sexta-feira, julho 22, 2005

Carvalhal

Eduardo Torres

A época passada, o nosso actual treinador nunca conquistou o meu coração. O seu discurso pareceu-me sempre frio e sem especial consideração pelo nome e grandeza do Belenenses. Quanto à inteligência, depois da expectativa inicial, também perdeu em mim a batalha a partir do jogo com o Estoril, inclusive.

Escrevi há umas semanas atrás que, já que ele é também o técnico desta nova época, lhe devíamos conceder um novo estado de graça. Pela minha parte, assim o tenho feito. Gostei das contratações efectuadas. Não sei que parte do mérito cabe a Carvalhal mas acredito que alguma haverá certamente.

Por norma, constato igualmente um novo discurso de dirigentes (v.g., o Presidente da SAD), técnicos e jogadores nesta nova época. Fico bastante contente com isso, tanto mais que – se me permitem – quase parece que se reproduzem palavras que várias vezes escrevi e preconizei que deveriam constituir o discurso do Belenenses.

continua...

No dia 4 de Julho, confesso que Carvalhal me dirigiu um tiro certeiro ao coração, com a mensagem que foi publicada no portal oficial do clube, e de que transcrevo em seguida as partes que mais me agradaram:

”Gostaria de aproveitar esta oportunidade para saudar toda a ‘nação Belém’. (...) Partimos para esta época com muita ambição e com vontade de devolver o clube ao lugar que a sua história e o seu estatuto exige. (...) pensamos estar a criar uma estrutura forte que deverá ser melhorada ano após ano, tentando projectar a equipa para melhores classificações, que poderá significar dentro de dois três anos (se não se cometer erros) a luta pelo título. (...) Estamos todos com «ganas» de começar a época, queremos que comece amanhã o campeonato, queremos ganhar e dar alegrias a todos ‘Os Belenenses’ (...). Esperamos o vosso apoio em todos os momentos, mas especialmente nos menos bons, porque é nessas alturas que se vê verdadeiramente quem gosta do clube. (...) Queremos fazer história e nós contamos com o vosso apoio incondicional. Temos também a noção que o nosso clube é ainda muito desprotegido (não temos ninguém! nas estruturas de cúpula do futebol português). Mais um motivo para que toda a ‘nação Belém’ se una, apoie incondicionalmente aqueles que prometem dedicação e trabalho a uma causa com muita ambição. Existem adeptos do Belenenses em todos os cantos do Mundo. Em Portugal, em todas as cidades, bairros e ruas. Apareçam nos estádios onde a nossa equipa esteja a jogar, façam sentir a vossa presença, o vosso amor pelo clube, seguindo o excelente exemplo da ‘Fúria Azul’. Precisamos do vosso apoio. Todos seremos poucos para conseguir os nossos objectivos”.

Com estas palavras, acrescentadas da declaração de que até na rua onde reside, em Braga, há muitos adeptos do Belenenses, Carvalhal, em grande medida, conquistou o meu coração. Será agora capaz de me reconquistar a inteligência?

Parece que é um treinador metódico e capaz de ensaiar um sistema de jogo. A verdade é que o espectacular triunfo em França sobre o Mónaco, além de entusiasmante, constitui um bom sinal disso mesmo. Veremos se Carvalhal consegue manter a ambição e melhorar naquilo que me parece ser o seu ponto mais fraco em termos técnicos: a leitura do jogo no banco, face ao seu desenvolvimento sempre imprevisível.

Espero também que renuncie de vez ao discurso morno e cinzento do politicamente correcto. É que, entretanto, Carvalhal teve uma recaída. Vou falar nisto, porque parece que só repetindo muitas e muitas vezes as coisas se chegam a algum lado. Entrevistado pela “Bola”, à sabujice da pergunta “Como vai jogar em casa dos três grandes?” (quais serão os outros dois, além do Belenenses, pergunto eu?!), ele lá saiu com o discurso redondo da praxe. Aceitou a pergunta. Não o devia ter feito! A isto, quem estiver ao serviço do Belenenses, não pode responder como “eles” (jornaleiros) querem; deve-se, sim, desmontar a pergunta. A resposta deveria ter sido esta: “O Belenenses é, quer voltar a ser, um grande clube”. E mais nada!

Também teria sido melhor que Carvalhal, perguntado sobre qual o principal candidato ao título, não viesse, ele próprio, falar nos “três grandes”. Não deve, não pode fazê-lo. É claro que, em parte, ele não tem culpa: se até alguns adeptos belenenses tristemente adoptam essa expressão como se fosse uma coisa normal! Só que há 2% de portugueses, que – só eles – não podem nunca falar em 3 grandes: e esses são os adeptos do Belenenses. Podem fazê-lo os adeptos do Benfica, do F.C.Porto, do Sporting; podem, sem desprimor, fazê-lo os adeptos do Arrentela, do Rio Ave, do Boavista, do Guimarães, do Setúbal, do Braga, do Bragança ou do prestigiado Sarilhense (bastante prestigiado, a fazer fé no destaque que os jornais deram à vitória do Sporting sobre essa equipa); mas os do Belenenses, NÃO, NUNCA, JAMAIS! A nossa história, a nossa grandeza, o que representamos no desporto português, não o permitem. Demos nós, adeptos e dirigentes, o exemplo sem mácula. Ensinemo-lo aos nossos técnicos e jogadores. E exijamo-lo à comunicação social.

Sem comentários: