segunda-feira, maio 09, 2005

Carvalhal e o Romantismo

Luciano Rodrigues

Carvalhal foi, na minha opinião, uma boa contratação para liderar a equipa de futebol do Belenenses. Não o escondi e não o escondo. Acreditava que Carvalhal seria capaz de fazer um excelente trabalho, baseando-me naquilo que vira do Leixões da Taça e Europeu. Uma verdadeira equipa, com um plantel extremamente bem construído, com soluções e jogadores que pareciam escolhidos a dedo para a sua função. Quase um ano depois, já não tenho a mesma convicção ao falar de Carvalhal. Mas isso não é suficiente para pedir a sua cabeça.
Tenho criticado, ao longo da época, diversas opções de Carvalhal, a sua dificuldade em “ler o jogo”, os seus discursos politicamente correctos e desportivamente desmoralizadores e a falta de ambição que tem mostrado. No entanto, na minha opinião Carvalhal só por uma vez desceu abaixo do limite da razoabilidade, e foi precisamente na véspera daquele que foi o jogo mais importante da época, na Amadora, para os quartos-de-final da Taça de Portugal, quando afirmou que a Taça não era uma competição importante. Aí, Carvalhal foi demasiado longe, roçando o ridículo. Digo, sinceramente, que tive de me “beliscar” para acreditar que era possível o nosso treinador dizer uma barbaridade daquelas!

De resto, meus amigos, é esta insatisfação permanente que faz com que o futebol seja acompanhado com tanta paixão. E é essa paixão que traz a insatisfação permanente. A verdade é que o Petrolina tão depressa é um génio como um “calão”, o Neca um estratega como um jogador perdido em campo, o Rolando o novo Maldini e no dia seguinte um miúdo que “ainda tem de comer muita papa” ou o Sousa bom ou mau.

Carvalhal é pior que muitos outros treinadores, não tenho dúvidas. Mas, convenhamos, há alguns bem piores que ele, e temos tido ao longo dos anos exemplares fantásticos de treinadores fiasco. Carvalhal, satisfazendo, ou não (até ver, não) as nossas aspirações, está a satisfazer aquilo que lhe pediram. A culpa é, fundamentalmente, de quem estabeleceu limites pouco ambiciosos para esta temporada, e não de quem os está a cumprir com maior ou menor brilhantismo.

Na minha opinião, o maior defeito que Carvalhal tem mostrado é a falta de ambição, pelo menos a que transmite para fora do balneário. Mas é Carvalhal o treinador com quem temos contrato para a próxima temporada, presumo que a está a planificar há já muito tempo (tem obrigação disso) e, na próxima temporada, então sim temos obrigação de colocar a fasquia mais alta e Carvalhal, aí sim, poderá ser chamado à pedra se não cumprir os objectivos…

No entanto, e tenho de fazer a ressalva, não estou muito confiante na próxima temporada. Não me perguntem porquê concretamente, mas acho que não vamos conseguir dar o tal salto que se impõe. Acho que falta, acima de tudo, cultura de vitórias no Belenenses. Não podemos fazer uma festa quando ganhamos fora. Temos é de ficar “chateados” quando o não conseguimos. Precisamos de mais Marcos Aurélios, Sousas, Marcos Paulos, Tucks, Ruis Ferreiras ou Paulos Sérgios. Porque o futebol nos dias de hoje é 90% transpiração e 10% inspiração. O tempo do futebol romântico já lá vai...

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