7-0
Belenenses – Olhanense – 12-0
Belenenses – Académica – 6-2
Belenenses – F.C.Porto – 5-3
Belenenses – V.Guimarães – 13-3
Belenenses – Unidos do Barreiro – 13-2
Belenenses – Leixões – 9-2


Então, porque perdemos o campeonato?

Duas arbitragens vergonhosas foram decisivas: justamente as que ditaram as nossas derrotas em casa do Sporting e do Benfica. No primeiro caso, com um golo injustamente anulado ao Belenenses; no segundo caso, com 2 penalties para o Benfica que só existiram na imaginação do árbitro. Bem diz o Homero Serpa...

Ainda assim, à entrada da última jornada, a 2 pontos do Benfica e a 1 ponto do Sporting, com o Benfica a jogar fora e dispondo nós de vantagem sobre ambos os adversários em caso de empate, podíamos ainda ser campeões.

E essa hipótese parecia ganhar consistência a 45 minutos do fim. Ao intervalo o Belenenses ganhava tranquilamente ao Leixões, o Sporting estava em dificuldades com o Unidos do Barreiro, e o Benfica estava a sofrer (e empatado) em Coimbra, contra a Académica. No final, porém, o Benfica ganhou por 4-3, e o Sporting acabou por se desembaraçar, vencendo por 5-1, de pouco ou nada valendo o triunfo do Belenenses sobre o Leixões por 5-0.

ÉPOCA DE 51/52 – Nesta época, que se iniciou com uma vitória por 4-3 sobre o campeão Sporting, com 2 golos de Matateu na sua estreia oficial, a classificação final ficou assim ordenada:

1. Sporting – 41
2. Benfica - 40
3. F.C.Porto - 36
4. Belenenses – 36
5. Boavista - 25
6. Covilhã - 25


A três jornadas do fim, o equilíbrio dos 4 primeiros era total: estavam empatados com 35 pontos! E o Belenenses, em caso de empate, seria sempre o vencedor, em todas as circunstâncias. Mas as últimas jornadas não nos correram de feição.

Refira-se, contudo, que o Belenenses concluiu o campeonato invicto em casa, cedendo apenas 2 empates, e que, no cômputo dos 2 jogos, tinha vantagem contra todas as equipas, com excepção do F.C.Porto e do Atlético, com os quais registou igualdades por 2-1 em todos os jogos.

ÉPOCA DE 54/55 – Foi o famoso campeonato que o Belenenses perdeu a 4 minutos do fim. A classificação final ficou assim:

1. Benfica – 39
2. Belenenses – 39
3. Sporting – 37
4. F.C.Porto – 30


Reproduzo aqui, com ligeiras alterações, o que em tempos escrevi:

“As ruas de Belém – de Belém e da Ajuda, particularmente as contíguas ao Estádio das Salésias – haviam-se coberto, tinham-se engalanado de bandeiras, de colchas, de flores, e de símbolos e cores azuis para o que deveria ser a festa do 2º título de Campeão Nacional do Belenenses.

Mas, fatidicamente, aquele fim de tarde de um Domingo no fim de Abril de 1955 haveria de terminar não na festa sonhada e merecida mas num mar de lágrimas... o dia em que Belém se encheu de lágrimas!

Por ironia do destino, foi a segunda vez que Belém assim chorou de tristeza, revolta e impotência, e a primeira fora 24 anos antes, com a morte daquele com cujo nome, justamente, se baptizou o Estádio das Salésias, onde se viveu o drama daquele 24 de Abril de 1955: José Manuel Soares “Pepe”.

Infelizmente, muitos dos que presenciaram aquele acontecimento já não estão entre nós e, portanto, (já) não há assim tantos que tenham assistido ao vivo e que, portanto, conservem na memória, tanto a dos sentidos como a da alma, o que nós só podemos imaginar, com o que nos contaram, com o que lemos.

