sexta-feira, abril 04, 2008

ESPLENDOR NO JAMOR



EPISÓDIO #12: ESPLENDOR NO JAMOR

Como ficou patente nos últimos dois «episódios», o Belenenses encontrava-se em grande forma no final da época de 1959/60. Nessa temporada tinha começado por vencer a Taça de Honra da AFL, ao bater o Benfica na final por 5-0. No campeonato terminaria em 3º lugar, infligindo na última jornada, a única derrota ao Benfica.

Na Taça de Portugal, defrontaram-se os «quatro grandes», em duas mãos, nas meias-finais. O Belenenses eliminou o Porto, e o Sporting eliminou o Benfica.

No dia 3 de Junho de 1960, cerca de 50.000 pessoas deslocaram-se ao Jamor para assistir à final da Taça de Portugal , onde depararam com o «esplendor na relva» de um grande jogo e de uma brilhante vitória dos «azuis».

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A equipa vencedora da Taça

BELENENSES
José Pereira; Rosendo e Moreira; Vicente, Pires e Castro;
Yauca, Carvalho, Tonho, Matateu e Estevão.


SPORTING
Octávio de Sá; Lino e Hilário; Mendes, Lúcio e Júlio;
Hugo, Faustino, Vadinho, Diego e Seminário.

O Belenenses "pegou" no jogo logo desde o início, e aos dez minutos já tinha perdido duas flagrantes oportunidades de golo. Numa delas, Tonho rematou à trave.

A estratégia consistia na marcação e antecipação, no corte ao abastecimento ao ataque do Sporting. Vicente marcava Diego, Tonho marcava Mendes, Castro/Faustino e Carvalho não perdia Faustino de vista.

Apesar de tudo, contra a corrente de jogo, o Sporting inaugurou o marcador por intermédio de DIEGO, num remate sem preparação à entrada da área, na sequencia de um cruzamento. No minuto seguinte, Tonho isolado falha o empate.

Os azuis desuniram-se durante algum tempo, acusando o golo, mas logo depois voltaram a reencontrar o ritmo, a readquirir o domínio do jogo, redobrando as iniciativas através do aprofundamento de jogadas de ataque. Sempre com a bola rente ao solo, em belas e sucessivas triangulações.

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O golo da vitória

Aos 32 minutos, Rosendo marca um livre a meio do meio campo do Sporting. Yauca capta a bola e remata, com o guarda redes leonino a defender à queima mas sem segurar a bola, que sobra para a recarga de CARVALHO para a baliza deserta, fazendo o empate.

Matateu, perde o 2-1, ao demorar excessivamente o remate. «Ouvi o Yauca a gritar-me, -Chuta já, Matateu!, mas decidi correr com a bola na direcção da baliza para atirar pela certa, mas descaí para a esquerda. Tentei emendar a posição e, entretanto, apareceu o Lúcio».

O intervalo chegou com o resultado num empate a 1-1. O treinador do Belenenses, Otto Glória, animava Matateu, após o falhanço pouco habitual nele, «Deixe, Lucas, você vai marcar o golo da vitória...».

O Sporting reentra melhor, e tenta alcançar a vantagem, mas, cumprindo a profecia de Otto, o genial Matateu desta vez não falha o 2-1, após uma jogada semelhante à do primeiro golo, em que Estevão passa para Yauca que remata, Octávio de Sá defende, e o moçambicano faz o golo.

«A verdade é que quando me voltei para o campo, depois de ver a bola tocar lá no fundo, nas redes, vi o meu treinador de braços abertos. Pensei assim: aquele abraço é para mim!».

Até ao final do jogo, o Belenenses não parou de atacar e criar situações de golo, mas a bola teimou em não voltar a entrar.

Após o apito final do árbitro, a alegria entre os jogadores e adeptos do Belenenses, era indescritível. O clube ganhava a sua segunda taça de Portugal, após a vitória de 1942 frente ao V.Guimarães, após o título de Campeão Nacional, catorze anos antes, e cinco anos após a inglória perdida do segundo título de campeão frente ao mesmo Sporting.

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Vicente exibe a Taça

José Pereira: «Estava seco do calor e do nervoso. Parecia-me que cada minuto era uma hora. Já não aguentava mais!».

Após o jogo, nesse domingo à tarde, o autocarro do clube com os jogadores e equipa técnica, dirigiu-se a Belém, onde os jogadores foram festejar rodeados de muitos adeptos em euforia. Vicente saiu do autocarro com a taça na mão, e toda a equipa deu voltas à estátua de Afonso de Albuquerque, junto ao preciso local onde o clube foi fundado, num banco de jardim, numa noite de Setembro de 1919.

Logo em seguida todos se dirigiram em romaria, subindo a Rua dos Jerónimos em grande engarrafamento, até ao Estádio do Restelo, onde os festejos continuaram.

Toda a imprensa e comentadores independentes, salientaram a justiça do triunfo. No dia seguinte, o título de "A Bola" na primeira página era, «Não podia ser outro, o vencedor».

Choveram telegramas de felicitações de todo o país, com particular destaque, pela quantidade, para a região de Aveiro.

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Otto Glória com a Taça

Uma semana depois ainda reinava a euforia, e o mítico Matateu, disse numa entrevista: «Hei-de ficar na história como Stanley Matthews (o grande jogador inglês dos anos 50, que terminou a carreira com mais de 50 anos de idade!). Quero jogar mais cinco anos (Matateu tinha 33, na altura), e se, entretanto, o Belenenses não ganhar um campeonato, jogo mais cinco!».

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