domingo, junho 25, 2006

À conversa com... Nuno Lopes (parte 2 de 2)





Segunda parte da entrevista de Tiago Louro ao grande Nuno Lopes.

Blog: O que é que podemos esperar para a próxima época?

Nuno Lopes
: A próxima época não é fácil por vários motivos. O futsal não passa ao lado da realidade do clube, independentemente de o clube se manter ou não na liga principal de futebol, todos sabemos que o momento financeiro não é o melhor, obviamente que vão haver restrições a todos os níveis, estamos conscientes disso, estamos conscientes dos menores custos que temos em relação a outras modalidades de alta competição, o que nos pode ser benéfico ou não, em termos dos furos do cinto que temos de apertar poderão ser menos, no entanto, poder-nos-á impedir de dar o passo seguinte, embora isso não seja condição sine qua none, para se fazer um bom trabalho, é um indicativo de, mas não é condição.

Temos de viver numa realidade bem cuidada, gerir muito bem o nosso orçamento, não vai haver incremento de orçamento, antes pelo contrário, mas nós continuamos a ser ambiciosos, fazer melhor do que esta época vai ser difícil porque podemos não ter capacidade para reforçar as condições de trabalho da forma como desejamos, no entanto tenho a certeza que todo o grupo de trabalho vai ter as melhores condições de trabalho para o funcionamento da próxima época, o que penso irá ser suficiente para dar ao clube o prestigio e dignidade que merece.

Poderemos não ter aqui os jogadores que eventualmente, e se as condições financeiras e se o aumento de orçamento existisse, desejávamos, mas teremos aqueles que queremos com o orçamento possível e de certeza que aqueles que vamos ter vão fazer jus ao nome de Conquistadores que este grupo simpaticamente granjeou no seio dos adeptos.


Blog: Já há nomes garantidos para a próxima época?

Nuno Lopes
: Já há nomes garantidos. Todo o trabalho para que possa ser bem feito tem de ser planeado com bastante antecedência e com os pés bem assentes no chão para que os frutos possam surgir.

Já existem nomes, já existem atletas com acordo que a seu tempo a direcção irá divulgar, até porque em termos de treinos a nossa época ainda não acabou, há certos pormenores para resolver ainda desta época, há jogadores que saiem e outros que entram, mas são poucos os pormenores pois todo o resto do trabalho está já feito.

Graças a deus existem hoje em função do bom trabalho até então, um sem número de atletas a gostarem de representar o Belenenses quer pelo clube, quer pelo grupo de trabalho, quer pela sede de vencer e serem conhecido. Sempre foi assim. Eu quero lembrar que há atletas marcantes ao longo destes três anos, não estou a cometer nenhuma inconfidência ao dizer que no 2º ano diziam que este era um grupo velho, era um grupo muito experiente com atletas com nome na modalidade como o Nuno Neves, como o Paulo Jesus, como o Nuno Coelho, como o Paulo Castelinho, como o Carlos Reis, como o Marco Reis que em conjunto com todos os outros que se queriam afirmar como o Luís Vilar, como muitos outros, se calhar estou a ser injusto para alguns ao não os referir mas que funcionaram muito bem e que esta equipa técnica soube tê-los e hoje são um símbolo do clube.

Emocionou-me profundamente ver uma faixa no último jogo em casa aqui que dizia: “Carlos Reis, obrigado, tu és um símbolo”, porque é realmente um símbolo, um jogador que a meio da época da 3ª divisão bastou um telefonema de 30 segundos a perguntar, Carlos Reis queres vir jogar para o Belenenses para a 3ª divisão? E a resposta foi sim, sem preocupação de qualquer tipo de acordo em termos financeiros e isso ainda hoje me marca e todos os outros anos em que nunca houve discussão acerca de renovação com esse jogador e é notável o brio e a entrega e a raça que ele sempre colocou em campo. A ele e a todos os outros porque não me quero esquecer de nenhum, o meu muito obrigado por todo o suor.