Mas... tentemos, sim, imaginar, tentemos situar-nos nessa tarde. Faltam 4 minutos – só 4 minutos! – para terminar o último jogo desse Campeonato Nacional; o Belenenses está a ganhar 2-1 ao Sporting, essa vitória assegura-lhe o título, os verdes estão praticamente conformados, os jogadores da camisola azul com a Cruz de Cristo trocam a bola entre si, guardam-na (sobretudo o mestre Di Pace, exímio nisso, com a sua fina técnica), esperando o apito final do árbitro. O Belenenses parecia irresistível: depois de um mau começo de campeonato, uma arrancada extraordinária, uma grande sucessão de vitórias, a chegada ao 1º lugar, a sua manutenção, a vitória no último jogo, frente a um rival forte, mais um título, a reafirmação da grandeza, da força, da alma belenense... E imaginemos, porque é assim que nos contam: as ruas cheias de flores, bandeiras e colchas nas janelas e nas sacadas, em sinal de apoio, o clamor “Belém! Belém! Belém!” (sempre o nosso grito de guerra, seja em raiva ou em triunfo), os chapéus que se atiram ao ar em sinal de júbilo, os abraços que se trocam, os foguetes que estalam à volta do estádio... E de repente, sem que nada o fizesse esperar, numa jogada inverosímil, o Sporting empata, e oferece o título ao Benfica... e os corações azuis estilhaçados, pelo menos dilacerados, com a força do destino que nos atingiu tão duramente, como nunca fizera, nem voltou a fazer, a nenhum outro clube português!

O Belenenses não começara bem o campeonato e, à 7ª jornada, já estava a 5 pontos do Benfica. Após uma reaproximação, perdeu à 12º jornada com o Braga, em casa, ficando a 4 pontos do líder Benfica, e a 3 do Sporting e do Braga (e, já agora, com 1 ponto de vantagem sobre o F.C.Porto). Então, começa a cavalgada belenense, com vitórias seguidas, ambas fora, sobre o Sporting (2-1) e sobre o Porto (1-0), na última jornada da 1ª volta e na primeira da 2ª volta. Até ao final, foram 14 jogos seguidos sem perder, com apenas 3 empates, incluindo o do último jogo, e também o que disputou no recém-inaugurado Estádio da Luz (0-0), à 20ª jornada. O Belenenses alcançou a liderança à 23ª jornada, vencendo o Sporting da Covilhã por 4-0 enquanto o Benfica perdia por 3-0 com o F.C.Porto. Nas 24ª e 25ª jornadas, com vitórias sobre o Lusitano de Évora (2-0, em casa) e sobre o Braga (3-2, fora), o Belém manteve a liderança.

Assim, à entrada da 26ª e última jornada, o Belenenses estava em 1º lugar com 38 pontos, o Benfica vinha a seguir com 37, o Sporting ocupa o 3º lugar com 36. Só o Belém depende de si próprio para ser campeão. Sê-lo-ia ganhando ao Sporting, ou até empatando, caso o Benfica, na Luz, não ganhasse ao Atlético. O Benfica depende do resultado do Belenenses. Poderia ser campeão se, nessa última jornada o Belenenses perdesse e eles empatassem ou se, como aconteceu, ganhassem e o Belenenses empatasse. O Sporting ainda tinha hipóteses mas muito remotas. Para conquistar o título, teria que combinar dois factores: ganhar ao Belenenses e esperar que o Benfica perdesse.

E como foi essa última jornada? O Benfica ganhou ao Atlético por 3-0 mas convencido de que tal vitória de nada lhe valia (na altura, quase não havia transístores portáteis para ouvir os relatos). Porque, entretanto, o que se passava no Estádio José Manuel Soares Pepe (Salésias)?


O jogo começou da melhor maneira para nós. Logo aos 2 minutos, Perez marcou para o Belenenses, após centro de Dimas. Tudo bem encaminhado… até aos 17 minutos: Penalty contra o Belenenses, por falta desnecessária (os nervos?...), e o empate para o Sporting. Aos 31 minutos, o primeiro caso do jogo: Di Pace bateu o guardião sportinguista mas o árbitro anula o golo, e parece que bem, por mão do mestre argentino.

Aos 42 minutos, regressa a alegria: Matateu, de cabeça, após centro de Dimas, volta a pôr o Belenenses a ganhar por 2-1. E assim se chegou ao intervalo.

Na 2ª parte, mais dois ou três lances polémicos: mais um golos anulado ao Belenenses, uma bola que terá estado dentro da baliza sportinguista e que o árbitro não considerou golo e ainda um eventual penalty (não assinalado) sobre Matateu. O desafio corria célere para o final, e quase só se jogava no meio campo do Sporting, que não criava qualquer jogada de perigo, enquanto o Belenenses perdera já algumas oportunidades de fazer o 3º golo. Então, aos 86 minutos, houve um ataque do Sporting, através de um lançamento longo, um defesa do Belenenses (Figueiredo, segundo ouvi contar) terá escorregado, há um primeiro remate de um jogador do Sporting a tabelar num defesa azul e a sobrar para Martins, que empatou, apesar da tentativa desesperada de Martins.

