sábado, dezembro 18, 2004

Sobre a psicologia e o desporto, novamente!

Muitos de vós conhecem a minha cruzada pessoal relativa ao aumento das condições competitivas das equipas do nosso clube por via do desenvolvimento de um trabalho de fundo ao nível do treino psicológico. Muitos dirão que me limito a defender a minha dama, numa perspectiva corporativista, mas de facto assim não é. Sou psicólogo, mas não do desporto. Todavia, por curiosidade e até experiência pessoal, uma vez que fui atleta de alta competição durante cerca de 8 anos no Sport Algés e Dafundo, creio conhecer a importância da psicologia na preparação dos atletas individualmente considerados e das equipas como um todo...


1.
Porque é tempo de ir concretizando ideias, e não apenas deixar no ar meia-dúzia de intenções (boas, com certeza, mas pouco eficientes), aqui deixo algumas propostas que poderão merecer da parte de quem decide pelo menos um momento de atenção.

É sabido que ao longo dos últimos anos o desporto conheceu um impulso fortíssimo ao nível do treino científico. Este processo de desenvolvimento de novas concepções de treino, e em particular do treino adaptado às necessidades e/ou objectivos dos atletas/equipas, teve início na antiga URSS e conheceu grande desenvolvimento nos países de Leste. A isso se deve grande parte do sucesso das equipas destes países, durante quase todo o século XX.

Hoje, os métodos científicos do treino estão disseminados por todo o mundo e, de forma mais ou menos evidente, demonstram-se imprescindíveis na preparação de atletas e equipas para a competição.

Em Portugal, o treino científico dá os primeiros passos. Quando nadava no Algés, em meados da década de 90, iniciou-se um projecto interessante (liderado pelo actual presidente da FPN), mas que morreu por si, talvez por falta de dinheiro ou mesmo por falta de paciência de todas as partes envolvidas.

Foram criadas estruturas, mas a casa foi construída a partir do telhado. Assim, em vez de se incentivar o treino científico nos clubes, através de formação específica para os técnicos ou da criação de protocolos com as Universidades e pólos de investigação, optou-se pela criação de um pomposo Centro de Alto Rendimento, o qual se encontra segundo parece mais ou menos parado.
O segredo encontra-se no treino diário, e esse faz-se nos clubes.

Ora, é esse o trabalho que eu gostaria de ver iniciado, de forma estruturada, no Belenenses. E quando digo estruturado refiro-me à criação gradual e baseada em trabalho de terreno de uma estrutura de apoio aos técnicos e atletas do clube. Alvo verdadeiramente inovador, numa estrutura tão grande como a do Belenenses... Mas do meu ponto de vista tão importante quanto inevitável.

Mais tarde ou mais cedo TODOS os clubes vão apostar em estruturas do género. E nessa altura quem irá à frente são os clubes que se anteciparam, aqueles que olharam para a frente quando todos olhavam apenas para o umbigo.


2.
O nosso clube tem condições únicas para se desenvolver como uma grande casa do desporto, capaz de criar grandes desportistas, mulheres e homens. Desde logo porque a sua concepção do desporto é de natureza diametralmente oposta à concepção que outros clubes têm.

O Belenenses tem criado as estruturas que lhe permitirão no futuro dar o salto por todos ambicionado. A modernização do seu complexo desportivo, longe de constituir um fim, foi (e é) um passo essencial nesse sentido. Por outro lado, existe uma aposta séria ao nível da constituição de equipas técnicas capazes, com natural impacto ao nível dos resultados desportivos das equipas de competição.

E se neste momento a prioridade é, de certa forma, dar mais consistência e estabilizar as estruturas criadas, não será possível ignorar por muito mais tempo a necessidade de partir para voos mais altos. Nomeadamente no quadro competitivo.

Os nossos atletas e equipas competem hoje ao mais alto nível, nacional e internacional, muitas vezes contra adversários que contam com condições de treino muitíssimo melhores. E quando correm ou nadam lado a lado, são essas condições que fazem a diferença de décimos de segundo que dão e retiram títulos...


3.
Assim, e tendo em conta a crescente importância do treino mental na preparação dos atletas, o que gostaria de ver equacionado era a criação de um "Gabinete de Apoio ao Treino" no Belenenses, constituído por uma equipa multidisciplinar que trabalhasse diariamente com as equipas do clube, no sentido de contribuir para fazer a diferença...

É possível, na minha opinião, criar uma estrutura assim sem grandes custos para o clube. Até porque há um campo a explorar que se encontra neste âmbito praticamente virgem: o dos protocolos de cooperação entre clubes e instituições de ensino superior.

Porque não avançar com uma experiência piloto ao nível das equipas de competição de duas ou três modalidades, nos escalões etários mais baixos, alargando (ou não) o âmbito de actuação do GAT de acordo com a avaliação do trabalho e dos resultados obtidos?

É tempo de avançar por mares nunca antes navegados, como os argonautas lusos, saídos da praia de Belém...

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