Obviamente que houve jogadores que não renderam aquilo que nós esperávamos, que ficaram aquém da aposta que o clube fez neles, este ano isso foi por de mais evidente, nós começamos a época com 16 jogadores e acabamos com 13, sinal de que o clube de uma certa forma não pactua com laxismos nem com faltas de empenho nem com sub-rendimentos quando está em jogo o investimento do clube, se os atletas não têm predisposição de se entregarem a 100% e de corpo e alma como todos os colegas o fizeram durante a época, obviamente que temos que falar e esses atletas deixaram de pertencer ao grupo, uns por uma razão, outros por outra. Não terá sido, única e exclusivamente por falta de empenho mas também por razões pessoais da sua vida, mas gostava de para o ano chegar ao final da época com todos os elementos que a começaram porque era sinal que todos eles deram 100% da sua entrega e do seu valor ao clube.


Blog: Vão haver muitas mexidas no actual grupo de atletas?

Nuno Lopes
: Não. Vai haver essencialmente o reforço daquilo que o clube, e de acordo com aquilo que a sua equipa técnica entende para que a prestação do próximo ano possa ser melhor, mais equilibrada, mais sólida, mas não vão haver muitas mexidas nestes 13, vai haver entradas e saídas, as coisas acabam por ser por de mais evidentes e basta estar atento ao grupo de trabalho e ver quem são as eventuais saídas.


Blog: Em que situação é que estão os escalões de formação?

Nuno Lopes
: Os escalões de formação são uma aposta que me é gratificante ver, que o clube quer fazer para este ano. Começamos com o escalão júnior o ano passado que por inexperiência não conseguiu logo o acesso à divisão maior, o campeonato do ano passado tinha algumas nuances competitivas que não nos foram favoráveis, na altura ficámos a poucos golos de puder disputar a fase de ascensão à 1ª divisão. A meio da época tivemos de fazer alguns acertos no grupo de trabalho, houve mudança de treinador, este treinador veio incutir no grupo de trabalho a mística do Belenenses e o trabalho feito durante a época que passou deu frutos também este ano. Esta equipa foi sempre superior a todas as outras, não que tivessem uma superioridade técnica avassaladora em relação aos outros grupos de trabalho, às vezes até pelo contrário mas trabalharam sempre muito e quis sempre ganhar, à semelhança daquilo que deve ser o Belenenses, e pelo bom trabalho feito semanalmente, acabou a época sendo superior a todos os seus adversários.

A aposta em relação ao próximo ano, é gratificante para mim, porque ver que o clube sem prejuízo do seu orçamento, sem incremento de carga horária e sem prejuízo das outras modalidades, vai apostar ainda mais no futsal, avançando com o escalão de juvenis que é muito importante, pois os jogadores saiem desse escalão já com a forma de jogar à Belenenses que nós queremos, de maneira a que ao surgirem nos juniores, o salto para os seniores seja feito mais facilmente e terem ainda mais qualidade pois é nossa intenção ter atletas na selecção, é nossa intenção trabalhar a formação e criar jogadores como atletas e como homens, obviamente sem descurar que quem defende a camisola do Belenenses tem de lutar sempre para os primeiros lugares que é isso que vai acontecer.

Pensamos e queremos ter também umas escolinhas de futsal em que estará ainda em análise a sua forma de actuação mas que vem no seguimento da aposta que este clube decidiu fazer e em boa hora no futsal. É-me muito gratificante ver que muitos dos atletas juniores integraram e com sucesso o grupo de trabalho dos seniores muitas vezes a treinarem juntos e algumas vezes a serem convocados, o que atesta bem da sua qualidade. O indicativo disso mesmo, é que relativamente à próxima época, do grupo de trabalho que iniciará o escalão sénior, haverá 2/3 jogadores do escalão de formação e isso não acontece por caridade, acontece porque os atletas têm valor. Seria impensável para esta equipa técnica e para este grupo de trabalho ter alguém no seu seio que não tivesse qualidade, os jogadores que vão subir a seniores têm qualidade e com o trabalho realizado diariamente no escalão principal, vão puder ser alguém no futsal daqui a uns anos, se continuarem a trabalhar como sempre o têm feito, com muita humildade, muita abnegação, à semelhança daquilo que é a imagem dos seus colegas mais velhos.


Blog: Haverá a aposta em algum atleta estrangeiro?