Terminado o jogo, os jogadores belenenses ficaram muito tempo em campo, incrédulos, muitos banhados em lágrimas, alguns prostrados no chão, em desânimo e angústia.

E em lágrimas permaneciam ainda muitos já nas cabinas, num silêncio tremendo, enquanto o nosso treinador Fernando Riera, segundo se contou no jornal “A Bola” do dia seguinte, “bastante nervoso, media a cabina a passos largos, pontapeando de quando em vez uma hipotética bola…”. Segundo confessou 40 anos mais tarde em entrevista ao mesmo jornal, arrependia-se de não ter feito recuar mais alguns jogadores, para segurar o resultado. E à mesma distância, dizia: “De todo o coração, digo que o Belenenses foi o meu primeiro e grande amor futebolístico”.

No lado do Sporting havia alguém que, tendo cumprido o seu dever profissional, tinha igualmente o coração despedaçado, porque era o azul de Belém que ele amava: D. Alejandro Scopelli, o grande jogador belenenses dos anos 30 e 40, e mais tarde, em 72/73, o treinador que nos conduziu a um outro 2º lugar.

Após o jogo recusou-se a prestar declarações; à noite telefonou a Riera, manifestando o seu pesar. No dia seguinte, foi procurar o seu amigo belenenses Calixto Gomes e, com ar triste e abatido, pediu desculpa pelo sucedido! Três dias depois, presta então declarações públicas, ao jornal “A Bola”. E fê-lo nestes termos, que mostram bem por que equipa, no fundo do coração, ele realmente torcia: “A minha opinião é a de que o Belenenses adoptou o melhor sistema para a sua equipa. A prová-lo está o facto de a sua baliza não ter, verdadeiramente, passado por momentos de grande perigo. O golo de Martins saiu duma jogada confusa. Com a vantagem de 2-1, os jogadores do Belenenses cobriram bem a bola e lançaram bons contra-ataques que poderiam ter dado, sem favor, outro golo. Creio, sinceramente, que o plano do jogo era o melhor e se o resultado tivesse terminado 2-1, como podia ter acabado, todos agora elogiariam o sistema”.

E, a terminar, foi ainda mais claro: “Falei como profissional. Agora, no aspecto sentimental, confesso que o resultado não foi o melhor e lamento muito que o Belenenses, que tinha feito o bastante para ser campeão, não tenha conseguido o seu objectivo”. Alejandro Scopelli, um belenenses eterno!

É impossível não pensar como teria sido o futuro do Belenenses se não tivesse havido aquele acidente. Foi numa altura crucial e, por isso mesmo, muito má: pouco depois consumar-se-ia o abandono das Salésias, em que tanto se investira em termos de dinheiro, de esforço e de coração, abandono arbitrariamente imposto por um alegado plano de urbanização que nunca se efectivou; construiu-se, a partir de uma pedreira, o Estádio do Restelo (que valorizou todo o espaço circundante, o qual passou a ser zona de luxo, valorizando/inflaccionando em flecha os terrenos, com que a Câmara fez ricos negócios de venda), e tudo o que se investiu no novo estádio deixou o clube com uma dívida enorme que se tornou galopante, com terríveis consequências; estava a chegar a época do verdadeiro profissionalismo, ainda que não tão “feroz” como o de hoje; em breve viriam as competições europeias, com toda a projecção que trouxeram aos clubes que nelas podiam brilhar, situação que o Belenenses não teve condições de aproveitar. Se tivesse ganho esse título, haveria um Belenenses mais forte para enfrentar todos esses desafios, para continuar a ombrear lado a lado nas compitas com os seus rivais tradicionais, especialmente os de Lisboa, isto é, o Benfica e o Sporting. Repare-se que se tivesse ganho aquele título, o Belenenses passaria a ter 2 vitórias num total de 17 campeonatos, ficando o Benfica com 4, o Sporting com 9 e o F.C.Porto também com 2 (se não considerarmos as 4 edições experimentais da I Liga, com 3 títulos do Benfica e 1 do Porto): um manifesto equilíbrio, embora com o Sporting, então, destacado. E quem pode dizer o que seria o futuro do Benfica que, desde 44-45, só tinha sido campeão em 49-50, indo os restantes campeonatos para o Sporting e o Belenenses?

