sexta-feira, fevereiro 22, 2008

O «REGRESSO» DE MATATEU




EPISÓDIO #6: O «REGRESSO» DE MATATEU

Na temporada de 1966/67 o Belenenses atravessava a sua maior crise de sempre. A equipa de futebol, habituada a lutar pelos lugares cimeiros, tinha-se consideravelmente desvalorizado e lutava agora pela manutenção. A crise económica era alarmante e discutia-se acaloradamente o rumo a seguir. O extraordinário Vicente tinha interrompido a carreira fruto de um dramático acidente de viação e o seu mítico irmão Matateu jogava agora no Atlético. Os adeptos ansiavam por um novo Matateu que devolvesse as tardes de glória.

No início de 1967 teve lugar uma festa de homenagem a Vicente, um dos heróis nacionais após a fabulosa campanha da selecção nacional no campeonato do mundo de 1966, e um dos melhores jogadores de sempre do Belenenses.

A festa no Restelo contou com a realização de um Benfica - Sporting e de um Belenenses - Atlético.

Belenenses,MatateuUma das grandes curiosidades era o «regresso» de Matateu ao Restelo, agora como adversário, após ter saído do clube em 1963 e de muito ter contribuído para a subida do Atlético à 1ª divisão na época anterior.

As equipas alinharam:

BELENENSES
José Pereira; Bernardino, Rodrigues (cap.), Murça e Alberto Luís;
Canário e Da Silva;
Alfredo, Simões, Ivair (Portuguesa de Desportos) e Godinho.


ATLÉTICO
Ramin; Valdemar, João Carlos, Candeias(cap.) e Roxo;
Fagundes, Angeja e Vicente;
Seminário, Cravo e Matateu.

O genial Matateu, apesar dos seus 39 (!) anos, não defraudou o público e apontou dois dos três golos do Atlético, embora o Belenenses tivesse vencido por 4-3 e tivesse contado com a ajuda de um craque brasileiro chamado Ivair que aqui veio propositadamente para participar na festa tendo feito dois golos e dado «show».

Eis como Cruz dos Santos de «A Bola» descreveu os dois golos de Matateu:

" Aos 33 minutos o Atlético fez o 2-2. Em lance onde revelou grande poder físico, Cravo esgueirou-se a Murça pela direita, centrou raso e com força. A saída de José Pereira não bastou para o corte e, surgindo na meia-esquerda, MATATEU empurrou o esférico para as malhas".

" Aos 63 minutos os forasteiros reduziram para 4-3. Já dentro da grande área belenense, MATATEU quis furar, mas, não o conseguindo, acabou por deixar a bola na posse de Seminário, que acorrera e logo o serviu um pouco mais para a esquerda. Rápido o moçambicano furou mesmo e, embora muito apertado, ainda arranjou forma de disparar rasteiro e com força fazendo passar o esférico entre o poste mais próximo e o corpo de José Pereira".

Não deixa de ser curioso que após tantos anos de glória juntos, Matateu ainda tenha vindo ao Restelo marcar dois golos ao «Pássaro Azul»!

Cerca de um mês mais tarde Matateu viria de novo ao Restelo defrontar o seu clube de sempre mas desta vez em partida oficial para o campeonato.

Em 19 de Março de 1967, num dos primeiros jogos que vi no Restelo e na única vez que vi jogar Matateu, as equipas alinharam:

BELENENSES
Gomes; Rodrigues (cap.), Quaresma, Cardoso e Bernardino;
Canário e Adelino;
Quim, Ramos, Simões e Fernando.

ATLÉTICO
Ramin; Américo, João Carlos, Candeias (cap.) e Valdemar;
Seminário e Angeja;
Tito, Matateu, Cravo e Rafael.

O Belenenses tinha sempre dificuldades com o Atlético devido à rivalidade e proximidade, mas nesse dia, com apenas 9 anos de idade, fiquei maravilhado com os 7-1!

Belenenses
Até os defesas atacaram!

Desta vez Matateu já não conseguiu brilhar e o Belenenses com esta vitória afastou-se decisivamente dos lugares de descida tendo ainda assim obtido a sua pior classificação de sempre até aquela altura, 11º. Ramos fez 4 golos, Fernando 2, e Adelino 1.

Ainda assim na sua derradeira despedida oficial do Restelo como jogador, o que para muitos terá sido o melhor jogador português de todos os tempos, à beira dos 40 anos, deixou a sua marca no único golo do Atlético: "Numa deixa inteligente de MATATEU e à qual Cravo correspondeu do melhor modo rodando e acertando bem com o pé esquerdo
na bola no ar".

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