Nuno Lopes
: Essa hipótese está de momento posta de lado.


Blog: Devido à situação que o clube atravessa?

Nuno Lopes
: Também, a situação de puder ter um atleta estrangeiro terá que ser analisada de várias formas, um dos motivos é o não incremento de orçamento, logo isso aí é limitativo, mas este ano também não houve nenhum estrangeiro e o grupo teve muita qualidade. O jogador estrangeiro será uma mais-valia se integrar o grupo de trabalho com o mesmo querer e vontade. É complicado ter um atleta profissional numa modalidade que não o é no seio do Belenenses, ter o atleta parado durante o dia para treinar à noite. Não escondo que foi uma hipótese equacionada porque um jogador estrangeiro com valor, nomeadamente brasileiro, deverá ser analisado caso a caso. Há jogadores estrangeiros que são baratos, outros nem tanto mas pelo seu rendimento acabam por o ser e há aqueles muito caros quer pelo seu rendimento, quer pela realidade do clube. Mas foi uma hipótese que equacionámos.


Blog: A excelente época feita pelo clube atraiu a atenção sobre algum atleta, nomeadamente ao nível de selecção ou de clubes com outro poderio económico?

Nuno Lopes
: Todos os atletas do Belenenses foram observados por outros clubes, não tenho a mínima dúvida. Os atletas mais utilizados foram cobiçados por outros clubes, no entanto o Belenenses sempre teve a sua forma, digamos inteligente, de funcionar, os atletas têm contrato desportivo e para além de estarem contentes por representar o Belenenses, todos os atletas que nos interessavam têm vínculo contratual á bastante tempo para a próxima época. Mas não tenho dúvidas que todos os atletas foram cobiçados. E não estou longe da verdade, quando digo que toda a gente conhecia um Miguel Fernandes, um Pedro Caetano que são monstros da modalidade, um Marco Reis que fez esta época a sua melhor de sempre depois de em alguns meandros do futsal ter sido dado como acabado, de um Cristiano ter finalmente revelado o gigante que é, dos melhores guarda-redes a nível nacional e um guarda-redes de selecção, de um Carlo que foi uma surpresa para toda a gente, um guarda-redes de extrema qualidade que em nada fica a dever ao Cristiano, mas também jogadores que ninguém conhecia como o Nuno Monteiro que vem connosco desde o princípio e que foi para muitos, não para nós, uma surpresa para a modalidade, de um jogador ex-júnior com grandes tempos de utilização como o Ricardo Cardita, que estando ainda numa fase de terminal da sua formação foi muito importante e muito útil, é um atleta que precisa de aprender muito, que tem de continuar a ter a humildade de aprender e de querer aprender, mas que terá sido também uma surpresa para muita gente, outro atleta, quem é que conhecia o Hugo Simões a não ser as pessoas intimamente ligadas ao futsal profundo? E quando digo profundo, falo inclusivamente a nível de distritais, foi talvez uma surpresa para muita gente, mas hoje já é reconhecida a sua classe de batedor de livres de 10 metros, a sua utilidade defensiva, a sua utilidade táctica. Houve também outros jogadores que se revelaram mas não tenho qualquer tipo de dúvidas nenhumas que estes jogadores do Belenenses foram muito observados pelas outras equipas e é um handicap que teremos para o próximo ano, porque já não somos uma surpresa, as pessoas já conhecem o nosso valor e vão estar preparadas e vão olhar para o Belenenses com mais respeito ainda do que este ano.


Blog: Tens algo a acrescentar sobre os atletas, nomeadamente aqueles menos utilizados?

Nuno Lopes
: Já disse tudo acerca desse tipo de situações, se foram muito ou pouco utilizados é porque a equipa técnica assim o entendeu. Faço-me valer destas palavras para todos os jogadores deste plantel. A equipa técnica decidiu e os resultados estão à vista, decidiu da forma como achou melhor, os resultados foram bons, os jogadores que tiveram menos tempo de utilização foi porque a equipa técnica achou que em função das suas prestações em treinos e jogos, eram atletas que lhes ofereciam menos garantias de bons resultados. A equipa técnica é soberana nessa situação e em todas as que dizem respeito à gestão do plantel, nunca houve por parte da direcção qualquer interferência no trabalho da equipa técnica e se houve atletas com menor rendimento, haverá que apelar a vários factores para se puder descobrir o porquê.


