quarta-feira, janeiro 19, 2005

Sobre o jornalismo desportivo em Portugal

A relação com os media é uma das novidades que este fim de século e início do novo milénio trouxe às sociedade e, em particular, às organizações de todos os tipos. É verdade que os media já vinham ganhando peso ao longo de todo o século XX, mas apenas a partir dos anos 80, com a progressiva alfabetização das populações e com a generalização do consumo de jornais, os órgãos de comunicação social se assumiram como um verdadeiro poder.

Não é vocação deste Blog fazer análise social nem política, e apenas por isso me abstenho de aqui a realizar. Mas todos conhecemos o peso que os media têm hoje a criação e destruição de imagens, na promoção de produtos, bens e serviços. Todos sabemos que o processo de concentração dos media têm prejudicado fortemente a liberdade de expressão e até o pluralismo que se deseja.

Na imprensa desportiva portuguesa vivem-se fenómenos por vezes muito característicos, os quais não podem ser directamente comparados com aqueles que se verificam nos jornais generalistas. Mas existe também uma tendência de diminuição do pluralismo, a qual se materializa na concentração de todas as atenções (e na atribuição de espaço e tempo desmedidos) em assuntos que digam respeito:


1. Ao futebol, ignorando-se quase por completo outras modalidades e até eventos desportivos de grande interesse e projecção;

2. No âmbito do futebol, aos chamados “três grandes”, os quais são de facto responsáveis por grande parte das vendas.

Assim, e num futebol cada vez mais industrializado, no qual os clubes já deram lugar às SAD’s (empresas que visam exclusivamente gerar proveitos financeiros), esta concentração é na minha opinião passível de se considerar ilegal, por constituir uma favorecimento inaceitável de empresas concorrentes num determinado mercado face a outras, menos fortes. Chamemos-lhe um determinado tipo de concorrência desleal.

Todavia este é um aspecto que, apesar da sua importância, a mim me diz pouco. Não sou adepto das SAD’s e se pudesse acabava com todas elas. Eu sou adepto do desporto real e não do desporto especulação. E sou filiado de cartão e coração no nosso Clube de Futebol “Os Belenenses”. É por isso que, como qualquer belenense mais ou menos consciente, me encontro permanentemente de pé atrás face a uma comunicação social que não só me desagrada do ponto de vista global, como me deixa profundamente indignado no que diz respeito à forma como na generalidade dos casos o Belenenses é tratado.

Não somos anti-jornais. Somos anti a forma como nos tratam. Nada temos contra os jornalistas sérios e honestos, aqueles que têm perfeita noção da sua responsabilidade. Mas não toleramos aqueles que nem durante o exercício da sua profissão são capazes de despir a camisola, e que por isso mesmo transformam as suas prosas em propaganda gratuita e muitas vezes de péssima qualidade. Não pretendemos dar lições a ninguém, mas não admitimos que mentiras 1000 vezes repetidas se tornem em verdades.

Ainda há alguns dias o diário “A BOLA” dedicava uma página inteira a um conjunto de disparates, os quais já foram tantas vezes desmentidos (aqui, neste blog, por exemplo) que apenas por ignorância ou má vontade puderam ser publicados. Referimo-nos à mentira segundo a qual o Belenenses teria sido beneficiado com a passagem das Salésias para o Restelo.

Como os exemplos abundam, e são por demais conhecidos, não iremos perder o nosso e o vosso tempo a repetir aquilo que todos conhecem. Os mais esquecidos poderão pesquisar os muitos posts deste blog, o site do Luís Vieira (“Os homens que mordem o Belenenses”) ou a página web do Henrique Amaral (a qual contém uma interessante descrição acerca da transmissão televisiva da final da Taça de Portugal de 1989…).

Há 85 anos que somos massacrados com os disparates de jornalistas “menos atentos”. Os próprios jornalistas criticam-se mutuamente (lembram-se do texto do Alexandre Pais do Record a propósito da vergonhosa peça do seu colega a propósito do jogo Porto-Belenenses da temporada 2003/4?).

Vivemos tempos em que a qualidade já não é preocupação. Em que os motivos de interesse não se baseiam na missão de informar, mas antes na necessidade de render e gerar lucros. A escolha é a do caminho mais fácil: abandonam-se os antigos padrões e opta-se por transformar antigos jornais sérios em verdadeiros pasquins cor-de-rosa, em que se fala de tudo menos do essencial.

Não gosto de colocar tudo no mesmo saco. Generalizações são para pessoas que vêem a realidade a preto e branco. Ora, a minha cor preferida é o azul, e por isso tenho (temos) a obrigação de saber separar as águas. Este texto não se destina a ninguém em especial, embora a carapuça sirva a muito boa gente. A quem servir a carapuça, que a coloque. A quem não servir que continue a desenvolver a sua actividade profissional com brio e responsabilidade. Mas por favor respeitem o Belenenses. E já agora, respeitem todos os outros clubes, maiores e menores, pois no dia em que o futebol se disputar a três, os vossos três jornais deixam de ter razão de existir.

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