Tudo indica, pois, que hoje teríamos um Belenenses com mais força, com mais sócios e simpatizantes (porque, queiramos ou não, mesmo num clube como o Belenenses, são as vitórias que trazem mais adeptos....), com mais títulos no seu palmarés. Em contrapartida, não teríamos nos nossos anais esse episódio tão único, simultaneamente tão triste e tão belo, que afinal também faz parte da caracterização do Belenenses; nem teríamos talvez este tão entranhado sentimento de amor feito de resistência, porque muito da nossa história é um combate pela sobrevivência, contra as adversidades de todo o género. Como escreveu um dia, num belo editorial, Alexandre Pais, ao tempo director do Jornal do Belenenses: “O evitar do cataclismo tem sido o milagre permanente deste clube nobre e atormentado, tantas vezes infeliz”…

Entretanto... 50 anos depois (mais vale tarde que nunca...), ficou claro que não foi apenas o infortúnio mas erro(s) da arbitragem que tirou aquele título ao Belenenses.

No jornal “A Bola” de 23 de Outubro de 2004, o guarda redes sportinguista naquele jogo, o grande Carlos Gomes veio afirmar de modo inequívoco que num dos lances polémicos (que faria 3-1 para o Belenenses), a bola esteve mesmo dentro da sua baliza, claramente, pelo menos 20 centímetros além da linha. Só que o árbitro não viu(?). E assim se foi um título...

ÉPOCA DE 58/59 – Neste ano, em que mais uma vez o Belenenses ficou invicto em casa, a classificação final foi a seguinte:

1. F.C.Porto – 41
2. Benfica – 41
3. Belenenses – 38
4. Sporting – 31
5. V.Guimarães – 29
6. V.Setúbal – 27

Depois de um começo irregular, o Belenenses foi-se aproximando do Benfica, que liderou durante muito tempo. O F.C.Porto, curiosamente, também não começou bem. O Sporting esteve sempre fora da luta pelo título. O V.Guimarães, pelo contrário, teve um excelente começo e andou algumas jornadas em 2º lugar. Temos fotografias do jogo em que o Belenenses venceu os vimanarenses por 2-0 no Restelo. A moldura humana é impressionante: a central está cheia, cheíssima, o mesmo acontecendo com o anel superior do Topo Norte (na altura com 14.500 lugares em pé). A bancada do lado do Tejo estava habitualmente cheia, por também ter preços bem populares. Ou seja, uns 35.000 espectadores, quase todos do Belenenses!

Em 1 de Fevereiro de 1959, o Belenenses, empatado com o F.C.Porto e a 3 pontos do Benfica, recebeu a visita do Benfica. Grande enchente no Restelo, apesar da grande tempestade que se fez sentir. Esgotou-se a lotação (que era então de 44.000 lugares). Uma multidão impressionante resistiu estoicamente a um jogo que talvez devesse ter sido adiado. O estado quase impraticável do terreno prejudicou a equipa mais leve e tecnicista – a do Belenense (claro!...). No último minuto, depois de o Belenenses muito porfiar para chegar à vantagem, Matateu, na marcação de um pontapé de canto, fez a bola entrar na baliza do Benfica. Inusitadamente, o árbitro anulou o golo, alegando que apitara anteriormente, por a bola ter saído pela linha de fundo! Ninguém (imprensa incluída) ouviu o tal apito. A reacção de desespero dos jogadores encarnados mostra que tão pouco eles o tinham ouvido. A trajectória da bola tornava impossível que tivesse saído pela linha de fundo. Mas o árbitro não validou o golo. E impediu a vitória do belenenses, que o deixaria, moralizadíssimo e em grande forma, a 1 ponto apenas do líder Benfica, e com 1 ponto de vantagem sobre o F.C.Porto (que acabou por ser campeão).

Face ao enérgico e exemplar protesto do Belenenses (que na altura não se encolhia...), o jogo veio a ser repetido a 1 jornada do fim. Mas então, a 3 pontos do líder, o Belenenses já não podia ser campeão (registou-se um empate 1-1). No entanto...como teria sido se tivesse ganho, como merecera, algumas jornadas antes?


Em resumo: o Belenenses ganhou um campeonato mas quase ganhou outros seis. Falar em 3 grandes, como se sempre tivesse havido 3 grandes, é uma deturpação abusiva da história. Porque permitimos que tal aconteça?!

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