quarta-feira, março 16, 2005

Anders Frisk

Anders Frisk, um dos melhores árbitros mundiais, abandonou a arbitragem ao ser vítima de ameaças de morte. Não é o primeiro nem será o último árbitro a ser ameaçado de morte e, curiosamente, quanto mais se sobe na pirâmide da arbitragem, menos frequentemente sucedem estas situações e mais amiúde há reclamações (independentemente destas ameaças serem um acto cobarde). Bem sei que não se enquadra no espírito deste Blog, vocacionado essencialmente para o Belenenses, mas o nosso correspondente na Suécia, Marcus Bjorling, enviou-nos a seguinte entrevista concedida por Anders Frisk ao matutino sueco DAGENS NYHETER que nos parece oportuna publicar por toda a celeuma que esta situação que tem causado no futebol europeu:

No dia seguinte a ter abandonado a arbitragem, Anders Frisk foi até ao IKEA comprar mobiliário. Agora, espera estar livre das ameaças de morte e dos problemas causados por treinadores, dirigentes, jogadores, imprensa e clubes.

Recordando o jogo entre Chelsea e Barcelona, que foi o início do fim, o que lhe passa pela cabeça?
- Eu sempre fui para os jogos sem ler nada sobre eles, tentando afastar-me ao máximo do ambiente que os envolve. Assim, não sabia que tinha havido uma troca de palavras entre os dois treinadores antes do jogo. Tive, assim, uns óptimos 90 minutos em Nou Camp, apesar de ter sido o meu último jogo.

Desde quando se sente desconfortável pelo facto de ser árbitro?
- Voltei para casa e estava a sentir-me bastante bem. No entanto, as coisas mudaram, coisas para as quais não estava preparado. E cada vez tem sido pior. Esta "guerra" paralela ao jogo de futebol propriamente dito é algo do qual não quero tomar parte. O que se passou nos últimos 15 dias fez-me ter a certeza da minha decisão.

Foi ameaçado de morte. Teve medo que lhe pudesse acontecer algo, ou à sua família?
- Continuo a abrir o correio e a atender o telefone. E nunca tive medo de saír de casa.

Qual a opinião da sua família?
- A minha família está feliz, apesar da tristeza de tomar esta opção por uma situação deste tipo. É fantástico ser árbitro, mas perde todo o interesse quando se passam estas situações.

É possível continuar a arbitrar em jogos nacionais?
- Sempre disse que quando acabasse a minha carreira internacional, acabava a minha carreira. Aconteceu mais cedo do que esperava, mas não podemos controlar tudo na vida.

José Mourinho, treinador do Chelsea, criticou-o fortemente. Que responsabilidade pensa que os treinadores têm?
- A discussão é importante considerando que há milhões de pessoas em todo o mundo a acompanhar o futebol. Quando se fazem afirmações que incendeiam a discussão não é bom nem para os envolvidos, nem para o futebol.

É amado e odiado?
- É óptimo não é? (Risos) Tenho pena de nunca mais pisar o relvado do Rasunda (Estádio Nacional da Suécia), do Soderstadion (Estádio do Hammarby), do Örjans vall (Estádio do Halmstad) e alguns outros...

O que costumava pensar antes dos jogos?
- As últimas palavras que costumava trocar com os assistentes eram para darmos à equipa da casa o que ela merece: não devem ter mais nem menos que a equipa visitante. E que devemos dar à equipa visitante o que ela merece: não devem ter mais nem menos que a equipa da casa.

Qual o melhor e o pior momento da sua carreira?
- A final do Euro 2000 é certamente o melhor momento. Quanto ao pior momento, o maior erro da minha carreira foi num jogo que envolvia a equipa da qual sou adepto, o Johannesbergs, num terreno em muito mau estado. Um jogador fez um chapéu ao guarda-redes e eu apitei golo, mas a bola parou numa poça de lama antes da linha de golo. Mas eu apitei golo... O maior erro da minha carreira. A bola nem chegou a estar em cima da linha.

Lennart Johansson, Presidente da UEFA, não o quer afastado dos grandes palcos...
- A minha filha também não. Mas há coisas mais importantes. A minha família precisa de segurança.

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