quarta-feira, setembro 20, 2006

Escrever Direito: A Inversão da Culpa

Diogo M.

Li algures o presidente do Gil Vicente fazer, de forma encapotada como é seu hábito, uma espécie de pressão sobre aqueles a quem incumbe o poder de decidir, tentando sensibilizá-los para as dificuldades por que estarão a passar os profissionais do seu clube. Parece que os jogadores e respectivas famílias atravessam, agora, um período difícil das suas sobressaltadas vidas. A eles, porque alheios ao que se está a passar e credores de todo o meu respeito, endosso a minha solidariedade e o meu pesar pelo facto de lhes estar a ser vedado um dos direitos mais básicos do ser humano, qual seja, o direito ao trabalho e, em alguns casos, a possibilidade de garantir o sustento da família.

Não podemos, no entanto e na tentativa de apontar os culpados desta situação, escamotear os factos e disparar à toa sobre aqueles que menos culpas no cartório têm. A responsabilidade de todo o futebol amador do Gil Vicente estar suspenso não é dos Tribunais. Tal como não é do Belenenses. Tal como não é da Académica ou do Vitória de Setúbal. Tal como não é nem dos políticos ou das leis que estes fizeram, nem das organizações internacionais ou dos seus regulamentos. Nem sequer é da cabala! Aliás…cabala…o que é uma cabala? Não será antes uma cavala? Ou melhor…um cavalo? Não faria melhor o Sr. Presidente do Gil Vicente se se montasse num e deixasse em paz quem tem umas quantas bocas para sustentar?

Os factos são simples, inequívocos e pouco há a dizer neste caso. Houve uns quantos clubes que, querendo a) participar em competições nacionais e internacionais de futebol e b) formar uma “associação” internacional e outras a nível nacional que fossem responsáveis pela gestão , organização e regulamentação de tais competições, decidiram instituir um conjunto de regras, imperativas para si próprios. Depois, houve uns quantos senhores (não confundir com o clube como um todo) que, sabendo das sanções que daí podiam advir, decidiu quebrar tais regras e, colocando em risco um clube e uma cidade, desafiou tudo e todos, numa guerra que, à partida, estava perdida. Pelo menos no que respeita à tentativa de não aplicação das regras por eles próprios referendadas. A questão de uma eventual ilegalidade - ainda que ela só exista nalgumas mentes mais perversas – vem depois.

A violação de tais regras constitui, não só uma traição aos demais membros mas, igualmente e neste caso, ao próprio povo de Barcelos. A sanção toda a gente sabia qual era, tal como se sabia que a mesma, muito provavelmente, iria mesmo ser aplicada.

Que não venham agora, que estamos na eminência de uma decisão judicial, ainda que preparatória ou meramente adjectiva, invocar falsas moralidades, na tentativa de induzir o julgador num sentido mais…chamemos-lhe poético. Primeiro, porque é de uma inaceitável cobardia e, depois, porque o julgador está, espera-se, imune a tais pressões psicológicas.

De nada adianta tentarem culpar-nos de estarmos a deixar pessoas na miséria, à beira do precipício. A verdadeira pobreza está nas mentes das pessoas que governam o futebol naquela cidade e que são os únicos que têm nas mãos o poder para resolver, já e a bem, esta contenda. Eles são os mentores desta lide. O mal está feito, não adianta pretenderem transportá-lo para quem para ele não contribuiu. O mínimo que se lhes exige é a assunção do erro cometido. Não desculpa mas atenua a responsabilidade.

E de uma coisa não podem acusar ninguém… é de não terem sido bem avisados das consequências.

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