Blog: O Pedro Serra, que acabou por ser emprestado, foi um jogador seguido pelo clube?

Nuno Lopes
: Sim. O Pedro Serra foi emprestado ao NS Tires porque em função da sua menor utilização, ao invés de querer ficar e trabalhar mais, mais, mais e mais para puder procurar o seu lugar que haveria de ser merecidamente seu se tivesse cá ficado, esperado e lutado pela sua vez. Mas preferiu sair. Obviamente que foi observado, tirámos as nossas ilações e a decisão que irá ser tomada juntamente com todas as referentes aos outros atletas será brevemente revelado a público. Posso acrescentar que o Serrinha saiu por motivos semelhantes, com a entrada de um novo jogador, e volto a frisar que não houve troca de jogadores, não trocámos o Serrinha pelo Hugo Simões; devido à entrada do Hugo Simões no plantel e como o Serrinha não estava a ser utilizado com a regularidade que ele queria, entendeu sair para puder ser útil e fazer aquilo que gosta, que é jogar, foi perfeitamente entendido pela equipa técnica e pelo clube, trabalhou, lutou muito, subiu de divisão e o seu actual clube, o Odivelas só tem de agradecer ao Serrinha e aos seus jogadores porque em boa hora integrou o grupo de trabalho e conseguiu a subida de divisão, que foi muito importante para o Odivelas. Tudo de bom para o Serrinha porque ele merece.


Blog: Queres falar de mais algum assunto que não tenha sido abordado ainda?

Nuno Lopes
: Quero essencialmente agradecer aos adeptos toda a força que foi dada e se muitas vezes estes jogadores estavam no limiar das suas forças físicas, iam sempre buscar uma bolsa de oxigénio ao adeptos devido ao apoio. Eu quero lembrar que em casa a equipa do Belenenses foi quase sempre superior a todas as outras, melhores resultados que o Belenenses em casa apenas algumas equipas profissionais e isso é elucidativo, quer da nossa boa prestação mas também da importância que o nosso público tem.

É para os adeptos que este clube existe, este clube é um clube de associados e só existe porque os tem e todos os resultados desportivos que se querem positivos, são em 1º lugar para os adeptos. Este é um clube com um historial muito grande, com valores muito importantes, com pergaminhos que têm de ser respeitados e que importa dignificar e qualquer equipa que entre, e essa foi sempre a nossa postura, com esta camisola vestida terá sempre de dignificar tudo aquilo que disse atrás. Isto foi feito pelo nosso grupo de trabalho ao longo destes três anos. Mas houve sempre uma retribuição muito grande por parte dos adeptos e eu não me posso esquecer disso e fica aqui um agradecimento com a promessa de sempre, enquanto este grupo de trabalho tiver estas características, que em qualquer pavilhão que entre o futsal do Belenenses entra sempre para ganhar, pelo clube, pelo grupo de trabalho e muito especialmente pelos adeptos, que merecem tudo.

Não esqueço o apoio que sempre foi dado pela direcção do clube quer pelo seu actual Presidente e restante direcção como pela direcção anterior, não posso esquecer nunca do apoio dado por todos os funcionários do clube a quem eu tenho muito que agradecer e com quem muito aprendi, não posso esquecer de todos os outros seccionistas das diversas modalidades que sempre colaboraram com esta secção em tudo e foram sempre inexcedíveis, não posso esquecer de muita gente do mundo do futsal que sempre ajudou o Belenenses e que tem hoje pelo Belenenses um respeito enorme e essencialmente não me posso esquecer do grupo de trabalho, por isso a minha última palavra é sempre o meu muito obrigado a todos os grupos de trabalho que estiveram cá durante estes três anos, aos meus meninos dos juniores que foram fantásticos e é para todos aqueles que me acompanharam neste ciclo de três anos que vai o meu agradecimento.

Um abraço muito especial ao Filipe Bernardino, que nos acompanhou desde a 1ª hora.

Sem comentários: