segunda-feira, maio 28, 2007

Carta aberta ao Presidente Cabral Ferreira

R Vasco

Texto publicado no Blog de Rugby do Belenenses, BELENENSES XV.

Meu querido amigo Cabral Ferreira,

Antes das eleições que o reelegeram presidente do Clube de Futebol «os Belenenses» evitei pronunciar-me acerca das listas e dos programas, e sobretudo recusei-me a publicitar o meu apoio a qualquer uma das três listas concorrentes.

Acredite que cheguei a ponderar, com franqueza, votar em branco ou – pior – anular o meu voto. Mas não o fiz. Pela primeira vez vou confessar abertamente que foi em si que votei, e aquilo que pode parecer óbvio para muitos não o seria que tivessem tido a oportunidade de «entrar na minha cabeça» nos dias que antecederam a assembleia electiva.

O Cabral Ferreira foi reeleito com larguíssima margem – por muito que isso custa admitir aos seus mais abertos opositores – e isso apenas representa uma muito maior responsabilidade. Desejo-lhe muito boa sorte, e sabe que pode contar comigo para as tarefas habituais. Aliás, a minha colaboração com o clube é, sempre, isso mesmo: uma colaboração com o Belenenses, muito mais do que com as pessoas que o dirigem.

Estou certo de que o dia de ontem terá sido um dia de grande orgulho para si, como para muitos outros Belenenses. A nossa equipa profissional de Futebol esteve em grande, num palco maior da modalidade, com milhares e milhares de sócios e adeptos do clube a puxarem por ela de forma incansável. Sei que estava feliz pois tive a oportunidade de o cumprimentar, e a felicidade é coisa que se vê nos olhos de uma pessoa. Os seus não enganavam.

Infelizmente a Taça fugiu-nos... Mas a minha preocupação é outra: não podemos deixar fugir também toda aquela multidão azul – constituída sobretudo por gente nova, muitos dos quais a apoiar o Belém ao vivo pela primeira vez, ou perto disso! –, que mostrou ao país que o Belenenses está longe – muito longe! – de ser um «clube de velhos».

O Belém é um histórico, todos o sabemos. Mais é mais que isso: é um clube cheio de futuro!

Ontem andei pelo meio da multidão anónima, como eu, e senti algo de extraordinário: as pessoas estão desejosas que o clube as chame... e que as chame à paixão de ser Belenenses, com tudo o que isso implica!

O caríssimo Presidente saberá o que é ser Belenenses pelo menos tão bem quanto eu, mas para que não fiquem dúvidas para quem nos lê direi que em traços gerais o belenensismo se caracteriza por:

- uma noção cavalheiresca de desportivismo, já caída em desuso neste contexto do desporto-negócio que tantos nos querem impor;

- uma vontade de ganhar que supera todas as (históricas) dificuldades com que se deparam todas as equipas de todos os escalões e modalidades do nosso clube. Não devemos NADA a ninguém, muito pelo contrário...

- por um sentimento de viva e autêntica resistência ao monopólio dos clubes do costume, levados a colo pela indústria que tanto promove o tal «desporto-negócio»;

- por um sentimento de genuíno serviço ao desporto nacional e à cidade de Lisboa, da qual somos «a capital» (ideia de «Belém, capital da capital»);

- por um sentimento verdadeiramente «bairrista», no seu sentido mais positivo, tão bem descrito por Homero Serpa em vários dos seus textos;

- por uma rivalidade intensa, vivida e expressa em campo com os nossos dois maiores rivais no plano da cidade e do país: o Benfica e o Sporting.

É através destes elementos de união que, na minha opinião, se deve avançar no sentido do reforço associativo, tendo como objectivo fundamental não apenas o aumento do número de associados mas sobretudo o aumento da QUALIDADE dos associados. E atenção: aqui o termo qualidade não se aplica naturalmente a cada uma das pessoas sócias do Belenenses mas antes à sua vivência dessa condição. Quero dizer: interessa-me bem mais ter um sócio que é belenense, do que um sócio que apenas usa o cartão para ter acesso a um qualquer serviço prestado pelo clube.

O Belém terá de abandonar RAPIDAMENTE essa ideia peregrina (e muito recente...) de querer partilhar os seus sucessos com os seus mais directos rivais... Passa pela cabeça de algum verdadeiro belenense querer encher o nosso estádio de benfiquistas e sportinguistas para alcançar uma posição entre os 4 primeiros da tabela da Liga de Futebol? Passa pela cabeça de algum verdadeiro belenense convidar os adeptos do nosso mais directo rival – o Benfica – para comemorar connosco uma hipotética vitória NOSSA sobre o Sporting?

Penso que não. Aliás, penso que não passará seguramente pela sua!

O Belém precisa de atrair mais gente, é um facto... Mas não de atrair gente a todo o custo, vendendo a sua alma e os seus históricos valores (e práticas) de resistência contra aqueles que sempre fizeram tudo ao seu alcance para o riscar do mapa.

O Belém existe porque SEMPRE RESISTIU e não porque se aliou – na realidade ou mesmo na aparência – aos clubes-eucalipto da cidade...

Os milhares que vi ontem, com quem comi, gritei e até chorei querem um Belenenses altivo, resistente, bairrista, rival dos nossos rivais! Querem um Belém que se afirme pelos seus valores próprios, e que coloque o seu bonito «azul do mar como o passado, e azul do céu como o futuro» acima de todas as outras cores, que certamente nos merecem respeito, mas NUNCA qualquer tipo de aliança.

Acredito que o meu caro Presidente saberá ler o sentimento da multidão anónima que ontem deu vida à ideia Belenenses, deu vida e expressão prática ao sonho dos rapazes da praia. Estou certo de que elegerá como prioridade número 1 da Direcção que preside o reforço associativo genuíno e impregnado de mística de que o nosso clube necessita!

Conte sempre comigo para ajudar a fazer crescer o meu clube de sempre e para sempre, o meu querido Clube de Futebol «os Belenenses». A bem do Clube, do seu Futebol, do seu Rugby... de todas as suas modalidades.

Viva o Belenenses,
28 de Maio de 2007

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